Por Juliana Rehfeld
Aconteceu no mês passado no Polin Museum (Museu sobre os Judeus Poloneses) em Varsóvia, na Polônia, em homenagem aos 80 anos do Levante do Gueto, uma exposição especial: baseada no depoimento de 12 civis sobreviventes do Gueto de Varsóvia. Como? Sobreviventes ? Após o fim da revolta dos combatentes do Levante do Gueto de 19 de abril a 8 de maio de 1943 e a destruição de tudo, culminada em 8/5/1943 com o incêndio da Grande Sinagoga de Varsóvia, ficaram escondidos em bunkers cerca de 50 mil judeus. Devido às condições miseráveis a maioria morreu. Poucos sobreviveram a isso. Stefania Milenbach aos 22 anos de idade, foi uma delas, ficou no gueto de abril a dezembro de 1943, quando saiu carregada por cima do muro porque não tinha mais forças e permaneceu na Polônia até 1950 quando foi para Israel e depois para o Brasil.
Em 1947 ela escreveu, sob o pseudônimo de Stella Fidelseid, um ensaio sobre sua experiência naquele inferno: "Sobrevivi nos escombros".
No Brasil ela se casou com Mordcha e teve uma filha, Anette.
Conheci a Anette Wajnsztejn no primeiro ano do ginásio do colégio de Aplicação, em 1967… estive muitas vezes na casa da Anette e conheci dona Stefania: presença forte, rosto marcante, inesquecível, olhar único, eloquente mas silencioso.
Sua filha só veio a conhecer sua história por ocasião do projeto da Fundação Shoá de Steven Spielberg em 1997. Ela e sua filha Marina, neta de Stefania, visitaram a Polônia, e particularmente Auschwitz, em 2013, um ano antes da abertura do Polin Museum.
Há uns 5 anos Anette se deparou com foto em tamanho real, parede inteira no Museu do Holocausto de Washington na qual reconheceu sua mãe, inesperado e emocionante.
E, em 2022 Anette recebeu uma mensagem de Facebook de Barbara Engelking, uma socióloga polonesa, não judia, que dá aulas sobre o holocausto e para isso usa fontes como o relato de Stefania, aliás, Stella. Ela contou do projeto dessa exposição para homenagear os 80 anos do Levante do Gueto de Varsóvia e a convidou para escrever sobre sua mãe e participar desse evento tão importante.
Várias reportagens internacionais falaram da exposição, da solenidade e das autoridades da Polônia e de Israel . Foram feitas instalacoes em vários pontos de Varsóvia onde se localizavam bunkers,e lá foram contadas partes da história. Monumentos e murais feitos em homenagem a cada um dos doze sobreviventes. Seguem links para isso tudo.
Em Varsóvia, filhos e netos dos judeus do gueto sobre os vestígios de sua história familiar
Anette me contou: "além da emoção pelas fotos e monumentos, fiquei impressionada com a estrutura do Museu, a multiplicidade de eventos e instalações preparados em torno da exposição. Senti uma atmosfera bem diferente do que na minha visita anterior, o anti-semitismo parece menor , a reação à presença de judeus não é de distanciamento como foi 10 anos atrás , talvez justamente pelo empenho de pessoas como Barbara Engelking cujo objetivo é informar para prevenir que se repita."
Linda homenagem a d Stefania. Tivemos a oportunidade de presenciar esse emociona-te momento.
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