Há três festas de peregrinação, festas em que são feitas peregrinações para Jerusalém. Quando eram feitas peregrinações para o Templo. Nestas festas são honrados fatos históricos e também há momentos especiais para honrar os falecidos. Nestas festas a peregrinação para o Templo de Jerusalém ganhava cores religiosas e também valorizações do dia-a-dia. Pessach, Shavuot e Sucot - esta seria a ordem quando seguimos o calendário. Pessach acontece em março/abril, Shavuot em maio/junho e Sucot em setembro/outubro. Pessach é comemorado durante 8 dias, Sucot por 7 dias, seguida de Simchat Torah, e Shavuot é uma festa de um dia em Israel e dois dias na Galut. Curta, mas cheia de significado. A tradução de Shavuot é "semanas", e representa as 7 semanas (49 dias) entre a saída do Egito (primeiro dia de Pessach) e o recebimento dos 10 Mandamentos ao pé do Monte Sinai. Shavuot tem vários nomes, é a festa em que se colhe os primeiros frutos (Bikurim), e quando se come alimentos com leite e muito queijo.
Ao longo da vida acostumamos que todas as festas judaicas são caracterizadas por alimentos especiais. Alimentar o corpo e a alma, que são entidades muito importantes, e que para conviver em harmonia devem ser satisfeitas cada uma à sua maneira. Em Shavuot é costume ESTUDAR. Passar a noite na sinagoga e estudar em conjunto com colegas e amigos vários textos. Assistir curtas palestras, dançar e comer! A noite é uma criança que vai até o raiar do dia.
Como era bom quando éramos crianças e como é bom agora também estar junto em tikun Shavuot. Um dos temas de estudo são os 10 mandamentos ) עשר הדיברות) "Esser ha Dibrot"; tradução literal, "as 10 Falas". Na Torah está escrito que as primeiras Tábuas da Lei, que foram quebradas ao pé do Monte Sinai, foram gravadas por D'us. As segundas tábuas da Lei foram ditadas por D'us. Em cada uma das Tábuas foram gravadas 5 "Falas": as cinco primeiras são as que se referem à nossa obrigação com D'us e as 5 últimas, nossa obrigação com os humanos. Para todos, é muito evidente quem é quem... apenas as "Falas" 4 e 5 podem deixar alguma dúvida. A fala 4 refere-se ao Shabat, que é o sétimo dia e é o dia do descanso. Os sábios explicam que, assim com D'us descansou após criar os Céus e a Terra e todas as vidas e belezas que compõem nosso mundo, assim devemos descansar para honrar a D'us e nos maravilhar com a Criação. A fala 5 é sobre "Honrar Pai e Mãe". Como comentei no Acontece da última semana, dar aos seres vivos a possibilidade de procriar é uma forma para que a Neshamá (alma) progrida para as próximas gerações. Honrar Pai e Mãe é como devemos honrar a Criação. Gosto aqui de lembrar que Bará (Criar) em hebraico é da mesma raiz que Baruch (abençoar). As Falas de 6 a 10 referem-se a regras para os homens conviverem em sociedade. Portanto em Shavuot são marcadas duas importantes características do Povo Judeu: indivíduos que se relacionam com D'us e cidadãos que se relacionam entre si.
Shavuot também é a festa em que lemos a Meguilá de Ruth, o livro que conta a história de uma mulher moabita e sua jornada para integrar o povo judeu. História descrita pelo profeta Samuel que deixa claro que chegar ao judaísmo como adulto de forma integral não só é possível, como é difícil de distinguir daqueles que nascem. Muitos devem estar pensando: por quê? Quais os argumentos que teria para chegar a esta conclusão? Posso aqui citar muitos sábios que fizeram esta análise, mas se perguntar a qualquer judeu o que define o seu judaísmo, sabemos que os mais à direita consideram judeu aquele que é filho de mãe judia. Aí fazemos a pergunta: serão o Rei David e o Rei Salomão judeus? A resposta é sim, e não há dúvida sobre esta afirmativa. Olhando na linhagem feminina dos Reis David e Salomão encontramos Ruth, a moabita, a bisavó de David. Assim, a história mostra a inclusão e o pertencimento dos que seguem as heranças deixadas pelas gerações anteriores.
A Meguilá de Ruth nos conta como após ficar viúva ela seguiu a sogra, Naomi, para a Terra de Israel. Shavuot também é conhecida como Festa das Primícias, Chag Bikurim. Este momento do calendário agrícola também está ligado à história de Ruth. Naomi e Ruth eram pobres quando chegaram a Israel e Ruth ia aos campos colher os produtos que haviam caído na terra durante a colheita. É um costume judaico que os donos dos campos não recolhem os frutos caídos, estes devem ser deixados para aqueles que passam necessidades. Ruth colhia nos campos de Boaz, e este se encantou com sua beleza e bondade e providenciou que ela pudesse recolher uma quantidade grande de frutos e grãos. Era costume entre os israelitas que viúvas casassem com parentes próximos para dar continuidade à família. O marido de Naomi, Elimelech, e seus dois filhos haviam morrido em Moab. Quando Ruth contou a Naomi sobre Boaz, esta disse que ele era o parente mais próximo. Ruth pediu Boaz em casamento e... ACONTECE... é Ruth, a moabita, a matriarca de David e Salomão.
Finalizo lembrando que Shavuot é um momento único no ano. Deixo aqui o convite para que cada um conte um pouco de suas experiências com estes tópicos do ponto de vista do judaísmo e também da vivência ligada a fatos tão importantes quanto a inclusão e relacionamentos familiares.
Toda esta reflexão escrita nesta semana de Shavuot chegará após o Chag. Aqui ficamos com um momento para refletir e preparar para os próximos anos e, principalmente, para entender que o judaísmo tem muitas leituras inclusivas e reflexivas que permitem mostrar que a individualidade não é um fator de isolamento, mas um fator de composição e harmonização.
Regina P. Markus
Espetacular o texto, Regina! Parabéns pela fluidez e brilhantismo! Chag Shavuot Sameach!
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