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sexta-feira, 12 de março de 2021

EDITORIAL: História do Judaísmo – uma narrativa de continuidade


A busca de material para escrever a cada semana é um jogo excitante. Um jogo que ocupa alguma região oculta do cérebro que vai prestando atenção em tudo que acontece e, de repente, resolve abrir um caminho para que possa ser escutado.

Nestes tempos de pandemia há tantas coisas super interessantes acontecendo que facilita muito este processo, mas esta semana o Dia Internacional da Mulher trouxe uma perspectiva nova. Não deixa de ser uma perspectiva parcial, pois tenta olhar o mundo através das mulheres. Na maioria dos relatos apenas os "muitos lados negativos" são enfatizados. Em outros relatos também separatistas são cantadas as vitórias dos movimentos feministas. Nestes dois contextos o que se projeta para o futuro é a continuidade da luta. Uma luta permanente... Será esta a mensagem que queremos? Um balanço, um acerto de contas? 

Com estas dúvidas em mente, leio o "Você Sabia" novamente, e percebo que no final está resumido o que quero desenvolver. Leiam com atenção a história de como se deve buscar os muitos lados da própria história - e que ao contar sobre o holocausto, nesta oportunidade foram dadas cores e vida ao grande número de pessoas comuns ou com poder, que auxiliaram a impedir que o desejo de extinguir o povo judeu no século XX fosse levado a termo. Mais que isso, lá podemos sentir como o que cada um faz é importante para moldar o futuro.

Este gancho leva à reflexão sobre "narrativa de continuidade". Como poderemos dissecar esta narrativa, chegar ao seu âmago, conhecer o esqueleto, o coração, a sua fonte de energia e como é coordenada. Como cada um de seus elementos operam.

Sim, podemos levantar muitas questões para chegar a um conjunto de fatores que permitam entender como um grupo tão pequeno e diverso de pessoas pode percorrer milênios de história contínua sem perder algumas características básicas.

Nesta semana da mulher em que tanto se fala de diversidade e de oportunidades, uma das primeiras respostas que podem ser dadas é o conviver com a diversidade. Hoje já não há dúvida que existem judeus de todas as raças e que todos mantém um fio condutor. Será ele a religião? Certamente não é a religião como pensada pela maioria das pessoas que vivem neste Brasil. É algo mais que seguir rituais e frequentar casas de oração.

Se olharmos os detalhes de comandos e leis é fácil identificar prescrições e  demandas.  Mas,  quando comparamos um judeu europeu do leste e do oeste, judeus africanos, iemenitas, iraquianos ou persas, com judeus da China e do Brasil, certamente muitos costumes e  demandas são diferentes.

"Narrativa de continuidade" é algo que deve transcender o tempo e as culturas. O meio ambiente e o meio cultural. É algo que deve focar na união entre o passado e o futuro, de forma a permitir que o presente possa servir de aprendizado e não de perda da vontade. E chegamos ao ponto chave: a EDUCAÇÃO e a FORMAÇÃO de mentes livres é uma das mais preciosas heranças que deixamos para as gerações seguintes.

O Talmud, um conjunto de livros escritos por 11 séculos, é uma coletânea de perguntas que foram sendo respondidas ao longo do tempo. É organizado de acordo com as questões e não de acordo com os muitos períodos que cobre.

Sinagoga em íidish é Schule (Schil) - escola! - Este é um espaço de estudo! E para se estudar o comum é escutar as questões levantadas pelos alunos. É conhecida a contribuição dos judeus para as ciências. Perguntar e responder faz parte deste contexto e, de uma forma muito clara, ser responsável um pelo outro. 

A última foto da imagem acima mostra uma jovem etíope fazendo Bat Mitsvá em Israel. Uma forma de integração das mulheres que há mais de 100 anos ocorre entre os judeus reformistas e conservadores. Mas, se olharmos entre os ortodoxos, já vemos uma quantidade muito grande de grupos que integram as mulheres nas áreas de estudo.

Lidar com a humanodiversidade e ser capaz de debater e discutir, estudar por toda a vida e considerar esta uma atividade de grande relevância não apenas para a formação dos jovens: esta, na minha opinião, é uma atividade diferencial que ao ser prestigiada por milênios vem permitindo a "narrativa da continuidade".


Boa semana!


Regina P. Markus




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