Crônica
de Fim de Ano
Eu
adoro crônicas. Na verdade, acredito que elas sejam dos estilos literários mais
populares que há. É que elas, além de trazerem lirismo às páginas
jornalísticas, circulam livremente pelas correntes de e-mail e de whatsapp (de que
toda gente reclama, mas que todo mundo lê) durante gerações!
Foi
com elas que aprendi a Gostar de Ler (como muitos da minha leva). Foi nas
palavras de gigantes como Rubem Braga, Carlos Drummond, Otto Lara Resende,
Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, entre outros, que meu coração foi tocado e a liberdade de escrita foi sendo
desenvolvida.
Becky
Korich e tantos outros magos das letras, ainda que sem saber, continuam incentivando
meus mergulhos no diáfano poético do corriqueiro cotidiano. Nessas meditações
diárias aprendi a enxergar o extraordinário no ordinário: ENXERGAR!
Perceber
com o coração!
Hoje
pela manhã, a coluna do Bruno Carazza no Valor Econômico me lembrou de uma
dessas preciosidades que decoram o cotidiano em meio a tanta lama e dejetos. Era
Rubem Braga e seu desejo, que suspeito também seja de todo escritor, de contar
uma história maravilhosa.
“Eu
queria contar uma história tão engraçada que aquela moça que está doente
naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse, risse
tanto que chegasse a chorar e dissesse: ‘ai meu Deus, que história mais
engraçada!’”.
O
gozo da leitora (“como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente e vivo”)
seria tão grande que a história maravilhosa, vestida com as roupas da
coloquialidade, transitaria num boca-a-boca (real ou virtual) igual rastilho de
pólvora... No fim, também consolaria diferentes pessoas. Todos enfrentam seus
leões sempre... Um alívio de vez em quando cai bem...
O
casal em crise, as prostitutas detidas na delegacia, enfermos em hospitais,
familiares enlutados, solitários, miseráveis, esfarrapados, milionários... Todos
largariam suas taças amargas para se divertir com um causo gracioso,
irresistível e colorido.
E
a gostosura das palavras ganharia o mundo sem lenço nem documento, a ponto de
as pessoas jamais conhecerem o escritor (aliás, isso importa?). E ela seria
contada e recontada por avós, netos, amigos, inimigos, todos... Independentemente
da língua, da raça, da cultura, “a história maravilhosa manteria seu encanto,
sua frescura e sua pureza.”
Imitando
Rubem Braga e tantos preciosos cronistas, eu também, igual um Indiana Jones,
continuo buscando minha Arca Sagrada... Quero escrever minha história
maravilhosa. Vou continuar ao além. Persistir disciplinadamente, nessa jornada.
Na
minha história, eu gostaria de destacar a importância da ALTERIDADE. Sabe a sensibilidade
essencial, que nos dá corações humanos para perceber com a alma cada pessoa,
única em sua individualidade, e saber que só coletivamente conseguimos unir
pontos fortes e limitações no sentido de uma conquista comum?
Esse
trabalho para expandir as melhores características de cada pessoa é lutar por
autonomia e emancipação. Assim, cada um, autônomo e emancipado, é capaz de se
desenvolver da melhor maneira possível, segundo seus próprios desejos.
Um
fruto que amadurece no seu tempo...
Mas
isso, a possibilidade de que os indivíduos deem as mãos em coletividades e
trabalhem eficientemente por seus objetivos comuns, só é concretizada se os
Direitos Humanos ganharem vida, alma e substância.
E
o que são os Direitos Humanos?
Essa
é a poesia da vida!
São
os que brotam, como frutos suculentos, daqueles cinco ramos fundamentais e verdejantes
da nossa Democracia: Vida (não é a simples sobrevivência, mas sim a
possibilidade efetiva de desenvolvimento da personalidade); Liberdade (“quem quiser
ser livre para plantar o que quiser tem o dever de assumir a responsabilidade
pela colheita”); Igualdade (equivalência de condições basilares mínimas para o
desenvolvimento individual); Propriedade (tudo o que é próprio do indivíduo); Segurança
(condições estáveis e sólidas para o desenvolvimento pessoal).
Abramos
os olhos, porém! Não devemos esperar dos governos essas iniciativas. Devemos,
nós mesmos, trabalhar dia a dia, em nossas atitudes e práticas, para
desenvolver as individualidades de todos...
ALTERIDADE!
E
a minha história maravilhosa só seria completa se encerrada com o célebre ensinamento
do sábio Hillel: “Se eu não for por mim, quem irá? Mas se eu for só por mim,
que serei eu? E se não for agora, quando?”
Ótimas
Festas!
André
Naves
Defensor
Público Federal formado em Direito pela USP. Especialista em Direitos Humanos e
Sociais, Inclusão Social e Mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista
Político pela Hillsdale College. Doutor em Economia pela Princeton University. Comendador
Cultural. Escritor e Professor.
www.andrenaves.com
Instagram:
@andrenaves.def
que bom André!! adorei! BOas festas para vocês!
ResponderExcluirSábias palavras que cativam são o dom de André! Obrigada por me envolver em suas ideias positivas e me levar junto com você pelo extradinario mundo das letras.
ResponderExcluirQue belas reflexões, André . Temos que ser a mudança quem queremos ver no mundo, eu diria mais, no outro. Shabat Shalom
ResponderExcluirBela reflexão!
ResponderExcluirLinda reflexão! Sempre nos agraciando com textos maravilhosos.
ResponderExcluir