Por Itanira Heineberg
Você sabia que o primeiro cidadão judeu na América do Norte foi também o primeiro açougueiro kosher nos Estados Unidos?
Em seu
livro “The Diary of Asser Levy”, Daniela Weil, grande protetora e admiradora dos
refugiados no mundo, relata a odisseia dos judeus fugitivos de Pernambuco
quando da expulsão dos holandeses do Brasil em 1654.
Durante 24
anos os judeus encontraram um porto seguro na “Colonial Jerusalem”, capital da
colônia holandesa no Brasil. No entanto, ao reconquistarem o território os
portugueses trouxeram de volta a abominável Inquisição, da qual todos os judeus
europeus tentavam se proteger. Quinze caravelas chegaram a salvo em Amsterdã,
mas nosso herói e seus amigos refugiados viveram aventuras incríveis e
inesperadas em sua caravela, felizmente com sucesso ao final de tantas agruras,
carências e apreensões.
Viajemos com Daniela “por mares nunca dantes navegados”, conhecendo a vida deste intrépido jovem que foi o primeiro a preparar a carne kosher em terras da América do Norte.
Após uma
pesquisa detalhada baseada em documentos da época, mapas e fotos, Daniela
relata os acontecimentos no diário de nosso real personagem.
Em entrevista
com Dany ela fala de seu trabalho, de sua compaixão pelos refugiados,
verdadeiros heróis de nosso mundo, de sua inspiração para este livro e sua
necessidade de trazer à luz fatos históricos relevantes esquecidos nas névoas
do passado.
Como
a trajetória de tua família, Europa, Israel, América do Sul, Estados Unidos,
influenciou teu interesse pela história?
Todos
os Judeus têm uma história de diáspora. Minha família, como muitos judeus no
Brasil, sobreviveu ao holocausto. Mas a história dos judeus que sobreviveram à
Inquisição e permaceram judeus é particularmente interessante para mim. Quando
comecei a pesquisar essa história que ouvi quando ainda morava no Brasil, não
tinha ideia de como o Caribe e as Américas eram os lugares perfeitos para os
judeus se "esconderem" durante a Inquisição. Havia milhares de Judeus
no Novo Mundo. É incrível para mim que em Recife houvesse total liberdade
religiosa durante o domínio Holandês, e não uma, mas 2 sinagogas naquela
pequena cidade! E era completamente rodeada pela Inquisição Portuguesa por
todos os lados. Quando o Kahal Zur Israel foi construído em Recife, ainda não
havia uma sinagoga construída nem em Amsterdam! Ao estudar a odisseia dos
judeus de Recife para chegar a Nova York, não pude deixar de pensar em como
Nova York um dia seria o ponto de entrada de tantos outros Judeus. E da minha
própria jornada do Brasil para a América como imigrante, e como foi diferente
da jornada deles. Os 23 Judeus de Recife abriram as portas para muitos que
vieram depois.
Daniela
e família em frente à Sinagoga Kahal Zur, Recife, Pernambuco |
Como foi nascer no Brasil, morar e estudar nos EUA, convivendo com grupos humanos diferentes e diversidades de religião, língua, culturas e níveis de educação?
Nasci
em São Paulo, mas morei nos Estados Unidos por 2 anos quando meu pai foi
transferido por trabalho. Eu tinha 8 anos. Morar no exterior muda as pessoas.
As visões do mundo expandem automaticamente, você entende o mundo melhor.
Quando estudei na Escola Graduada em São Paulo, era uma escola muito
internacional. Eu tinha amigos da Suécia, Dinamarca, Holanda, América, Japão,
Alemanha e Suíça. Eu me tornei muito mais internacional por causa dessa
experiência. Quando fui morar em Houston, fiquei surpresa com o quão
internacional aquela cidade era. Há pessoas lá de todo o mundo, onde quer que
você vá, há diferentes línguas sendo faladas, pessoas praticando diferentes
religiões, muitas culturas... Minha filha estuda em uma escola pública, então
há pessoas pobres e ricas, culturas diferentes, necessidades diferentes. Estar
exposto a isso e ter um melhor entendimento de toda a diversidade do mundo é a
educação mais importante que existe na minha opinião. Quando minha filha tinha
9 anos, fomos morar na Bahia por um semestre pelo mesmo motivo. Queria que ela
conhecesse uma cultura completamente diferente, diferente até de São Paulo.
Quais são teus sentimentos em relação aos refugiados através da história?
Para
mim, os refugiados são as pessoas mais corajosas do mundo. Eles sacrificam tudo
por um futuro melhor para seus filhos. Todos os refugiados passam por jornadas
incrivelmente difíceis. Eles são sobreviventes, embora muitos não sobrevivam. E
quando conseguem chegar ao seu destino, ainda é incrivelmente difícil começar
do zero. Sem dinheiro. Nenhuma ajuda. Não falando a língua. Antagonismo de seu
novo país. Leis e culturas anti-imigrantes. Imigrantes, em muitos casos
refugiados, construíram este país e o Brasil também. Deveríamos sempre
tratá-los bem e com muito respeito.
Conta um pouco sobre tua evolução profissional da Ciência à Arte e à Literatura?
Sempre adorei a ciência, a natureza e a arte. Eu costumava desenhar plantas e insetos e o que via na natureza quando era pequena. Também escrevia histórias em meus livros de desenho. Eventualmente, me tornei bióloga. Eu estudava baleias. Mas acabei sendo contratada para fazer ilustrações para livros de ciências e guias de identificação de baleias. Também escrevi um livro e ilustrei um infantil chamado A Minhoca Dorminhoca (Paulinas) sobre os benefícios das minhocas para a terra. Estagiei numa firma de animação 3D em São Paulo e encontrei uma empresa em Houston que fazia animação 3D e ilustração para ciência e medicina- uma combinação perfeita para mim! Fiquei 7 anos naquela empresa, consegui meu green card e depois minha autonomia no trabalho. Fazia design gráfico em casa. Depois de adotar minha filha da Etiópia, voltei à minha paixão original por livros infantis e ilustração. Amo escrever sobre ciência e história.
Qual é teu trabalho na Pelican? Teus hobbies, tua família? Projetos?
Pelican é minha editora. Eles me permitiram a minha visão para o livro, que é uma mistura de não-ficção e ficção, bastante rara nos livros. Então fiz o layout do livro e a capa também.
Adoro nadar, fazer caminhadas e atividades ao ar livre, meditar e aquarelas.
Meu
próximo projeto é escrever sobre a experiência de minha filha como uma criança
negra em uma escola judaica. Atualmente minha paixão é trabalhar com pessoas
brancas em antirracismo. Criei um projeto educacional na minha sinagoga e
gostaria de expandir para outras sinagogas e organizações.
Daniela
Weil nasceu no Brasil, de refugiados da Europa escapando do Holocausto, estudou
na Escola Graduada de São Paulo, e desde muito jovem demonstrou grande paixão
pela natureza, arte e literatura.
Daniela,
de óculos, e seus colegas na Escola Graduada de São Paulo |
Frequentou a Universidade de Brandeis, em Boston, de onde saiu com certificado de BA em Biologia.
Tornou-se
pesquisadora no campo da Biologia, especializando-se em baleias e golfinhos
também ilustrando seus próprios trabalhos.
Após
produzir vários artigos em ciência e história, Daniela iniciou a criação de
seus primeiros livros especializando-se em material literário para jovens
alunos adolescentes.
Daniela
vive em Austin, Texas, com seu esposo Erik e sua filha Lucy.
FONTES:
ENTREVISTA VIA E-MAIL COM A AUTORA DANIELA WEIL
The Diary of Asser Levy, First Jewish Citizen of New York – A novel based on real events by DANIELA WEIL
https://www.goodreads.com/book/show/52541627-the-diary-of-asser-levy
https://books.google.com.br/books/about/The_Diary_of_Asser_Levy.html?id=VUbqyQEACAAJ&redir_esc=y
http://www.danielaweil.com/the-diary-of-asser-levy.html
https://www.jewishbookcouncil.org/book/the-diary-of-asser-levy-first-jewish-citizen-of-new-york
https://www.instagram.com/weildaniela
facebook.com/danielaweil
http://www.danielaweil.com/the-diary-of-asser-levy.html
Muito interessante esse artigo
ResponderExcluirDaniela retrata a luta da sobrevivência de vida e valores.