8 de março - Mulheres Judias ao Longo da História |
Entramos no mês de março. Este é o mês da mulher, este é o mês de Pessach: o mês da liberdade. As chuvas chegaram e muitos de nós lembramos dos versos "as águas de março fechando o verão". Pessach e Liberdade são temas que caminham juntos; a passagem da escravidão para a liberdade, ou a saída de uma terra em que o trabalho era muito, até opressivo, mas o alimento era obtido para uma aventura pelo desconhecido em busca de um sonho. Nunca é descrito como um sonho, mas sim como uma passagem - que é a tradução de Pessach. E nas comemorações que ocorrerão no fim do mês os judeus de todas as origens sentam-se ao redor de uma linda mesa festiva e ao ler a Hagadá, o livro que conta a saída do Egito, ficam impressionados por não ser citado o nome de Moisés, e nem os atributos de D"us. O porquê destas omissões de forma alguma tem a ver com esquecimento dos que escreveram o texto. Na realidade o momento é para contar uma história, de forma simples que possa ser entendida por todos, inclusive as crianças, e que haja espaço para muitas perguntas. Contar uma história ano após ano, de geração em geração permite que esta herança seja compartilhada ao longo dos anos.
Chegando ao mês de março, bem na próxima semana, encontramos outra data de grande importância. Esta diz respeito a uma parcela muito maior da humanidade que também estava em busca de um sonho - um sonho de libertação. Foi em 1908 nos Estados Unidos, no bojo de uma greve em busca de direitos trabalhistas e políticos, que a data é marcada e a partir do ano seguinte passa a ser celebrada em muitos países do mundo. Com feriado, sem feriado, mas sempre mostrando o que mulheres contribuem e como educar mulheres para que possam encontrar seu lugar na sociedade.
Hoje volto com vocês para a saída do Egito para ver as mulheres daquela narrativa: mulheres que tiveram um papel muito importante como "ativistas políticas", mães, benfeitoras e inspiradoras. Conta a Torah e o Midrash, analisa e comenta o Talmud, que as parteiras israelitas Shifra e Puá não seguiam a ordem do Faraó de matar os primogênitos e que ao serem questionadas respondiam "a mulher israelita traz o filho sem nossa ajuda". Iocheved, a mãe de Moisés, decide que este deve ser dado e entrega à sua filha primogênita, Miriam, o bebê em um cestinho. A quinta mulher nesta história é a filha do Faraó, cujo nome nem é mencionado, mas que tem o papel fundamental de criar Moisés. Todas estas mulheres juntas são fundamentais para o nascimento do povo judeu. Elas cooperam para a manutenção da Vida. E Miriam finalmente mostra que o papel da mulher pode ir além, assumindo o comando e iniciando a travessia do Mar Vermelho. Cantando e dançando rumo ao sonho.
São muitos os videos que contam e recontam a importância das mulheres na formação do povo judeu. E para cada mulher cujos nomes foram preservados há muitas filhas do Faraó que apenas são referenciadas. Na foto que ilustra este editorial, no centro acima está Dona Graça Mendes Nassi (1510 - 1569), mulher portuguesa que foge da Inquisição, herda enorme fortuna de seu marido e revela-se como empreendedora já na época do renascimento. Uma história que vale sempre relembrar.
São muitas as mulheres a lembrar ao longo da história judaica.
Damos um salto no tempo... e chegamos ao moderno Estado de Israel. Seu início foi baseado em um sistema igualitário entre homens e mulheres, que sofre altos e baixos ao longo dos anos e que varia de acordo com origem e grupo social.
Escolhemos duas mulheres emblemáticas que dispensam apresentações e das quais já falamos ao longo dos anos. Golda Meir (1898-1978), da Rússia aos Estados Unidos e da América ao Mandato Britânico da Palestina. Uma das pessoas-chave na fundação do Estado de Israel, que exerceu muitos cargos junto ao Partido Trabalhista e que foi Chefe de Estado por duas vezes. Ada Yonat (22-06-1939) pesquisadora do Instituto Weizmann de Israel e laureada com o Prêmio Nobel de Química (2009).
E Orna Barbivai (1962), a primeira mulher a atingir a patente máxima no Exército de Defesa de Israel (IDF) e que atualmente é membro do parlamento israelense. Filha de mãe iraquiana e pai romeno, é casada e tem três filhos. A liderança em duas importantes instituições - o parlamento e o exército - não foi conseguida às custas de abdicar do fantástico dom de criar vidas e deixar marcas biológicas nas próximas gerações. Será isto sempre desejável? Esta pergunta é pouco importante, porque é de nível pessoal. O que temos que indagar é se será sempre possível. Conversando com os meus botões acho que a pergunta melhorou, mas meus botões acrescentam - o importante é que quando mostrarmos o exemplo para inspirar e empoderar as próximas gerações a história deve ser contada integralmente. Mulher, profissional, líder, mãe, esposa. Sim é possível.
E para finalizar este editorial pictórico em comenoração ao dia 8 de março, pode ser visto o logo das "Mulheres do Kotel". As mulheres judias, ortodoxas, conservadoras e reformistas que querem ter o direito de ler a Torah e rezar no Kotel ha Maaravi. No Muro Ocidental do Templo de Jerusalém. Ao longo dos anos, estas mulheres têm muito a contar, e como todas as vezes há idas e vindas, contras e prós, mas vão conseguindo abrir os espaços e hoje já podem ser vistas no Kotel. Por aqui esperamos ver no Kotel homens e mulheres lendo da Torah, assim como fazemos aqui. Sem prejuízo de ter um espaço para os que querem usar ritos adquiridos nas andanças pelo mundo.
Um grande abraço a todos e todas - e que possamos comemorar o dia das mulheres assim como comemoramos Pessach - a cada ano contando a história de protagonistas que inspirem próximas gerações.
"As águas de março fechando o Verão" e "anunciando os frutos e as colheitas".
Boa Semana M&M - Março&Mulher!
Regina P. Markus
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