D. Pedro II: sua
gula pela Língua Hebraica e seu amor pelo Povo Judeu!
Por Itanira Heineberg
VOCÊ SABIA que o livro acima, uma obra em língua hebraica sobre os rituais dos Judeus, foi
escrito pelo imperador do Brasil, Dom Pedro II, em seu exílio na Europa após a
Proclamação da República pelos brasileiros e a sua consequente expulsão da
terra natal?
D. Pedro
sempre demonstrou grande interesse por línguas. Em sua infância solitária,
encontrava companhia nos livros. Dominava idiomas e conversava em alemão,
italiano, espanhol, francês, latim, hebraico e tupi-guarani. Lia grego, árabe,
sânscrito e provençal. Fez traduções do grego, do hebraico, do árabe, do francês,
do alemão, do italiano e do inglês. Um verdadeiro poliglota.
Dom Pedro II
nasceu no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1825, filho do Imperador Dom Pedro
I e da Imperatriz Dona Maria Leopoldina.
Seguindo a
tradição da nobreza, recebeu o nome de Pedro de Alcântara (em homenagem a São
Pedro de Alcântara) João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de
Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança.
Com a morte da
mãe um ano após seu nascimento e a viagem do pai para Portugal em 1831, quando
tinha 5 anos, D. Pedro teve uma infância solitária e sem família. Seu pai, D. Pedro
I, nunca voltou ao Brasil, morrendo em Portugal em 1834.
Lembro do
choque que levei, em uma aula de história, quando a professora nos relatou a
volta de D. Pedro I a Portugal para resolver assuntos da coroa e a triste e inesperada
condição do menino tão pequeno ficar sem seus progenitores e com a grande
responsabilidade de estudar e se preparar para ser o próximo imperador do
Brasil. Realmente lastimei profundamente o infante D. Pedro, praticamente órfão
de amor materno e paterno.
Apesar dos
acontecimentos, o jovem príncipe regente teve grandes mestres e orientadores em
seu palácio imperial onde recebeu uma educação exemplar pelas mãos de José
Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, e Manoel Inácio de
Souto Maior, Marquês de Itanhaém. Antes de completar 15 anos, em 1840, foi proclamado
maior e coroado imperador do Brasil. Governou por muitos anos com amor ao país
e ao seu povo, com determinação e sabedoria, até a Proclamação da República em
1889.
O erudito e
apaixonado estudante de línguas traduzia com prazer, como um esporte, praticando
seu conhecimento e desenvoltura nos vários idiomas que cultivava.
“Embora
sua atividade tradutória esteja inserida em um contexto mais pessoal do que
político, as traduções que D. Pedro realizou, em
especial a partir da língua
hebraica, adquiriram relevância
perante historiadores da cultura judaica que reverenciam a atuação do imperador
na preservação da memória do povo judeu.”
“Em seu
exílio já no final da vida, D. Pedro escreveu um livro de gramática hebraica,
em francês, e traduziu do hebraico para o francês a canção “Had Gadiá”, da
Hagadá de Pessach, por entender que esta canção refletia a essência da justiça
divina e seu poder sobre a vida e a morte.”
Ao final da
canção vem o “Senhor do Mundo, abençoado seja ele, que acabou com o Anjo da
Morte e de todos os outros malfeitores”.
Muitos
estudos sobre o segundo e último imperador do Brasil já foram realizados, porém
este seu encantamento pelo povo judeu, suas tradições, sua língua e sua Torá é pouco
conhecido em sua biografia. Há tanta informação sobre ele, aspectos políticos
de sua carreira ou simplesmente fatos desconhecidos sobre a família real - a
qual não possuía escravos em suas propriedades, apenas negros alforriados e
assalariados. Nossa meta aqui, porém, é destacar o gosto do imperador pela
língua hebraica, seu interesse sobre a arte da tradução e sua admiração pelo
povo judeu.
“Ele traduziu
também, de um misto de hebraico e provençal, para o francês, três cânticos
litúrgicos antigos (séc. XVI ou XVII), que costumavam ser entoados nas festas
de Brit Milá e Purim por algumas comunidades na Provence.”
É louvável
que D. Pedro tenha tido a ideia de salvar do esquecimento estas peças do
folclore judaico, interpretá-las, traduzí-las e publicá-las corretamente. Ainda
no prefácio de seu livro ele reafirmou seu amor pela língua hebraica e falou
com admiração e respeito de seus professores de hebraico.
O monarca
brasileiro dominava tão bem o hebraico que em 1887 recebeu uma delegação de
judeus da Alsácia-Lorena, representantes da comunidade do Rio de Janeiro, no
palácio de São Cristóvão e com eles comunicou-se em hebraico clássico, surpreendendo
e agradando a todos da comitiva.
“D. Pedro
estudou hebraico durante toda a sua vida e ao ser deposto pelos republicanos em
1889 encontrou alívio para o seu sofrimento no exílio estudando línguas,
aprofundando especialmente o conhecimento da gramática e da literatura
hebraicas. Um dos seus biógrafos, Georg Raeders, assim descreveu:
“A fim de
encontrar consolo em seus anos de exílio, ele também estudou grego e árabe, mas
acima de tudo sentia-se atraído pelo hebraico. E a razão disto era que em seu
exílio ele se identificava com um povo que também vivia exilado."
“A relação
do Imperador Dom Pedro II com os judeus ia muito além de seu interesse pelo
idioma hebraico, que estudava intensamente. Inclusive parte de sua família, os
Braganças, têm ascendência hebraica, na história de Inês Peres, cristã nova e
mãe do primeiro Duque de Bragança, D. Afonso.”
Assim como
Chico Buarque de Holanda e Dom Afonso de Bragança, muitos outros mais, afora
pelo mundo, importantes ou comuns, conscientes ou não, levam consigo uma parte
da herança judaica.
Concluindo
rapidamente a história, o imperador, deportado aos 66 anos, mudou-se para
Paris, hospedando-se no Hotel Bedford - onde passava seus dias lendo, estudando
e traduzindo. Seu lugar preferido era a Biblioteca Nacional, um refúgio de
cultura e paz. Em 1891, sofrendo as consequências da diabetes, não resistiu a uma
pneumonia falecendo em seu último lar, o Hotel Bedford.
Seus restos
mortais foram levados para Lisboa, onde descansou ao lado de sua esposa no
convento São Vicente de Fora.
Em 1922 foi
finalmente reconduzido ao Brasil, sua pátria amada, onde repousa na Catedral
São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, Rio de Janeiro, no Mausoléu Imperial ao
lado de sua esposa, Dona Tereza Cristina, Imperatriz Consorte, de sua filha,
Princesa Isabel, e seu genro Gastão de Orléans, Conde d’Eu, Príncipe Imperial
Consorte.
FONTES:
https://www.instagram.com/p/CrMJ_Fwp0Y4/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D
Fonte:
Poésies Hébraïco-Provençales du Rituel Israélite Comtadin. Traduites et
Transcrites par S.M. Dom Pedro II D’Alcantara, Empereur du Brésil. Avignon
1891/Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold/ A história dos
judeus no Rio de Janeiro. Henrique Veltman
https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-cultura/5436683
https://idisabel.wordpress.com/2011/09/10/d-pedro-ii-e-a-cultura-hebraica/
https://reuvenfaingold.com/os-mestres-de-hebraico-de-d-pedro-ii/
https://reuvenfaingold.com/d-pedro-ii-na-terra-santa-diario-de-viagem-1876-introducao-do-livro/
https://www.reddit.com/r/brasil/comments/sasmzt/um_livro_em_hebraico_escrito_pelo_imperador_dom/
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