Hoje
acordei... Dia chuvoso, sabe? É o cinza que desperta o ouro das saudades... Uma
lembrança, será que não seria fantástica? Nunca saberemos...
Eu,
brincando no meu quartinho da bagunça, lá em Jacareí, encontrei um tipo de
bilhete, numa linguagem que eu não entendia. Parecia carcomido pelas traças, cheio
de poeira, teia de aranha. Acho que foi isso que me pegou.
É
que eu tinha acabado de ver o filme do Simbad! Lá pelas tantas dele, tinha se
encontrado com um alquimista, feiticeiro. Era minha brincadeira favorita:
alquimista!
Sabe,
me imaginar de túnica escura, chapéu pontudo, com tubos de ensaio cheios de
líquidos coloridos e fumegantes, fazendo as mais diferentes experiências...
Aquilo era quase doce de leite com paçoca!
Um
pergaminho da antiguidade todo indecifrável! Embaixo das letras indecifráveis,
um desenho: um gigante com cara de poucos amigos e um alquimista sábio – ele
tinha roupão escuro de feiticeiro, mas o chapéu era diferente... Devia ser de
uma outra ordem de magia...
Logo
embaixo 3 palavras enigmáticas – GOLEM – PRAGA – LOEW. Talvez é a cura pr´uma
doença, pensei... Será que a doença é Golem? E Loew? O médico? O feiticeiro? O
sábio? O que seria? Não pensei duas vezes... Tomei o tesouro na mão, e meio que
em pose de quem vai lançar feitiço falei umas palavras aleatórias: ABRACADABRA!
De repente, igualzinho rodamoinho de Saci, tudo
começou a rodar, a ventar... E eu ali. Sem varinha, sem chapéu, sem nada... E a
calma reinou. E quando tudo assentou era o gigante ali. Ele e o alquimista. Bravo.
Ralhou comigo. Eu não entendia uma palavra, mas a reclamação não se perde na
tradução... Queria voltar pro desenho, parece...
Sorri
pro gigante. Ele nem se deu conta. Acho que é tímido, feito eu...
Mostrei
meus brinquedos pr´eles. Pros dois. O sábio olhou tudo, examinou direitinho. Parecia
estar buscando uma pista, uma saída, um amuleto. Um entendimento! O gigante, nada. Parecia que nem era com ele. Daí
olhei bem pros dois. Quem não tem palavra, tem olhar... E sorri.
Sentei.
Meio desconfiado, o mágico sentou. Ele resmungou e o gigante também. Daí pedi
pra ver aquele chapéu. Ele sorriu e deu um tapa na minha mão. Devia ser coisa
séria. Pela primeira vez o gigante me notou.
Sabe
o mais legal? Vocês não vão acreditar! A gente pegou uns brinquedos, uns bonequinhos
GI Joe que eu tinha, e começou a brincar. Cada um do seu jeito. Eu, com minhas
palavras. O sábio, com as dele. O gigante, sem nenhuma... Foi brincadeira pra
mais de metro que a gente fez junto.
Depois,
outra ventania... Acho que o saci também queria brincar, mas quando tudo se
acalmou eles não tavam mais lá...
Só
sei que, pra mim, ficou um amigo feito de silêncio e barro, um sábio curioso, e
um quarto que, por um momento, virou passagem.
E
“Loew”? O que será “Loew”? Nem sei pronunciar isso... Talvez, quem dá vida ao
barro. Talvez quem acende o que estava apagado. Ou só um segredo que o chapéu
guardou e que o gigante preferiu não contar.
O
que será Loew? ... 😉
André
Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais e Inclusão
Social. Comendador Cultural. Escritor e Professor.
www.andrenaves.com
| Instagram: @andrenaves.def

O nosso gigante de Praga!!! Que texto delicioso -
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado!
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