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terça-feira, 2 de maio de 2023

VOCÊ SABIA? - DOM PEDRO II

 

D. Pedro II: sua gula pela Língua Hebraica e seu amor pelo Povo Judeu!

Por Itanira Heineberg





VOCÊ SABIA que o livro acima, uma obra em língua hebraica sobre os rituais dos Judeus, foi escrito pelo imperador do Brasil, Dom Pedro II, em seu exílio na Europa após a Proclamação da República pelos brasileiros e a sua consequente expulsão da terra natal?

D. Pedro sempre demonstrou grande interesse por línguas. Em sua infância solitária, encontrava companhia nos livros. Dominava idiomas e conversava em alemão, italiano, espanhol, francês, latim, hebraico e tupi-guarani. Lia grego, árabe, sânscrito e provençal. Fez traduções do grego, do hebraico, do árabe, do francês, do alemão, do italiano e do inglês. Um verdadeiro poliglota.

Dom Pedro II nasceu no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1825, filho do Imperador Dom Pedro I e da Imperatriz Dona Maria Leopoldina.

Seguindo a tradição da nobreza, recebeu o nome de Pedro de Alcântara (em homenagem a São Pedro de Alcântara) João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança.



Com a morte da mãe um ano após seu nascimento e a viagem do pai para Portugal em 1831, quando tinha 5 anos, D. Pedro teve uma infância solitária e sem família. Seu pai, D. Pedro I, nunca voltou ao Brasil, morrendo em Portugal em 1834.

Lembro do choque que levei, em uma aula de história, quando a professora nos relatou a volta de D. Pedro I a Portugal para resolver assuntos da coroa e a triste e inesperada condição do menino tão pequeno ficar sem seus progenitores e com a grande responsabilidade de estudar e se preparar para ser o próximo imperador do Brasil. Realmente lastimei profundamente o infante D. Pedro, praticamente órfão de amor materno e paterno.

Apesar dos acontecimentos, o jovem príncipe regente teve grandes mestres e orientadores em seu palácio imperial onde recebeu uma educação exemplar pelas mãos de José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, e Manoel Inácio de Souto Maior, Marquês de Itanhaém. Antes de completar 15 anos, em 1840, foi proclamado maior e coroado imperador do Brasil. Governou por muitos anos com amor ao país e ao seu povo, com determinação e sabedoria, até a Proclamação da República em 1889.



O erudito e apaixonado estudante de línguas traduzia com prazer, como um esporte, praticando seu conhecimento e desenvoltura nos vários idiomas que cultivava.

 

“Embora sua atividade tradutória esteja inserida em um contexto mais pessoal do que político, as traduções que D. Pedro realizou, em especial a partir da língua hebraica, adquiriram relevância perante historiadores da cultura judaica que reverenciam a atuação do imperador na preservação da memória do povo judeu.”

 

“Em seu exílio já no final da vida, D. Pedro escreveu um livro de gramática hebraica, em francês, e traduziu do hebraico para o francês a canção “Had Gadiá”, da Hagadá de Pessach, por entender que esta canção refletia a essência da justiça divina e seu poder sobre a vida e a morte.”



Ao final da canção vem o “Senhor do Mundo, abençoado seja ele, que acabou com o Anjo da Morte e de todos os outros malfeitores”.

Muitos estudos sobre o segundo e último imperador do Brasil já foram realizados, porém este seu encantamento pelo povo judeu, suas tradições, sua língua e sua Torá é pouco conhecido em sua biografia. Há tanta informação sobre ele, aspectos políticos de sua carreira ou simplesmente fatos desconhecidos sobre a família real - a qual não possuía escravos em suas propriedades, apenas negros alforriados e assalariados. Nossa meta aqui, porém, é destacar o gosto do imperador pela língua hebraica, seu interesse sobre a arte da tradução e sua admiração pelo povo judeu.

 

“Ele traduziu também, de um misto de hebraico e provençal, para o francês, três cânticos litúrgicos antigos (séc. XVI ou XVII), que costumavam ser entoados nas festas de Brit Milá e Purim por algumas comunidades na Provence.”

 

É louvável que D. Pedro tenha tido a ideia de salvar do esquecimento estas peças do folclore judaico, interpretá-las, traduzí-las e publicá-las corretamente. Ainda no prefácio de seu livro ele reafirmou seu amor pela língua hebraica e falou com admiração e respeito de seus professores de hebraico.

O monarca brasileiro dominava tão bem o hebraico que em 1887 recebeu uma delegação de judeus da Alsácia-Lorena, representantes da comunidade do Rio de Janeiro, no palácio de São Cristóvão e com eles comunicou-se em hebraico clássico, surpreendendo e agradando a todos da comitiva.

 

“D. Pedro estudou hebraico durante toda a sua vida e ao ser deposto pelos republicanos em 1889 encontrou alívio para o seu sofrimento no exílio estudando línguas, aprofundando especialmente o conhecimento da gramática e da literatura hebraicas. Um dos seus biógrafos, Georg Raeders, assim descreveu:

 

“A fim de encontrar consolo em seus anos de exílio, ele também estudou grego e árabe, mas acima de tudo sentia-se atraído pelo hebraico. E a razão disto era que em seu exílio ele se identificava com um povo que também vivia exilado."

 

“A relação do Imperador Dom Pedro II com os judeus ia muito além de seu interesse pelo idioma hebraico, que estudava intensamente. Inclusive parte de sua família, os Braganças, têm ascendência hebraica, na história de Inês Peres, cristã nova e mãe do primeiro Duque de Bragança, D. Afonso.”

 

Assim como Chico Buarque de Holanda e Dom Afonso de Bragança, muitos outros mais, afora pelo mundo, importantes ou comuns, conscientes ou não, levam consigo uma parte da herança judaica.



Concluindo rapidamente a história, o imperador, deportado aos 66 anos, mudou-se para Paris, hospedando-se no Hotel Bedford - onde passava seus dias lendo, estudando e traduzindo. Seu lugar preferido era a Biblioteca Nacional, um refúgio de cultura e paz. Em 1891, sofrendo as consequências da diabetes, não resistiu a uma pneumonia falecendo em seu último lar, o Hotel Bedford.

Seus restos mortais foram levados para Lisboa, onde descansou ao lado de sua esposa no convento São Vicente de Fora.

Em 1922 foi finalmente reconduzido ao Brasil, sua pátria amada, onde repousa na Catedral São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, Rio de Janeiro, no Mausoléu Imperial ao lado de sua esposa, Dona Tereza Cristina, Imperatriz Consorte, de sua filha, Princesa Isabel, e seu genro Gastão de Orléans, Conde d’Eu, Príncipe Imperial Consorte.

 

FONTES:

https://www.instagram.com/p/CrMJ_Fwp0Y4/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D

Fonte: Poésies Hébraïco-Provençales du Rituel Israélite Comtadin. Traduites et Transcrites par S.M. Dom Pedro II D’Alcantara, Empereur du Brésil. Avignon 1891/Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold/ A história dos judeus no Rio de Janeiro. Henrique Veltman

https://apaixonadosporhistoriacanal.medium.com/quantos-idiomas-d-pedro-ii-sabia-falar-297a8e749da1.22 de out. de 2012

https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-cultura/5436683

https://idisabel.wordpress.com/2011/09/10/d-pedro-ii-e-a-cultura-hebraica/

https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/dom-pedro-ii?psafe_param=1&utm_source=search&utm_medium=ads&utm_campaign=trafego_portal&utm_term=00+-+%5BKW%5D+Din%C3%A2mico&utm_content=dinamico&gclid=CjwKCAjw9J2iBhBPEiwAErwpeepHp6_Qrt3j5-M3MZnV7F6keAZxrsu28xOP89g9fSprfy6KQ6JHXxoC0D0QAvD_BwE

https://reuvenfaingold.com/os-mestres-de-hebraico-de-d-pedro-ii/

https://reuvenfaingold.com/d-pedro-ii-na-terra-santa-diario-de-viagem-1876-introducao-do-livro/

https://www.dci.com.br/dci-mais/cinema-e-tv/onde-dom-pedro-ii-foi-enterrado-conheca-a-historia/196194/

https://www.reddit.com/r/brasil/comments/sasmzt/um_livro_em_hebraico_escrito_pelo_imperador_dom/



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