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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ACONTECE: Frágil caminho à frente

 


Por Juliana Rehfeld




Os últimos reféns vivos estão em casa, milhares de prisioneiros palestinos, julgados ou não, foram devolvidos a Gaza, de uniforme mas de armas na mão… a tensão nas rua diminuiu, houve um alívio geral e surgiu a oportunidade de pensar no futuro… isso é fantástico!

Mas estamos longe de um real projeto de paz, como no fundo imaginávamos. No máximo é um frágil cessar-fogo. A relação entre o governo de Israel e o Hamas é de animosidade, até porque além de não ter entregue a totalidade prometida dos corpos de reféns mortos em cativeiro, e de se recusar a entregar armas, o Hamas busca ganhar tempo para se reorganizar.

Há muitas posições pessimistas porque são tantos detalhes e enorme a complexidade e urgência das soluções requeridas para a região, tênue o caminho - para frente ou de volta a uma estaca zero?  Mas há também documentos de investigações sobre a situação real da “fome” em Gaza, números que não negam o desespero e a miséria da população civil mas expõem as fake news contidas e repetidas nas notícias, inclusive as publicadas por organizações oficiais. (Vide análise do relatório da Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC), confrontando mesmo números apresentados pela OMS, Organização Mundial da Saúde!)




O que no entanto me dá alento,  embora não haja mesmo lugar para muito otimismo, é que muitos países, sobretudo árabes, se envolveram na “conferência de paz” de Sharm-el-Sheik e ainda conversam sobre próximos passos em Gaza. Finalmente esses “outros”, que na verdade são, em grande medida, criadores desta “questão palestina” ao não receber e não integrar como cidadãos esta população saída da área que hoje o estado de Israel, agora esses outros estão se envolvendo nas soluções para Gaza, considero isto extremamente importante e bom…

Muita “água ainda vai passar pela ponte”, antes que acordos e planos sejam assinados combinando estes necessários atores mas o fato é que, já na mídia nesta semana, houve mais críticas ao Hamas, e mais manifestações sobre a importância dele ser desarmado, que em muitos anos! Mesmo que Israel não tenha sido poupado... na imprensa mundial, particularmente árabe e especificamente na brasileira. TV francesa em seu World DNA conclama que Hamas se renda e SadaNews diz que governo francês vê reorganização do Hamas pós cessar-fogo como prejudicial à estabilidade e à tranquilidade dos palestinos; O Canadá condena o Hamas, “um grupo terrorista que não deve desempenhar nenhum papel na futura governança de um estado palestino desmilitarizado”.  Analistas dos Emirados Árabes Unidos reforçaram agora sua já expressa posição de que “devemos remover o extremista Hamas do poder em Gaza; seu ataque de 7 de Outubro violou os valores islâmicos e humanos; a Arábia Saudita declarou hoje ao Middle East Eye que se vê no papel ativo de desarmar e marginalizar o Hamas e refundar a Autoridade Palestina para o futuro de Gaza; O jornal egípcio Al-Qahera News, ligado ao governo egípcio, acabou de informar que as negociações entre os dois principais partidos políticos palestinos - Hamas e a rival Autoridade Palestina  - cobriram “o cenário nacional em geral e os arranjos após o fim da guerra na Faixa de Gaza”.

O governo brasileiro não critica, mas no Estadão temos o editorial “A ‘pax terrorista’ do Hamas”,  “o Hamas jamais teve a intenção de transformar a pausa em um caminho para a paz….o grupo usa o cessar-fogo como uma trégua tática projetada para se rearmar e consolidar o poder”.

Estas recentes declarações, antes não ousadas, e o crescente envolvimento de atores que vão necessariamente retirar muita responsabilidade dos ombros de Israel, são definitivamente novidades a serem celebradas, mesmo que devam ser vigiadas de perto e, sobretudo, cobradas diariamente. Essas análises recém ditas e escritas não podem ser “desditas”, elas finalmente tomaram uma posição e fazem parte de uma nova narrativa a ser cuidada, fortalecida com cada vez mais informações de fontes que se preocupam com a sustentabilidade da paz para a região. Que as populações locais, e nossos corações e mentes, possam se recompor e conviver em tranquilidade.

Shabat Shalom


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Danado

 



Imaginar sempre foi minha brincadeira preferida. Fechava os olhos e via mundos. Agora, abro os olhos e invento futuros. “Nem a pau, Juvenal!”, digo quando a saudade do retrovisor tenta contar história antiga. Hoje, não.

Hoje é IMAGINAÇÃO! FUTURO!

Acordo, água no rosto, tênis. Descendo a Caraíbas. Tranquilo e calmo. Que tempo é esse? Dois anos? dez? quinze? Camiseta, shorts... Igual minhas crônicas: sem terno, sem gravata, mas com aquele nó entre as linhas.

A vitrine da livraria me chama. Ali, meu livro. Não tenho nem roupa pra isso... Mas, do nada, tô. Estufo o peito, dou um sorriso, fico um pouco ali namorando as gostosuras literárias, o cheiro de papel que faz brotar o sorriso.

Quando a alma desacelera, vem o puxão. É a guia.

Lembro: nesse meu amanhã, tenho um cachorro. O Danado. Golden Retriever. Fanfarrão, cara de quem ri, noção zero. Desastrado, afobado, meio bobão. Abana o rabo e faz vento de alegria. Toda vez quebra os vasos da Ana Rosa — água, flor, caco, tudo pro alto. O tapete? Tiramos. E ele nem nota, porque, no fundo, não é levado: é só livre. E liberdade, quando passa, levanta confete de festa.

Teve um dia, na casa da minha mãe — reparou? até no meu futuro tem passado —, que ele viu um gramado pela primeira vez. Foi direto pra lama como quem encontra a própria infância. Depois entrou na sala de TV, a família na Dança dos Famosos. Começou a se chacoalhar. Sabe, jeito de cachorro mesmo?

A sala virou um quadro borrado... Um Miró desastrado... O sorvete do meu sobrinho ficou com cobertura de brigadeiro de barro. Alguém ficou bravo? Acho que não. Talvez eu tenha ralhado um tiquinho, da boca pra fora, só pra manter a pose. Mas, quando tem Amor, o Perdão vem de fábrica.

Eu e Ana Rosa limpamos tudo. Fomos pro quintal. Mangueira aberta. A água cantando, lavando a lama, lavando tudo... Levando qualquer chateação. Água purifica. A gente também. E ali, ensopados e rindo, a gente enxergou: errar junto, rir junto, recomeçar junto. Nem precisa falar! É presença que grita!

Os anos passam. Outra manhã na Caraíbas. Outro livro na vitrine. Roupa diferente. Ana Rosa do lado. E o Danado… ah, o Danado agora apronta nas nuvens. Juro que vejo o rabo dele abanando lá, um vaso de luz se espatifando num éter desconhecido, um latido de quem ri escondido npôr do Sol...

O céu guarda umas delicadezas.

Meu olho enche d’água, mas é de alegria... Meio nostálgica, mas alegre! Eu encaro o fundo d’alma da minha Rosa e encontro nossa casa inteira ali, parede por parede, infância por infância, promessa por promessa. Sorrio. No colo dela, o Caramelo cochila. Ciclos. Sempre a vida. Sempre a gente. Sempre JUNTOS.


André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais e Inclusão Social. Comendador Cultural. Escritor e Professor.
www.andrenaves.com | Instagram: @andrenaves.def

 


terça-feira, 21 de outubro de 2025

VOCÊ SABIA? - A Arca da Aliança

 

UM BAÚ DE OURO... AS TÁBUAS DA LEI INSCRITAS POR D’US... A ARCA DA ALIANÇA...

Você Sabia que a Arca da Aliança, a sagrada relíquia do Povo Judeu, assim como a tela A Última Ceia de Leonardo da Vinci, foi retratada muitas e muitas vezes na Arte, por mais de dois mil anos?

Por isso, todas as imagens dela neste Você Sabia? são versões imaginadas…

A Arca era o símbolo da presença de D’us entre os israelitas.

E onde está ela agora? Eis aí um grande mistério da História.



E o que sabemos desta arca? Onde ela repousa?

Nas profundezas das câmaras obscuras do Templo de Salomão, um baú de ouro continha as próprias tábuas nas quais D’us inscreveu os Dez Mandamentos. A Arca da Aliança, a relíquia mais sagrada da humanidade, desapareceu da história há mais de 2.500 anos, deixando para trás apenas sussurros, lendas e um rastro interminável de pesquisadores que arriscaram tudo para encontrá-la.

 

Este artefato religioso era também descrito como uma arma de poder divino que poderia nivelar exércitos, dividir rios e derrubar aqueles que ousassem se aproximar dele indignamente. Os relatos bíblicos falam de suas incríveis habilidades: paredes de Jericó desmoronando em sua presença, deuses filisteus caindo em sua sombra e até servos fiéis morrendo instantaneamente por tocar sua superfície sagrada. No entanto, em algum lugar entre a conquista babilônica de Jerusalém em 586 AC e hoje, esse tesouro mais precioso do antigo Israel simplesmente desapareceu.”


Replica of the Ark of the Covenant in George Washington Masonic National Memorial


A Arca da Aliança, A Arca do Testemunho ou A Arca de D’us, era um baú de armazenamento religioso e é a lembrança mais sagrada pelos israelitas.

Segundo a tradição religiosa era um baú de madeira decorado em ouro maciço acompanhado por uma tampa ornamental conhecida como Assento da Misericórdia. De acordo com o Livro do Êxodo e o Primeiro Livro dos Reis na Bíblia Hebraica e no Antigo Testamento, a Arca continha as Tábuas da Lei, pelas quais D’us entregou os Dez Mandamentos a Moisés no Monte Sinai. De acordo com o Livro do Êxodo, o Livro dos Números, e a Epístola aos Hebreus no Novo Testamento, ela também continha a vara de Arão e um pote de maná.

O relato bíblico relata que aproximadamente um ano após o êxodo dos israelitas do Egito, a Arca foi criada de acordo com o padrão que D’us deu a Moisés quando os israelitas estavam acampados no sopé do Monte Sinai.  


Église Saint-Roch, Paris


O Livro do Êxodo fornece instruções detalhadas sobre como a Arca deveria ser construída.

Deve ser 2+1 ⁄ 2 côvados de comprimento, 1+1 ⁄ 2 côvados de largura e 1+1 ⁄ 2 côvados de altura (aproximadamente 131 × 79 × 79 cm ou 52 × 31 × 31 pol.) de madeira de acácia.

Em seguida, deve ser inteiramente dourada, e uma coroa ou moldura de ouro deve ser colocada ao redor dela. Quatro argolas de ouro devem ser fixadas em seus quatro cantos, duas de cada lado — e através dessas argolas devem ser inseridos varais de madeira de acácia revestidos de ouro para transportar a Arca; e estas não devem ser removidas.

Depois disso, as varas do baú de acácia folheado a ouro eram levantadas e carregadas pelos levitas aproximadamente 2.000 côvados (800 metros ou 2.600 pés) à frente do povo enquanto marchavam.

Após sua criação a Arca foi carregada pelos israelitas durante seus 40 anos de peregrinação no deserto.

Sempre que os hebreus acampavam, a Arca era colocada na tenda da congregação, dentro do Tabernáculo.

Depois da construção da arca, os hebreus desenvolveram o Tabernáculo, um local sagrado. O interior do local em que ficava a arca poderia, inicialmente, ser visitado por Moisés e Arão e, posteriormente, só pelos sumo sacerdotes. A tribo dos levitas era a responsável por fazer o transporte da arca. Eles não poderiam encostar diretamente na arca, mas, sim, nas hastes que eram usadas para erguê-la.

Eles eram obrigados a carregar a arca nos ombros, nunca deveriam usar um carro de bois e poderiam ser punidos caso não fizessem isso.

Os hebreus usavam a arca da aliança em suas guerras, e a presença da arca no campo de batalha fazia com que eles vencessem rapidamente o conflito, segundo a narrativa bíblica. Quando os hebreus precisaram atravessar o rio Jordão transportando a arca, este se abriu para que o povo pudesse passar junto dela.



A busca pela Arca cativou exploradores, arqueólogos, caçadores de tesouros e teóricos da conspiração por milênios. Dos Cavaleiros Templários a Indiana Jones, de estudiosos bíblicos sérios a aventureiros modernos com detectores de metais, a busca continua.

Cada teoria é tão convincente quanto controversa, cada descoberta reivindicada tão tentadora quanto contestada.



Surgiram várias suposições: estaria este patrimônio escondido em uma câmara secreta sob o Monte do Templo? Levado para as terras altas da Etiópia, onde supostamente repousa hoje? Apreendido pelos conquistadores babilônicos e perdido para a história? Ou está enterrado em alguma caverna esquecida, esperando o momento certo - ou a pessoa certa - para trazê-lo de volta à luz?


Moisés e Josué de joelhos em frente à Arca


Este realmente é um mistério que permanece através dos milênios.

É um assunto instigante que nos leva a explorar a História do mundo e a tentar decifrar o segredo da desaparição da Arca.

Eu, pessoalmente, não acredito que ela tenha simplesmente desparecido. Um artefato tão poderoso, um objeto responsável por feitos sobrenaturais, a origem de milagres...

De acordo com a Igreja Ortodoxa Etíope, a Arca da Aliança está atualmente alojada em um santuário em Axum, antiga capital do império Aksumite e uma cidade sagrada etíope. Esta Arca foi substituída por uma falsificação em Jerusalém e transportada, com assistência divina, para o santuário no século 10 pelo primeiro rei da dinastia salomônica da Etiópia.

Assim como esta afirmativa acima, encontrei várias outras assegurando o local onde encontra-se escondida esta relíquia do Povo Judeu.

Mas acredito que, milagrosamente, em um lugar sagrado e abençoado, Ela espera o momento certo ou a pessoa certa, para oferecê-la de volta a nós, à Luz, ao povo da Terra.    

 

A arca passa sobre o rio Jordão carregada pelos levitas, aquarela de James Tissot,  1896-1902.


FONTES:

https://en.wikipedia.org/wiki/Ark_of_the_Covenant#Whereabouts

https://www.historiadomundo.com.br/hebreus/arca-da-alianca.htm

https://www.nationalgeographic.com/history/article/ark-covena

 https://www.britannica.com/story/where-is-the-ark-of-the-covenant

costumesbiblicos.com/2018/03/a-historia-da-arca-da-alianca.html

https://ensinarhistoria.com.br/arca-da-alianca-uma-busca-de-2500-anos/

 

Historic Mysteries <historicmysteries@substack.com>

Subject: Great Relic of the Israelites: Where is the Ark of the Covenant?


quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Solilóquio do Esperançar

 

Solilóquio do Esperançar!




E não é que a flor desabrochou e trouxe Luz para onde antes as trevas pareciam dominar? Aquela flor, sublime, suave e muito frágil... Uma flor de Esperança! Com o klezmer, esse nosso lamento vira dança!

É a vida que insiste, é a Beleza sempre triunfa! Uma flor semeada por quem menos se esperava... Quem, em sã consciência, poderia imaginar? Eu, jamais! Mas rio, danço e celebro!

Olho para meu relógio de algibeira — hoje chamamos de telefone celular, um tal telefone que serve pra tudo, mas que, ironicamente, quase nunca usamos para ligar. Perto das seis da manhã. O sol pinta o céu. Laranja, azul e branco!

É a Luz na janela, na alma... Vejo na tevê a multidão nas ruas, do outro lado do mundo. E a Memória, tal qual a flor, também desabrocha. Era com o cheiro e o som de um tempo alegre, feliz.

Tempo de Esperança! Tempo da Esperança!

2002, rua no centro de Jacareí. Brasil pentacampeão! Cheiro de asfalto e cerveja! Uma celebração popular, espontânea! Canto, abraços em irmãos anônimos! Manhã de domingo e a Esperança era verde e amarela, pintada no rosto.

A gente sentia o Futuro chegando... E não chegou? Ah, quanta coisa mudou. O mundo girou. A gente mudou!

Hoje, a festa é deles. O povo nas ruas lá! O Futuro é deles. Um telão na Hebraica para ver o retorno daqueles que nunca deveriam ter ido, filhos de uma violência inexplicável! O choro vira dança. A saudade vira abraço. Se fosse aqui, o Galvão ia chamar o Pelô!

A Timbalada faria o chão tremer. E os bonecões de Olinda? Seria a mesma festa. A mesma lágrima!

Já pensaram que ninguém quer saber da ideologia deles. Será que votavam no Likud, no Shas, no Hadash? Qual a orientação sexual? O time de futebol? Maccabi? Hapoel? O passado, a ficha corrida, a posição social? Usavam drogas? Moravam na Cracolândia?

Nada. Tudo se desfaz. Tudo que antes parecia sólido se desmancha no ar! É um instante sagrado em que nossa alma fica na pele, e a gente só enxerga a HUMANIDADE. As máscaras se apagam e só fica o brilho de dentro. O SER HUMANO.

Já reparou que nesses momentos de descuido, quando a felicidade nos pega de surpresa, a gente ri à toa? A gente se abraça? Compartilha o pão, o canto, a vitória... Sempre! É a nossa natureza, a nossa essência mais funda: a partilha, a ausência de muros.

Essa é a nossa PUREZA!

E ela é igual à Esperança: é uma decisão! É uma escolha diária, uma teimosia! Quase uma Chutzpá! Para ser puro, a gente precisa decidir, precisa escolher varrer o mofo do cinismo que se acumula desde o berço...

A gente precisa estar DECIDIDO, ESCOLHIDO! E pra ter Esperança também! Não é sentar e esperar. É construir juntos. É verbo, não substantivo. É ESPERANÇAR. É lutar por cada tiquinho de dignidade, em cada sorriso, em cada olhar...

A Pureza Humana, a verdadeira Santidade, eu sinto, está nisso.

Em abraçar nossas próprias contradições, nossas sombras e nossa Luz e escolher novos caminhos...  É na coragem de se reconhecer incompleto que a gente se consegue trabalhar para ser inteiro.

E, acima de tudo, é escolher, a cada amanhecer, a cada rosto, a cada linha escrita... escolher enxergar a HUMANIDADE! Ela tá lá! Naquele que sofre, naquele que luta e, também, naquele que celebra.

É essa escolha que faz a flor, mesmo na laranjeira mais improvável, desabrochar.

E essa é a única Luz que realmente importa.

 

 

·         André Naves, Defensor Público Federal especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social.

·         www.andrenaves.com.br

·       contato@andrenaves.com


Acontece: A Alegria da Torá

A Alegria da Torá - Simchat (simrrat) Torá - 5786 - 2025

Por Regina P. Markus

Erev Simchat Torá - Dois anos que mudaram o mundo



Estamos em 5786 (ה'תשפ"ו). Escrevo no dia 15 de Tishrei, o dia da Lua Cheia, quando começa Simchat Torá. Esta semana Israel recebeu os 20 reféns que ainda estavam vivos, depois de 738 dias de cativeiro. As imagens da chegada são tocantes; muitos choravam e muitos sorriam. Um estado de êxtase percorreu os 5 rincões do planeta. Falar sobre as reações e as ações é necessário porque esta semana não apenas será lembrada por Am Israel, mas também por toda a humanidade. Nomes como o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do presidente do Egito, Abdel Fattah El-Sissi, entre os muitos que citaremos, marcam a história. E quero deixar aqui registradas falas de pessoas comuns que, a partir de países árabes parcialmente libertos do jugo "horror", abrem o véu dos que apoiam Israel. Atitude corajosa, que revela a grande vontade de viver em um país que respeita a individualidade, que pode gerar conflitos, mas se une de forma magnífica quando é chamado.

Olhando os números. Muito é falado sobre guematriot, a forma como a Cabalá lê os números.  5786 (ה'תשפ"וé um número especial. 

  • ת (Tav): 400ש (Shin): 300, פ (Pei): 80, ו (Vav): 6. 
  • Somando 400+300+80+6 = 786. 
  • 'ה (Hei') seguido de apóstrofe é 5000. 786+5000 = 5786
  • Portanto, a soma das letras corresponde ao numeral do ano! 
  • Ao longo dos séculos, este número foi mencionado por muitos estudiosos e curiosos. Este era considerado um ano da virada. Um ano em que muito poderia acontecer. O ano mal começou e nós vivemos acontecimentos inesquecíveis. Tenho dificuldade de classificar como mais importante um ou outro fato. Tem uns que completam um ciclo e outros que abrem perspectivas. Os pontos positivos se sobressaem a ponto de nossos jornais terem dedicado suas primeiras páginas a relatar a libertação dos reféns.

Ao redor do mundo, a grande corrente de esperança estava unida. Atrasos e contrariedades cercaram aqueles momentos. A liberação  foi gota a gota, imagens do momento de transferência foram ocultadas, mas finalmente vimos o encontro com amigos e familiares. Emocionante!!! Os membros do Hamas e da Jihad Islâmica filmaram a morte de famílias gazanenses no próprio local de entrega de reféns. A novidade é que, desta vez, a imprensa deu mais foco à libertação e ao encontro. 

A chegada dos irmãos Cunio provocou uma sensação de incredulidade. Em segundos, um dos irmãos abraça e levanta a esposa. Todos ficamos estupefatos com a força de homens que, há dias, estavam esqueléticos e cavando a própria cova. Evyatar David, após ser obrigado a cavar sua própria cova, chega a Israel. São imagens que não podem ser negadas, e aí vem a pergunta: como? 





Vamos juntos mergulhar no aqui e agora e no lado místico e eterno do judaísmo. Há relatos talmúdicos repetidos por vários rabinos nesta noite de Erev (véspera). A Simchat Torá conta que muitas pessoas idosas ou doentes, ao longo da história, homens e mulheres, carregavam e dançavam com um Sefer Torá para comemorar o final da leitura anual, seguido do início da leitura anual. Quando eram perguntados qual o motivo deste milagre, a resposta ao longo dos séculos era sempre muito parecida e dizia que naquele dia letras da Torá se despregavam e subiam aos céus. Não apenas as letras subiam, mas pessoas podiam ser energizadas também. 

A chamada "energia sobrehumana" também encontra explicações na fisiologia. Ao entrar em condições mentais especiais, o corpo responde como um todo, transferindo energia que seria consumida para as mais diferentes funções para exercer algo que é relevante no momento. E os músculos ganham a força sobrehumana.

Foram momentos muito especiais em que a bênção do Aqui e Agora pavimentando o Amanhã ganha um sabor todo especial. "Bendito sejas Tu, Adonai nosso Rei, que nos criou, nos sustentou e nos fez chegar a este momento." Os comentários gerais eram que nunca esta bênção pareceu tão significativa. E minha experiência pessoal foi acrescida do encontro com o sobrevivente do Holocausto, Joshua Strul, conhecido por muitas aparições e por um trabalho excepcional com jovens brasileiros. Ele comentou: nós rezamos juntos a mesma bênção ao sairmos do Campo de Concentração Nazista. Repetindo o que todos falam e que traduz a verdade do momento, quando os judeus foram liberados dos campos de concentração nazistas, não tinham para onde voltar. Hoje voltam para sua pátria, para Eretz Israel, que lutou em sete frentes e derrotou os movimentos terroristas. 

Há algumas semanas escrevíamos sobre Trump e os movimentos para transformar as forças e riquezas dos países árabes e de Israel em um polo de negociação. Negócios e não diplomacia. Comprar e vender. Valorar e precificar. O valor absoluto é relativizado para que o bem ou o conhecimento possam ser compartilhados por muitos. Não impedir a apropriação por ideologismos ou por vontade de dominar.

O que vimos foi a reunião de Sharm el-Sheikh no Egito. Foi tudo perfeito? Óbvio que não. Uma das decepções que tive foi, após acompanhar a visita de Trump a Jerusalém e ver o esforço feito para que o primeiro-ministro de Israel estivesse presente em Sharm el-Sheik, notar a sua ausência. Em um jantar de família, no dia 13 de outubro, comentei sobre o convite em cima da hora, mas no dia seguinte vi que tal fato não aconteceu. Os jornais mostraram que o presidente da Turquia soube do fato quando já estava voando para o Egito. Após informar que deixaria de aparecer, foi solicitado ao primeiro-ministro de Israel que não comparecesse.

Problemas existem e devem ser solucionados. A reunião geral e as reuniões paralelas foram muito interessantes e trouxeram um hiato de esperança. Neste mesmo dia encontramos alguns relatos surpreendentes. 

E chegou o dia de Simchat Tora! Uma comemoração incrível no local onde foi o festival NOVA em 7 de outubro de 2023. Danças e cantos e muita alegria unindo o fim da leitura da Torá com o seu início. Unindo o passado ao futuro.

Algo não cala. A força dos números! Foram 738 dias entre aquele ataque hediondo e a libertação dos reféns. 7+3+8 = 18!!! VIDA!!! 

AM ISRAEL CHAI (RAI) VEKAIAM - O POVO DE ISRAEL VIVE E VIVERÁ! 

Aroveitemos estes dias de alegria e criemos um futuro baseado na ESPERANÇA.

Regina
15/10/2025





 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Acontece: País em Festa




Por Juliana Rehfeld


Todos acompanhamos as negociações no Egito sobre os detalhes do acordo de cessar fogo contra troca de reféns por prisioneiros. A notícia no fim de semana já era muito boa, aí entrou nosso medo de acreditar porque o histórico recente tem sido decepcionante e ficamos céticos… mas, temos morado na nossa sucá de esperança, orando e mandando energias positivas, ficado em conexão espiritual com ushpezim e refletido sobre o Lulav - as quatro espécies que celebram a colheita do que plantamos.Nem sempre nós colhemos o que plantamos, há tantas e complexas interferências , mas, com certeza, se não plantarmos dificilmente colheremos. 

Para simbolizar esta festa de Sucot usamos um feixe de três espécies de ramos de plantas e um fruto que representam quatro espécies diversas e nos remetem à diversidade de seres humanos que compõem a comunidade: o etrog (um fruto cítrico), o lulav (um ramo de tamareira), o hadass (ramos de murta) e o aravá (ramos de salgueiro). E por que estes quatro? A tâmara tem sabor mas não tem perfume. Em contraste, a murta é uma planta que tem perfume, mas não sabor; já o salgueiro não tem nem sabor nem perfume. Essas três são unidas ao etrog que, como cítrico, tem tanto sabor como perfume acentuados. E juntos nos remetem a diferentes tipos de relacionamento dos judeus com a Torá e com Deus mesmo. E eu amplio, nos remetem à diversidade humana. E nesta semana seguramos este feixe junto ao etrog e o balançamos unidos em todas as direções, para “espalharmos pela terra” esta união… para mim esta ideia é linda, e se for transformada em ação, isto é, relacionando-nos com Deus e com nossos concidadãos de forma a acolher a diversidade, esta é uma forma de plantar para colher um mundo melhor.

Esta semana a sensação de que o mundo está ficando melhor nos envolveu, mesmo que tenhamos mantido um otimismo cauteloso para nos protegermos do fato de que algo pode dar errado e tudo voltar à estaca zero… a pior guerra de Israel tinha que acabar! E ontem acabou por decreto: os negociadores assinaram o acordo. Faltava a reunião do gabinete israelense para bater o martelo na saída do exército de Gaza. E isso acabou de acontecer neste momento em que escrevo, o país está em festa, em contagem regressiva para a volta dos reféns, mesmo que haja tantos mortos…

O mundo está celebrando o acordo embora ainda proliferem dados errados ou no mínimo discutíveis sobre a guerra e sobre a atuação do exército sobre palestinos em busca de comida ou o “impedimento do avanço da flotilha com pseudo ajuda humanitária"… não há evidência e muito menos motivo para que se atire em famintos recebendo comida, e há evidências (aqui anexa) do aviso à flotilha antes de avançarem explicando a eles onde levar a ajuda humanitária de modo eficaz sem aportar… mas o que interessava à festiva comissão que compôs a flotilha era fazer barulho e aparecer na mídia “sendo detidos e depois deportados” justamente porque sabiam, foram avisados de que isso ocorreria…

Não foi toda a mídia que mostrou mas lindas imagens tomaram conta das redes desde ontem, estamos postando aqui. Soldados em Gaza quase em retirada com lulav na mão celebrando Sucot, balões, flores e borboletas amarelas subindo ao céu, ao som da música que virou hino da volta dos reféns - Habaita (para casa). 

E a mais simbólica das imagens: choveu em Israel, a primeira chuva de outono, e hoje de manhã surgiu um maravilhoso arco-íris no céu em Israel sobre o Mediterrâneo, acompanhado de pombas brancas. Seria uma manifestação divina para marcar o fantástico momento que estamos vivendo? Arco íris - keshet b’anan- arco na nuvem - foi o sinal divino da aliança com Noé pós-dilúvio, quando Deus prometeu nunca mais destruir o mundo…

Nós seres humanos temos hoje tecnologia para destruir o mundo, se não destruir, fazer grandes estragos. Hoje o mundo amanheceu melhor, que detentores do poder e das armas, inspirados por esses lindos sinais passem a prometer não mais se empenhar em destruir, mas usem mais as palavras para plantar melhor convivência na diversidade de pensar e de interesses, para que possamos colher juntos um mundo melhor. 


Shabat Shalom!

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Solilóquio da Esperança

 



É agora... Estou aqui, hoje, e o silêncio me conta que já se passaram dois invernos desde nossas dores. Dois anos desde que a avalanche desceu a montanha, e seu urro ainda espanta o remanso da nossa alma. Tempo de paz fraturada, de sono roubado... Tempo em que a Esperança na Humanidade parecia uma noite em que a Lua some e as trevas dominam...

Mas eis que, no solo endurecido pela tragédia, uma flor teimosa ousa rasgar o concreto. Uma flor de esperança, cujas pétalas são um sussurro de que a vida insiste, de que a Beleza persiste. Uma flor semeada por quem menos se esperava... É a seiva dessa flor que me move hoje, que me convida a descortinar uma nova jornada.

Abrem-se as cortinas do “Esh tá na Mídia” para minhas meditações semanais... Uma tentativa de responder ao grito do antissemitismo não com outro grito, mas com um canto. E qual a melhor forma de cantar essa canção, senão revelando a orquestra inteira? Mostrar as melodias, os valores, a polifonia da diversidade, a complexidade e, sim, os silêncios e as notas dissonantes de um povo tão vasto, plural e luminoso!

E abrirem-se as cortinas, desvelam-se novas possibilidades, novos desafios...  Sentir a leveza da Arte, como a graça de uma dança, como a Beleza da Vida e do Mundo.

Tenho para mim, e isto é apenas o sentir do meu coração, que "O Violinista no Telhado" fez mais pela alma do mundo do que mil tratados. Ele não debateu; ele dançou sobre as telhas da intolerância e convidou a todos para uma ciranda.

As partituras de Bernstein e Gershwin não discursaram; elas verteram em música a própria pulsação da vida, mostrando que a experiência judaica é, em sua essência, a experiência humana.

E aqui mora o Alumbramento, o Encanto. A Arte não esconde as falhas, ela as ilumina com o ouro do sentir. Ela nos revela que a mais sublime Pureza não é a falta de imperfeições, mas a coragem de aceitar nossa Humanidade inteira e, ainda assim, lutar para evoluirmos.

A verdadeira Santidade está em abraçar nossas próprias contradições, nossas sombras e nossa Luz.

É nesse espelho de Humanidade que nos reconhecemos uns nos outros.

Por isso, a resposta mais potente ao ódio que separa é o gesto que une. É entrelaçar nossas mãos, não para erguer muros, mas para tecer um grande manto de pertencimento, onde cada fio, com sua cor e textura, é essencial para a Beleza do todo.

Vamos sorrir juntos?

Muito obrigado.

 

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

 


VOCÊ SABIA? - Catherine Perez-Shakdam

 

Ela se infiltrou no regime de Teerã, e é agora a nova líder do “We Believe in Israel”: Catherine Perez-Shakdam uma vez obteve acesso ao IRGC (Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica) - Iêmen


Por Itanira Heineberg


Você sabia que a jornalista e analista francesa Catherine Perez-Shakdam foi nomeada para liderar o grupo de defesa We Believe in Israel, sucedendo Luke Akehurst, que foi eleito recentemente deputado trabalhista por Durham, na Carolina do Norte, nos EUA?

Ela é ex-consultora do Conselho de Segurança das Nações Unidas para o Iêmen e é conhecida por seu trabalho sobre terrorismo islâmico, radicalização e antissemitismo.

Perez-Shakdam cresceu em uma família judia secular na França e se casou com um iemenita muçulmano, que conheceu na Universidade de Londres.

Ela passou um tempo com o aiatolá Khamenei, bem como com o ex-comandante da Força Quds, Soleimani, e o falecido presidente Ebrahim Raisi. Os encontros a deixaram com uma sensação constante da ameaça iraniana representada pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, IRGC.

Em entrevista ao jornal Jewish Chronicle, JC, ela disse: “Se levarmos a sério o combate ao terrorismo e ao radicalismo islâmico, e defendermos o Estado de Direito, temos que proibir o IRGC.”


Da direita para a esquerda: Catherine Perez-Shakdam, Zaynab Mughniyeh e Zaynab Soleimani (filha do general Soleimani) - Karbala, Iraque 2017


We Believe in Israel liderou apelos para proibir a Frente Popular para a Libertação da Palestina e o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, e liderou uma campanha para remover conteúdo anti-Israel extremo do Spotify.

Perez-Shakdam disse que continuaria em seu novo papel tentando persuadir os políticos do Reino Unido a proscrever o IRGC: "Pretendo priorizar nossos esforços para garantir a proscrição do IRGC, reduzir a influência de Teerã no Reino Unido e me envolver com as mídias sociais para reduzir a deslegitimação anti-Israel.

 

"Também espero aplicar uma abordagem mais baseada em dados aos nossos esforços de campanha, utilizando tecnologias emergentes para refinar nossa produção e maximizar o impacto."


Ela acrescentou estar honrada por ter sido escolhida como sucessora de Luke e sua intenção de fortalecer seu legado, providenciando uma frente unida com todos os apoiadores de Israel na Inglaterra, facilitando uma rede de network de ativistas, assim criando um ambiente político justo e equilibrado para Israel no Reino Unido.

 

Catherine em Teerã


Vejamos agora a jornada de uma mulher judia para o estado terrorista iraniano:

Catherine viveu uma vida muito diferente para jovens de sua geração. Judia, casou com um muçulmano que conheceu ao estudar em Londres porém nunca se converteu ao islamismo. Em 2014 ela se divorciou e se identifica como uma judia sionista.

Enquanto trabalhava como jornalista para a estação de televisão estatal russa RT em 2017, Perez-Shakdam se reuniu com altos líderes iranianos.

Ela passou um tempo com o aiatolá Khamenei, bem como com o ex-comandante da Força Quds, Soleimani, e o falecido presidente Ebrahim Raisi. Os encontros a deixaram com uma sensação permanente da ameaça iraniana do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.

Foi quando ela se deu conta de que para levar a sério o combate  ao terrorismo e ao radicalismo islâmico e defender o Estado de Direito, teria que proscrever o IRGC.

Então veio o ponto de virada, um convite para participar de uma conferência em Teerã em fevereiro de 2017 chamada New Horizons de seu fundador, Talebzadeh.



Perez-Shakdam, hoje em seu novo papel, disse que continuará tentando persuadir os políticos do Reino Unido a proscrever o IRGC: "Pretendo priorizar nossos esforços para garantir a proscrição do IRGC, reduzir a influência de Teerã no Reino Unido e me envolver com as mídias sociais para reduzir a deslegitimação anti-Israel.

A seguir, a história desta jornalista corajosa e ativista em prol da justiça e verdade que se infiltrou no regime de Teerã e conheceu o aiatolá Khamenei:

https://www.thejc.com/news/how-i-infiltrated-the-tehran-regime-and-met-the-ayatollah-nvxd0llz



Para quem realmente se apaixonou pela história dessa bela sionista, temos aqui abaixo um longo vídeo no qual ela foi entrevistada pelo canal IrãInternacional:

De olho no Irã | Episódio 12 | Descubra como uma mulher judia enganou seu caminho para conhecer Khamenei

 


FONTES:

https://www.iranintl.com/en/202507179174

https://www.thejc.com/news/uk/former-muslim-who-infiltrated-the-tehran-regime-is-new-head-of-we-believe-in-israel-y2wvqhpi

https://www.jpost.com/author/catherine-perez-shakdam

https://www.thejc.com/news/how-i-infiltrated-the-tehran-regime-and-met-the-ayatollah-nvxd0llz


Jornalista denuncia Associated Press por ceder à censura do Hamas

 


Fonte: StandWithUs

Para Paula - Osvaldo Bazán

 

Fomos mais que colegas de trabalho — fomos grandes amigos.
A admiração profissional mútua, os gostos em comum, os sonhos sonhados juntos nos foram unindo cada vez mais. Mesmo depois de eu ter deixado a cidade que nos aproximou, seguimos cultivando a amizade: fiquei várias vezes na casa dela quando voltei para lá; ela ficou na minha quando veio para cá.

Claro, crescemos de jeitos diferentes, com vivências distintas e ideias que já não coincidiam tanto. Os gostos foram se separando, mas o respeito pelos tempos compartilhados permanecia. Ainda sonhávamos quase as mesmas coisas, mas cada vez mais divergíamos sobre os caminhos possíveis para chegar a esses sonhos.
Reconheço que fomos honestos com o que pensávamos.

A polarização chegou como um vendaval e varreu tudo.
Nos agarramos a algumas lembranças, mas o que restou foi apenas um cumprimento respeitoso por WhatsApp no aniversário — e às vezes, nem isso.

Até que um dia me apareceu nas redes o seu post: o temido “não é guerra, é genocídio”, com a bandeirinha da moda.

Não sei se acontece com vocês, mas agora entrar nas redes sociais dos conhecidos é como atravessar um campo minado: “Será que esse virou simpatizante dos panos na cabeça ou ainda tem bom senso?”.

As surpresas são constantes.

Abunda gente inteligente que se pendura em todos os discursos do eixo do mal disfarçados de flotilha perroflauta da MuGreta, nesse mar revolto de boas intenções horrivelmente executadas.

Pois bem, um dia —no mesmo em que, viajando por Israel, passei pelo campo desolador onde aconteceu o massacre da festa Nova, onde terroristas, alguns chegando de parapente na madrugada, mataram 364 jovens e sequestraram outros 44 (a maioria já morta em cativeiro), arrastando-os para o inferno que logo completará dois anos— vi a foto daquela pessoa que foi importante na minha vida cravada ali, com o mesmo desdém com que se fazem essas coisas.

“Não é guerra. É genocídio.” E a bandeirinha da moda.

Não sabia do seu interesse por temas do Oriente Médio — mas também não me surpreendeu.

Passamos juntos o tempo da Primeira Intifada, e não lembro que o assunto nos comovesse muito — estávamos mais interessados em rock argentino, pop norte-americano, cinema europeu e literatura latino-americana.

Eu também só comecei a me aprofundar no tema depois das imagens sádicas do massacre de 7 de outubro.

Tampouco sei até que ponto o interesse dela é real — quanto se informou, quais fontes usa, que dados conhece que talvez eu não conheça, o que ignora que talvez eu saiba… enfim, como chegou a uma afirmação tão categórica.

O processo pelo qual o Tribunal Internacional de Justiça concluiu que não houve genocídio por parte da Sérvia nem da Croácia levou 16 anos — de 2 de julho de 1999 até o veredito em 3 de fevereiro de 2015.

O processo que reconheceu o massacre de Srebrenica, em julho de 1995, como genocídio, começou em 1993 e só terminou em 2007.
Quase 14 anos.

Mas minha ex-colega de trabalho, que ouvia Prince e lia Kundera, decretou sentenciosa: “Pim pam pum, não é guerra, é genocídio.” E pronto, vida que segue.

Então decidi escrever pra ela.

Queria entender até onde estava envolvida, quanto o tema a afetava, o que se passava dentro dela para lançar uma frase dessas ao vento — tomar uma posição que, no caso dela (por ser comunicadora, ainda que fosse só nas redes sociais), não é pouca coisa. Há uma responsabilidade aí, não?

Mandei mensagem pedindo uma conversa — vamos falar sobre isso, ver se entendemos melhor.

Nenhuma resposta.

No dia seguinte, mandei de novo.
Nenhuma resposta.
No outro dia, de novo.
Nada.

E assim por vários dias.

Enviei minha crônica de Seul da semana passada e a versão em vídeo que fiz dela.

Ou ela me silenciou, ou simplesmente me ignorou.

Mas o que sei é que não quis discutir.

Ok, é direito dela — são suas opiniões, e quem sou eu pra julgá-las?

Mas, em nome dos anos compartilhados, achei que uma conversa seria pertinente.

Não deu.
Como diria o novo ídolo de Don Costantini, sempre a favor de tudo que é ruim e contra tudo que é bom: “não se pôde”.

Sou meio insistente quando uma ideia me toma, então vou aproveitar este espaço pra dizer a “Paula” (mudei os nomes, deixei só as iniciais) o que teria dito se ela me tivesse deixado.

É isto:

Imagina, Paula, que é sábado de manhã no seu povoado, aquele de que tanto me falava.
Você dorme com seu marido, Daniel, e seus filhos, Leandro e Ana.
De repente, sem saber de onde, entram na sua vila uns 500 homens encapuzados, armados, atirando e matando seu cachorro que descansava no quintal.
Não lembro o nome dele — faz tempo que não nos vemos — mas suponho que ainda dorme debaixo do limoeiro.
Os gritos do cachorro anunciam o horror que começa.
Você e seus filhos correm pro quarto do fundo.
Daniel sai pra ver se encontra algum vizinho pra proteger o povoado.
Você o vê de longe, ele te olha pela última vez… e você sufoca o grito quando vê dois desses barbudos o esfaqueando por trás.

Não vou continuar este texto.
Não consigo.

Queria escrever algo que a comovesse — colocá-la, com sua família, no lugar das vítimas de 7 de outubro.
Mas tentar pôr nos sapatos dessas vítimas os pés de alguém conhecido me ultrapassa.

Não posso seguir adiante.
Nem mesmo como argumento.

Estive em Nir Oz, o kibutz onde tudo aconteceu.
De um terraço, vi a Faixa de Gaza — uma linha cinza, opaca, a pouco mais de um quilômetro.
Vi o portão por onde entraram, o caminho que seguiram, e outras coisas que vou tentar esquecer nos próximos anos, porque não faz bem guardar tanto sofrimento — e que também tentarei lembrar, porque não quero chegar ao fim da vida sem ter presente o tempo que vivi.

Fico com vontade de saber por que “Paula” se interessa tanto pela Faixa de Gaza.
Tem todo o direito de querer ajudar gente que sofre.
É nobre.

O que me intriga é: por que, entre os 110 conflitos armados ativos no mundo hoje (segundo a Academia de Genebra de Direito Internacional Humanitário), ou os 59 listados pelo Índice Global da Paz em 2025 — o número mais alto desde a Segunda Guerra —, ou os 45 da Wikipedia… seu interesse é só por um?

O que está na moda.

Segundo o filósofo e jornalista Miguel Wiñazki, essa escolha tem nome: antissemitismo.

Mas Wiñazki é judeu, e você sabe como são os judeus.
Exageram, mentem, têm nariz adunco e querem roubar a Patagônia — ou, no mínimo, os sorvetes Jauja de El Bolsón.

Tudo o que um judeu diz com nome e sobrenome é “fake”.
A verdade está com os encapuzados, armados, gritando.

Aprendi isso vendo as redes e lendo os grandes meios do Ocidente.
Funcionam assim: checagem oficial pra tudo que vem de países democráticos, e credibilidade absoluta pro “Ministério da Saúde da Palestina” — que, detalhe, é o Hamas.

Ninguém pensa que qualquer informação vinda de um território controlado pelo Hamas é censurada.
Ninguém lembra que Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras só dizem o que os terroristas permitem.

Mas sim, controlemos o Ocidente — porque os terroristas não mentem.

Sigo.

O que mais me impressiona é que ninguém parece perceber o paradoxo: as mesmas pessoas que exigem controle absoluto de tudo o que vem do Ocidente aceitam sem questionar qualquer informação vinda do Hamas.
Basta o logotipo de um canal “alternativo” para que uma frase vire verdade.
Enquanto isso, o Ocidente, o mesmo que nos permite escrever e opinar livremente, é pintado como o vilão.

As redes se encheram de pessoas virtuosas que se declaram “do lado certo da história”, embora nunca tenham aberto um livro de história.
Quando a complexidade aparece, desaparecem também a compaixão e a razão.
Tudo é transformado em espetáculo moral — com bandeirinhas, hashtags e slogans que se repetem sem reflexão.

E é aí que sinto saudade da “Paula” que conheci.
Aquela que lia, que duvidava, que questionava, que sabia ver nuances.
A que tinha humor.
A que preferia uma boa conversa a um rótulo.
Não essa versão reduzida a um post de rede social, reproduzindo certezas de terceiros como se fossem descobertas próprias.

No fundo, não é só sobre ela.
É sobre todos nós — essa pressa de nos alinhar, de gritar certezas antes de entender o que está acontecendo.
Essa compulsão de escolher um lado como se fosse um time de futebol, e não uma tragédia humana.

Mas nada disso muda o que vi.
Vi casas queimadas, brinquedos retorcidos, fotografias carbonizadas.
Vi paredes com marcas de sangue e silêncio no ar.
E vi também o outro lado: jovens com medo, mães desesperadas, civis que não escolheram viver no meio de um inferno político.
A dor não tem dono, mas as escolhas têm consequências.

A palavra “genocídio” — que você, Paula, postou com leveza — é pesada demais pra ser usada como legenda.
Carrega o peso de tribunais, de testemunhos, de séculos de horror.
Não é uma palavra para redes sociais; é uma palavra para a História.

Não pretendo convencer ninguém.
Mas, se me lê, só te peço uma coisa: antes de repetir o que soa bonito, olha para as vítimas — todas elas.
Lembra que por trás de cada bandeira há pessoas, e que o sofrimento nunca é seletivo.

Hoje, se eu pudesse te ver, não pediria explicações.
Te convidaria pra um café, como antes.
Falaria do tempo, de música, de tudo o que nos uniu.
Depois, talvez, te mostraria o que vi — as casas, os nomes, os rostos.
E te perguntaria, baixinho, se ainda acredita que “não é guerra, é genocídio”.

Não pra te vencer num debate.
Mas pra saber se ainda há espaço entre nós para algo que não seja ódio.

Porque o que mais me dói, Paula, não é o que você pensa —
é que tenha deixado de querer conversar.


Tradução adaptada da carta de Osvaldo Bazán, original aqui.