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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ACONTECE: Frágil caminho à frente

 


Por Juliana Rehfeld




Os últimos reféns vivos estão em casa, milhares de prisioneiros palestinos, julgados ou não, foram devolvidos a Gaza, de uniforme mas de armas na mão… a tensão nas rua diminuiu, houve um alívio geral e surgiu a oportunidade de pensar no futuro… isso é fantástico!

Mas estamos longe de um real projeto de paz, como no fundo imaginávamos. No máximo é um frágil cessar-fogo. A relação entre o governo de Israel e o Hamas é de animosidade, até porque além de não ter entregue a totalidade prometida dos corpos de reféns mortos em cativeiro, e de se recusar a entregar armas, o Hamas busca ganhar tempo para se reorganizar.

Há muitas posições pessimistas porque são tantos detalhes e enorme a complexidade e urgência das soluções requeridas para a região, tênue o caminho - para frente ou de volta a uma estaca zero?  Mas há também documentos de investigações sobre a situação real da “fome” em Gaza, números que não negam o desespero e a miséria da população civil mas expõem as fake news contidas e repetidas nas notícias, inclusive as publicadas por organizações oficiais. (Vide análise do relatório da Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC), confrontando mesmo números apresentados pela OMS, Organização Mundial da Saúde!)




O que no entanto me dá alento,  embora não haja mesmo lugar para muito otimismo, é que muitos países, sobretudo árabes, se envolveram na “conferência de paz” de Sharm-el-Sheik e ainda conversam sobre próximos passos em Gaza. Finalmente esses “outros”, que na verdade são, em grande medida, criadores desta “questão palestina” ao não receber e não integrar como cidadãos esta população saída da área que hoje o estado de Israel, agora esses outros estão se envolvendo nas soluções para Gaza, considero isto extremamente importante e bom…

Muita “água ainda vai passar pela ponte”, antes que acordos e planos sejam assinados combinando estes necessários atores mas o fato é que, já na mídia nesta semana, houve mais críticas ao Hamas, e mais manifestações sobre a importância dele ser desarmado, que em muitos anos! Mesmo que Israel não tenha sido poupado... na imprensa mundial, particularmente árabe e especificamente na brasileira. TV francesa em seu World DNA conclama que Hamas se renda e SadaNews diz que governo francês vê reorganização do Hamas pós cessar-fogo como prejudicial à estabilidade e à tranquilidade dos palestinos; O Canadá condena o Hamas, “um grupo terrorista que não deve desempenhar nenhum papel na futura governança de um estado palestino desmilitarizado”.  Analistas dos Emirados Árabes Unidos reforçaram agora sua já expressa posição de que “devemos remover o extremista Hamas do poder em Gaza; seu ataque de 7 de Outubro violou os valores islâmicos e humanos; a Arábia Saudita declarou hoje ao Middle East Eye que se vê no papel ativo de desarmar e marginalizar o Hamas e refundar a Autoridade Palestina para o futuro de Gaza; O jornal egípcio Al-Qahera News, ligado ao governo egípcio, acabou de informar que as negociações entre os dois principais partidos políticos palestinos - Hamas e a rival Autoridade Palestina  - cobriram “o cenário nacional em geral e os arranjos após o fim da guerra na Faixa de Gaza”.

O governo brasileiro não critica, mas no Estadão temos o editorial “A ‘pax terrorista’ do Hamas”,  “o Hamas jamais teve a intenção de transformar a pausa em um caminho para a paz….o grupo usa o cessar-fogo como uma trégua tática projetada para se rearmar e consolidar o poder”.

Estas recentes declarações, antes não ousadas, e o crescente envolvimento de atores que vão necessariamente retirar muita responsabilidade dos ombros de Israel, são definitivamente novidades a serem celebradas, mesmo que devam ser vigiadas de perto e, sobretudo, cobradas diariamente. Essas análises recém ditas e escritas não podem ser “desditas”, elas finalmente tomaram uma posição e fazem parte de uma nova narrativa a ser cuidada, fortalecida com cada vez mais informações de fontes que se preocupam com a sustentabilidade da paz para a região. Que as populações locais, e nossos corações e mentes, possam se recompor e conviver em tranquilidade.

Shabat Shalom


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