Marcadores

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Décimo Terceiro

 



         Vamos flanar juntos? Vamos caminhar por trilhas de floridas de dúvidas e descobertas.

Dizem que o povo brasileiro não tem memória! Será? Será que isso é culpa nossa?

Nesse nosso “Iachad” a gente caminha pela tese de que o vazio em relação aos heróis e marcos nacionais é um projeto de esquecimento popular, tornando os indivíduos mais dóceis e suscetíveis a embarcar em quaisquer canoas furadas.

         Resumindo, povo ignorante e desmemoriado é gado marcado, sendo conduzido para o abate!

         Da mesma maneira, as bases dos mais diversos preconceitos são impostas como uma dose de gordura que os gansos são obrigados a ingerir para gerar “fois gras”!

Nascem várias perguntas: quem está lucrando com a ignorância brasileira? A quem interessa o ódio? Uma pulga, finalmente, continua atrás de nossa orelha: quem está ganhando com o crescimento do antissemitismo brasileiro?

Vamos “Iachad”...

 

Hoje é dia de falar do Palmeiras! Palestra!

         É que eu adoro flanar. Na verdade, eu estava refletindo aqui, com meus botões, que se flanar é caminhar sem rumo, eu não sou bem um flanador... Sou um caminhante! Tenho destino certo, e faço meu caminho ao caminhar...

         Por questões de saúde, física e mental, acabei me tornando um esportista bem amador... Eu nunca abdiquei dos prazeres da mesa ou da amizade em nome do culto vaidoso. Pelo contrário! Tão importante quanto o treino é o sorriso e o prazer!

         Disciplina é Liberdade, sem dúvida. E como Liberdade que é, ela nunca será uma chibata! Só quando temperada pelo equilíbrio é que a Disciplina é, realmente, disciplinada.

         Mas, então, eu tenho, ao sair para caminhar, um objetivo bem definido. Claro que a flexibilidade faz parte do planejamento: devemos nos adaptar à realidade concreta, e não o contrário.

         Aliás, sobre isso, tem um ditado judaico bem interessante: “Sempre que o Criador ouve nossos planos, Ele ri!”. É claro! São tantas as variáveis. Tantas as possibilidades de mudança concreta...

O provérbio não é uma defesa da inconsequência e do hedonismo! Pelo contrário! Nossos planos devem existir, mas não devem ser como o carvalho que peleja com a tempestade. Eles devem ser mais como o bambu, que deita, espera a violência das intempéries passar, e termina dançando com o vento...

De certa maneira, flano. É que começo a história pensando num trajeto, e logo vou tomando outros atalhos, subindo novos montes, visitando desvios... Quando vejo, já estou perdido, longe de onde eu queria chegar... Sou um flanador das letras!

Mas a minha caminhada diária pouco tem de aventura. Não sou pessoa que goste disso. Meu fim está bem estabelecido. Quero ir até o clube Palmeiras, visitar os bustos dos grandes ídolos do passado e do presente...

O Divino Ademir da Guia, Marcão, Oberdan Cattani...

Interessante não ter nada do Vavá. Deve ser pela razão d´ele nunca ter sido um verdadeiro ídolo do Verdão! A verdade é que ele foi o primeiro que conheceu as duras diatribes da realidade brasileira, e foi desbravar os campos europeus.

Para o Palestra ele só veio para disputar a Copa de 1962. Só depois de 60 anos, em 2022, que o Mbappé igualou o recorde dele e marcou em duas finais de mundial seguidas... Estranho a gente ouvir pouco de um ídolo dessa importância...

Saiu de Recife, ganhou a Europa, a América do Norte, e voltou para fazer a felicidade da gente brasileira!

É como dizem, né... A falta de memória é um projeto! O povo não esquece seus ídolos: os verdadeiros heróis da Pátria são, muitas vezes, encobertos pelas névoas turvas do esquecimento...

Os donos do poder, convenientemente, jogam as lembranças de valor no aterro do anonimato! Povo sem memória? Balela! Povo cuja memória foi violentada! Destruída!

Conhecedor das agruras e misérias brasileiras, e sempre preocupado com sua gente, Vavá se recusou a viver como um paxá despatriado. Não! Ele tinha raízes e, enquanto o são paulino Mauro Ramos, repetindo o gesto imortalizado por Bellini, levantava a Jules Rimet, ele articulava nos bastidores da Seleção...

Queria trazer para o sofrido e trabalhador povo do Brasil a chuveirada de alívio que ele tinha visto na Europa: o décimo terceiro salário!

Durante as comemorações, povo unido e feliz, uma série de recados começaram a ser passados para os que tinham a caneta: nossa gente precisava de algum sossego, ainda mais no fim de ano de tantas festas e comilança.

E as celebrações acabaram virando protestos! Sabe o mais legal? Vavá abandonou, por um tempo, a Jules Rimet e passou a levantar um megafone! Essa era a verdadeira taça que o selecionado de 62 queria trazer para o Brasil.

Até hoje pouca gente sabe... A verdade é que muito mais que uma Copa, o Brasil ganhou um pouco de Dignidade...

A Jules Rimet se perdeu... Mas o décimo terceiro, nosso troféu real de ouro, continua aí!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.

 

 

2 comentários:

  1. A falta de conhecimento básico sobre futebol fez com que pouco entendesse a conexão entre este texto e Israel. Até que André comentou sobre o apagamento de Vavá na imprensa. Achei a ideia muito interessante - Iachad - juntos é também uma forma de conectarmos os fios invisíveis que unem os homens epermitem superar os obstáculos criados pelos influenciadores. Kl ha Kavod

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Regina, as suas contribuições são sempre valiosíssimas. Muito obrigado por me fazer enxergar que, às vezes, alguns mistérios, que parecem óbvios para nós, precisam de chaves para serem decifrados. Te agradeço demais! Fraternais Abraços.

      Excluir