Por Juliana Rehfeld
Os últimos reféns vivos estão em casa, milhares de prisioneiros palestinos, julgados ou não, foram devolvidos a Gaza, de uniforme mas de armas na mão… a tensão nas rua diminuiu, houve um alívio geral e surgiu a oportunidade de pensar no futuro… isso é fantástico!
Mas estamos longe de um real projeto de paz, como no fundo
imaginávamos. No máximo é um frágil cessar-fogo. A relação entre o governo de
Israel e o Hamas é de animosidade, até porque além de não ter entregue a
totalidade prometida dos corpos de reféns mortos em cativeiro, e de se recusar
a entregar armas, o Hamas busca ganhar tempo para se reorganizar.
Há muitas posições pessimistas porque são tantos detalhes e
enorme a complexidade e urgência das soluções requeridas para a região, tênue
o caminho - para frente ou de volta a uma estaca zero? Mas há também documentos de investigações
sobre a situação real da “fome” em Gaza, números que não negam o desespero e
a miséria da população civil mas expõem as fake news contidas e repetidas nas
notícias, inclusive as publicadas por organizações oficiais. (Vide análise do
relatório da Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC),
confrontando mesmo números apresentados pela OMS, Organização Mundial da
Saúde!)
O que no entanto me dá alento, embora não haja mesmo lugar para muito
otimismo, é que muitos países, sobretudo árabes, se envolveram na “conferência
de paz” de Sharm-el-Sheik e ainda conversam sobre próximos passos em Gaza.
Finalmente esses “outros”, que na verdade são, em grande medida, criadores
desta “questão palestina” ao não receber e não integrar como cidadãos esta
população saída da área que hoje o estado de Israel, agora esses outros estão
se envolvendo nas soluções para Gaza, considero isto extremamente importante e
bom…
Muita “água ainda vai passar pela ponte”, antes que acordos
e planos sejam assinados combinando estes necessários atores mas o fato é que,
já na mídia nesta semana, houve mais críticas ao Hamas, e mais manifestações
sobre a importância dele ser desarmado, que em muitos anos! Mesmo que Israel
não tenha sido poupado... na imprensa mundial, particularmente árabe e
especificamente na brasileira. TV francesa em seu World DNA conclama que Hamas
se renda e SadaNews diz que governo francês vê reorganização do Hamas pós
cessar-fogo como prejudicial à estabilidade e à tranquilidade dos palestinos; O
Canadá condena o Hamas, “um grupo terrorista que não deve desempenhar nenhum
papel na futura governança de um estado palestino desmilitarizado”. Analistas dos Emirados Árabes Unidos
reforçaram agora sua já expressa posição de que “devemos remover o extremista
Hamas do poder em Gaza; seu ataque de 7 de Outubro violou os valores islâmicos
e humanos; a Arábia Saudita declarou hoje ao Middle East Eye que se vê no papel
ativo de desarmar e marginalizar o Hamas e refundar a Autoridade Palestina para
o futuro de Gaza; O jornal egípcio Al-Qahera News, ligado ao governo egípcio,
acabou de informar que as negociações entre os dois principais partidos
políticos palestinos - Hamas e a rival Autoridade Palestina - cobriram “o cenário nacional em geral e os
arranjos após o fim da guerra na Faixa de Gaza”.
O governo brasileiro não critica, mas no Estadão temos o
editorial “A ‘pax terrorista’ do Hamas”,
“o Hamas jamais teve a intenção de transformar a pausa em um caminho
para a paz….o grupo usa o cessar-fogo como uma trégua tática projetada para se
rearmar e consolidar o poder”.
Estas recentes declarações, antes não ousadas, e o crescente
envolvimento de atores que vão necessariamente retirar muita responsabilidade
dos ombros de Israel, são definitivamente novidades a serem celebradas, mesmo
que devam ser vigiadas de perto e, sobretudo, cobradas diariamente. Essas
análises recém ditas e escritas não podem ser “desditas”, elas finalmente
tomaram uma posição e fazem parte de uma nova narrativa a ser cuidada,
fortalecida com cada vez mais informações de fontes que se preocupam com a sustentabilidade
da paz para a região. Que as populações locais, e nossos corações e mentes,
possam se recompor e conviver em tranquilidade.
Shabat Shalom


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