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quinta-feira, 18 de junho de 2020

EDITORIAL - Vive la Difference: CERTO X ERRADO


O mundo em branco e preto: 
   posições radicais implicam em que um esteja certo e o outro errado!
O mundo colorido:
  há uma quantidade infinita de possibilidades e de opções.



PENSAR NOS FAZ DIFERENTES!



Quem está certo e quem errado? 

Vamos acabar com estátuas de líderes do passado - vamos reescrever a história? Estamos vivendo no Brasil e no mundo um momento em que grupos creem ter razão, e se isto for verdade, o que o outro pensa está automaticamente errado. No dia 16 de junho deste ano, José Augusto Guilhon Albuquerque, professor titular da USP, publicou um texto no Estadão sobre o diálogo com os adversários e a tolerâncias das divergências. Dois posicionamentos que se tornam cada vez mais difíceis de serem encontrados nos dias de hoje. Muitos pensam que se estou do lado A, assumo tudo deste lado e rejeito qualquer opinião do lado oposto. Aberrações como "verdade científica", ou "provado cientificamente" são encontradas em muitos textos - até de pessoas com imensa capacidade crítica. Ciência não prova nem confirma!

Estes dias em que no Brasil há nitidamente dois lados, e em que um liga-se a Israel por sua relevância para as religiões monoteístas, o outro aparece com bandeiras da autoridade Palestina - e tem amigos que acham natural - porque um lado é o oposto do outro. Estes são amigos brasileiros - porque quando vamos para os israelenses, que são compostos por judeus, cristãos e mulçumanos, há a certeza de que os temas têm que ser debatidos. Deixa esclarecer, refiro-me a pessoas do dia a dia e não de líderes religiosos. Como é difícil falar sem rótulos!

No mesmo dia 16 de junho havia uma discussão sobre atos de vandalismo contra estátuas antigas porque as pessoas quando vivas tinham colaborado para desencadear o racismo. Nesta onda, cheia de racismo, foi derrubada a estátua de Cristóvão Colombo, porque seus feitos permitiram atos de racismo contra o índio americano. Mas, ao mesmo tempo, há ruas em homenagem a terroristas, cujo grande feito foi matar um ônibus cheio de crianças.

Quem está certo e quem errado? Onde está a verdade? É preciso estar certo ou estar errado? Esta semana postamos várias matérias que giram ao redor da temática de racismo, como esta homenagem a George Floyd feita pelo grupo judaico Maccabeats. Mas aqui neste editorial gostaria de comentar como os judeus tratam do contexto "divergência".

Há dois mil anos, na era talmúdica, na Galiléia, existiam duas escolas com características muito diferentes. A Escola de  Shamai (50 aEC - 30 dEC) e a Escola de  Hillel (60 aEC a 9 dEC). Estas eram duas escolas divergentes. Hillel era muito pobre e sua escola não cobrava taxas. Talmudistas, estavam construindo as bases da Mishná, o conjunto de escritos que seria a base para que o Povo Judeu continuasse vivo após a perda do Reino de Israel em 70 dEC. A Casa de Shamai apresentava opiniões muito bem consolidadas, e nunca tinha espaço para opiniões divergentes, que eram consideradas erradas. A Casa de Hillel sempre refletia todos os pensamentos da época e de forma especial os da Casa de Shamai, com os quais, na maioria das vezes, não concordava. Conta o Midrash que quando D'us avaliou quais os ensinamentos deveriam compor a Mishná, foi escolhida a Casa de Hillel, porque apesar de menos elaborados, nunca deixavam de apresentar todos os argumentos com os quais discordavam, e portanto, seus discípulos tinham a oportunidade de pensar, cada um por conta própria e não de agir como seguidores de um mestre.

Sim, estamos em tempos de radicalismos e precisamos, apesar de nossas verdades, ser capazes de apreciar as verdades dos outros. Apesar de muitos se vestirem como verdadeiros atores para serem reconhecidos pelos seus adereços e penteados, ou falta deles, é a capacidade de interação e do respeito à opinião alheia que conta.

Li o artigo no dia 16 de junho - dia muito especial na Irlanda de 1904 - um dia de ficção em que é criada a vida do judeu Leopold Bloom. Sim, todos já estão lembrando do grande livro de James Joyce que retrata o judeu como "um qualquer", forte e fraco, cheio de cuidados e ao mesmo tempo ousado. Por que era judeu? Neste caso traz o estereótipo do excluído, presente. Daquele que a história apagou tantas vezes - e, este foi o dia 16 de junho de 1904!

Se começamos com o Certo x Errado, seria ótimo acabar com o DIFERENTE - DIVERSO -  ÚNICO.
Que aprendamos que cada um de nós é único e que só haverá sociedade com equidade, se houver o respeito ao indivíduo e às opiniões divergentes.

Um boa semana a todos!

Regina P. Markus


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