Construindo o futuro
Detail from "Jews Praying in the Synagogue on Yom Kippur" by Maurycy Gottlieb, 1878. (Wikimedia Commons) |
Estamos no período de Iamim Noraim, entre Rosa Hashaná e Iom Kipur, quando a proposta judaica é de entrarmos num processo de avaliação do ano anterior, uma reflexão sobre nossos acertos e nossos erros, um plano de correção de erros e um compromisso com as ações de ajuste no próximo ano, tudo na esperança de que sejamos inscritos no livro da vida do próximo ciclo. Mas, como sabemos que somos humanos e poderemos falhar em algumas promessas, pedimos de antemão perdão àquelas pessoas com quem erramos e por último, pedimos perdão a Deus pelo que não conseguiremos cumprir; o pedido carrega a esperança de que nossa inscrição no livro da vida, no presente caso, do ano de 5783 seja confirmada com um carimbo. A cada ano mergulhamos neste “túnel do tempo” olhando para o passado recente e emergimos, ao final de Iom Kipur, famintos pelo jejum, mas fortalecidos pela perspectiva da renovada oportunidade de construirmos mais um ano de nossa vida. E esse processo acontece ao mesmo tempo na nossa individual intimidade com a nossa crença e coletivamente nas sinagogas do mundo inteiro, de todas as correntes religiosas. E então ouve-se o toque do Shofar para anunciar que um novo tempo chegou. Assim, vamos construindo, de passo em passo, o nosso futuro, de nossa família, da comunidade em que nos inserimos, na sociedade mais ampla, no país e no planeta que habitamos.
Quero ligar isso com falas do discurso na ONU, na semana passada, do Primeiro Ministro de Israel, Yair Lapid, cujo “link” trouxemos na última Newsletter e ficamos de comentar. Ele rapidamente percorre a história desde o Holocausto revelado em 1945 e a resolução 181 da própria ONU em 1947 para a partilha da Palestina até o atual país moderno, próspero, democrático. Ele lança a pergunta: como conseguimos chegar até aqui? E responde...
"Nós escolhemos não nos manter na dor do passado (como vítimas)…
Mas sim focar na esperança do futuro.
Nós escolhemos investir nossa energia na construção de uma nação.
Na construção de uma sociedade feliz, otimista e criativa.
Nosso futuro certamente depende do que vamos construindo, tijolo a tijolo, ano a ano. Aprendendo do passado e projetando para o futuro. Um futuro que será nosso legado aos nossos filhos e netos: valores ensinados, explicações claras, posições transparentes e firmes, rituais significativos, comunidades consistentes e colaborativas, sociedade justa, inclusiva, planeta habitável.
Sendo humildes temos de reconhecer que muitas vezes não conseguimos atingir o que planejamos mas, se não fizermos esta construção, com escolhas conscientes e corajosas, com parceiros que também escolhemos, é certo que nunca atingiremos.
Ao final de seu discurso Lapid, conclamando os palestinos para a paz, cita a benção que sempre fazemos, também em Iom Kipur:
ישא השם פניו אליך וישם לך שלום
Que Deus levante seu rosto para ti e te dê a paz
E faço minha também está benção, desejando a todos uma boa reflexão esta semana, Shabat Shalom e que sejamos inscritos e carimbados no livro da vida de 5783 - Gmar Chatimá Tová
*Aqui seguem mais extratos traduzidos desse discurso.
** Aqui há um vídeo importante mostrando o apoio de mulheres israelenses as mulheres iranianas que vem sofrendo violência no Irã.
*** As construções do passado são o objeto da arqueologia, podemos formar uma ideia do que queriam nossos antepassados e entender o seu legado para nós… veja resumo de Guilherme Susterás sobre evento na USP esta semana