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quinta-feira, 25 de junho de 2020

EDITORIAL: MERITOCRACIA - JUDAÍSMO - SOBREVIVÊNCIA



Mérito de cada indivíduo - Empodera a Sociedade


Escrever um texto semanal, há mais de três anos, para alguém que ama falar, ler e pensar, mas que foi treinada para escrever textos científicos, baseados em dados laboratoriais, avaliados por metodologia estatística ou de modelagens formais e comparados de forma sistematizada com a literatura existente, constitui uma grande aventura. Um desafio.


O tema é restrito e amplo ao mesmo tempo, pois os métodos de deslegitimar o moderno Estado de Israel ou o Povo Judeu em geral são focados em um objetivo, mas vão adquirindo nuances para cada momento presente. A abordagem, na maioria das vezes, foi destacar o positivo da situação, sempre tendo em mente qual a razão de, apesar de todas as formas de silenciamento e de aniquilação, o Povo Judeu seguir em frente. Um povo sem característica étnica, que é unido por princípios de vida e por rotinas diárias que, apesar de parecerem rígidas, foram se adaptando ao longo dos séculos.


Assim, qual o tema a ser abordado cada semana? Esta escolha se torna ainda mais difícil em tempos de pandemia porque não há interesse em reverberar  notícias falsas ou temas gerenciados por interesses ocultos. 


Hoje vou abrir uma exceção e entrar em um tema que vem sendo dicotomizado e deslegitimado pelas esquerdas e direitas (todas donas de suas verdades). Por aqueles que pregam a "racialização" da cultura e os que pregam a "cientificação" de pseudofatos e pseudoverdades:




A MERITOCRACIA.


O termo Meritocracia, neologismo — do latim mereo ('ser digno, merecer') e do grego antigo  κράτος, transl. krátos ('força, poder') — estabelece uma ligação direta entre mérito e poder e foi criado por Michael Young em seu livro "The Rise of the Meritocracy, (1958, https://pt.wikipedia.org/wiki/Meritocracia). 


A palavra carrega um conceito negativo porque está baseada no mérito de cada indivíduo sem levar em consideração a sua origem e, portanto, as vantagens e desvantagens que seu grupamento social possa impor em seu desempenho. 

E a palavra também carrega um conceito positivo porque muitos entendem que o lugar que cada um alcança na sociedade deve ser correspondente ao mérito do indivíduo e não herdado de forma arbitrária.

Esta discussão será estéril se não houver na sociedade em questão formas de premiar, via o mérito, indivíduos com habilidades inatas diferentes. Portanto, a definição dos objetivos a serem alcançados por cada indivíduo é diferente em uma sociedade que premia o EU SOU ao invés do EU POSSO. Em que premia o objetivo único ao invés da multiplicidade de objetivos.

A meritocracia, portanto, não é um problema em si, mas sim a forma como a sociedade vê o sucesso. Desde os tempos bíblicos a importância das capacidades de cada indivíduo para empoderar a sociedade é valorizada.


Na própria Torah, quando tem que ser construído o Michcan, a Tenda em que será abrigada a Arca Sagrada, as atribuições são dadas a um artista - Betzalel - e fica muito claro que ele estava habilitado para esta função. As habilidades artísticas e não as intelectuais são valorizadas. Continuando na mesma toada, há muitas passagens que valorizam mulheres, como Débora a juíza, ou mesmo mostram que algumas disfunções orgânicas podem ser suplantadas. O caso mais notório é de Moisés, que tinha dificuldade de fala.


Ao longo dos milênios a valorização do mérito para empoderar funções continua. Esta semana, publicamos um lindo vídeo que mostra os judeus na música. Todos os tipos de música, todos os idiomas e instrumentos e agradando a diferentes tipos de públicos. A valorização do indivíduo faz com que a sociedade se torne plural e diversa. A valorização de uma característica, individual ou grupal, faz com que se perca diversidade.


Finalmente, chegamos ao Estado de Israel. Correndo o risco de me tornar repetitiva, vou lembrar do Exército de Defesa de Israel. Considerado um dos exércitos de maior sucesso no mundo, ele tem a característica de ser formado por todos os cidadãos israelenses. Nesta corporação a meritocracia é essencial para que possa haver bons resultados. É por isso que todos os cidadãos, inclusive aqueles com dificuldades físicas ou que tenham limites definidos nas áreas cognitivas são incorporados. Brancos, negros, judeus, árabes, cristãos, mulçumanos, beduínos, caraítas, etc... israelenses com diferentes rótulos são incorporados. A meritocracia é a base para a incorporação. Um caso muito interessante, que já foi abordado na EshTá na Mídia é a incorporação dos autistas, que, por mérito, ganharam o poder de vigiar os céus de Israel.


MERITOCRACIA - se soubermos usar haverá espaço para todos os cidadãos, porque cada um tem sua capacidade própria. E, neste contexto, lançamos um desafio maior. Como devemos avaliar o mérito? Será que este deve ser avaliado?


No "Você Sabia?" desta semana nossa colaboradora Itanira Heineberg traz pontos interessantes sobre a reza "Shemá Israel" - "Ouve Israel"- base da liturgia do judaísmo. Vale a leitura! E vale lembrar que esta frase, dita pelos filhos de Israel (Jacob) em seu leito de morte, foi a confirmação que eles seguiriam a trilha iniciada pelo avô de Jacob. E, que dali para a frente haveria uma expansão da Casa de Israel até chegar ao tempo em que seriam transformados no Povo de Israel. Lembrando, Israel é o segundo nome de Jacob. Nesta base litúrgica está contido o conceito da meritocracia - Os filhos falaram para Jacob - e esta fala serviu para todo um Povo - Falando para UM devemos falar com TODOS - o mérito de cada um empodera não apenas o indivíduo, mas principalmente o coletivo.


Querer desmerecer a meritocracia, de forma a fazer com que todos cheguem a um objetivo único, acaba com a pluralidade, com a diversidade e com a capacidade de superar o inesperado.


Boa semana!


Regina P Markus



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