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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Editorial - construindo o futuro

Construindo o futuro


Detail from "Jews Praying in the Synagogue on Yom Kippur" by Maurycy Gottlieb, 1878. (Wikimedia Commons)



Estamos no período de Iamim Noraim, entre Rosa Hashaná e Iom Kipur, quando a proposta judaica é de entrarmos num processo de avaliação do ano anterior, uma reflexão sobre nossos acertos e nossos erros, um plano de correção de erros e um compromisso com as ações de ajuste no próximo ano, tudo na esperança de que sejamos inscritos no livro da vida do próximo ciclo. Mas, como sabemos que somos humanos e poderemos falhar em algumas promessas, pedimos de antemão perdão àquelas pessoas com quem erramos e por último, pedimos perdão a Deus pelo que não conseguiremos cumprir; o pedido carrega a esperança de que nossa inscrição no livro da vida, no presente caso, do ano de 5783 seja confirmada com um carimbo. A cada ano mergulhamos neste “túnel do tempo” olhando para o passado recente e emergimos, ao final de Iom Kipur, famintos pelo jejum, mas fortalecidos pela perspectiva da renovada oportunidade de construirmos mais um ano de nossa vida. E esse processo acontece ao mesmo tempo na nossa individual intimidade com a nossa crença e coletivamente nas sinagogas do mundo inteiro, de todas as correntes religiosas. E então ouve-se o toque do Shofar para anunciar que um novo tempo chegou. Assim, vamos construindo, de passo em passo, o nosso futuro, de nossa família, da comunidade em que nos inserimos, na sociedade mais ampla, no país e no planeta que habitamos. 

Quero ligar isso com falas do discurso na ONU, na semana passada, do Primeiro Ministro de Israel, Yair Lapid, cujo “link” trouxemos na última Newsletter e ficamos de comentar. Ele rapidamente percorre a história desde o Holocausto revelado em 1945 e a resolução 181 da própria ONU em 1947 para a partilha da Palestina até o atual país moderno, próspero, democrático. Ele lança a pergunta: como conseguimos chegar até aqui? E responde...


"Nós escolhemos não nos manter na dor do passado (como vítimas)… 

Mas sim focar na esperança do futuro.

Nós escolhemos investir nossa energia na construção de uma nação.

Na construção de uma sociedade feliz, otimista e criativa. 

Nós não apenas chegamos à Terra Prometida como estamos construindo a Terra Prometida."



 

Nosso futuro certamente depende do que vamos construindo, tijolo a tijolo, ano a ano. Aprendendo do passado e projetando para o futuro. Um futuro que será nosso legado aos nossos filhos e netos: valores ensinados, explicações claras, posições transparentes e firmes, rituais significativos, comunidades consistentes e colaborativas, sociedade justa, inclusiva, planeta habitável. 

Sendo humildes temos de reconhecer que muitas vezes não conseguimos atingir o que planejamos mas, se não fizermos esta construção, com escolhas conscientes e corajosas, com parceiros que também escolhemos, é certo que nunca atingiremos. 


Ao final de seu discurso Lapid, conclamando os palestinos para a paz, cita a benção que sempre fazemos, também em Iom Kipur:



ישא השם פניו אליך וישם לך שלום

Que Deus levante seu rosto para ti e te dê a paz


faço minha também está benção, desejando a todos uma boa reflexão esta semana, Shabat Shalom e que sejamos inscritos e carimbados no livro da vida de 5783 - Gmar Chatimá Tová


*Aqui seguem mais extratos traduzidos desse discurso.


** Aqui há um vídeo importante mostrando o apoio de mulheres israelenses as mulheres iranianas que vem sofrendo violência no Irã.


*** As construções do passado são o objeto da arqueologia, podemos formar uma ideia do que queriam nossos antepassados e entender o seu legado para nós… veja resumo de Guilherme Susterás sobre evento na USP esta semana

O discurso de Yair Lapid

 

Abaixo, o vídeo do discurso que o Primeiro-ministro de Israel, Yair Lapid, fez ontem (22 de setembro de 2022) na Assembleia-geral da ONU. 




Em seu discurso, Lapid se referiu aos recentes Acordos de Abraão, em construção, que levaram meses atrás à Cúpula do (deserto de) Neguev. Lá estavam reunidos , além de Israel e EUA, ministros do Egito, dos Emirados Árabes Unidos, do Marrocos e do Bahrein, quando ocorreu um atentado terrorista perto de Tel Aviv matando dois israelenses. “A Cúpula formal e unanimemente condenou o terror”.  E para além dessa essencial posição conjunta, “foram criados grupos de trabalho para tratar de questões tecnológicas, segurança alimentar, energia, água, educação e infraestrutura. Esses grupos de trabalho estão, neste exato momento, mudando a cara do Oriente Médio”.

E pergunta : “ Quem está se saindo melhor? Aqueles que escolheram o caminho da paz, ou os escolheram o caminho da guerra? Aqueles que escolheram investir em seu povo e país ou aqueles que escolheram investir na destruição de outros? Aqueles que acreditam em educação, tolerância e tecnologia ou aqueles que acreditam em intolerância e violência? “

E convida “A quem encontro que tem críticas a Israel eu respondo: Venha nos visitar, venha e conheça o Israel real, você vai se apaixonar!

Um país que combina inovação de tirar o fôlego com um profundo senso da história, Grande população, grande comida, grande espírito, uma democracia vibrante, na qual judeus, muçulmanos e cristãos vivem juntos com plena equidade de cidadania. No meu governo há ministros árabes, é um partido árabe na nossa coalizão; temos juízes árabes na Suprema Corte, médicos árabes salvando vidas em nossos hospitais.

Os árabes israelenses não são nossos inimigos, são nossos parceiros na vida, venha nos visitar!” 

E isso Lapid contrapõe à máquina de “fake news”, citando casos de alegadas matanças por soldados de Israel, que atingem a grande imprensa , e mostra, com fonte, como fotos e até vítimas são inventadas. “A indústria do ódio até fábrica bandeiras de Israel para filmar continuamente a sua queima !” Finalmente aponta o dedo para o Irã como patrocinador do terror mundial e na região, “ enquanto jovens iranianos e iranianas sofrem e padecem sob as algemas do regime do Irã , e o mundo se cala” … mas reafirma que “… agora os judeus têm um país e temos um forte exército, temos capacidade e armas para nos defender e não ficaremos parados enquanto há quem tenta nos matar. Não de novo. Nunca mais!”

Israel quer a paz “mas apenas se esta nos der segurança….“temos feito tudo que o mundo nos pediu”… “quando saímos de Gaza há 17 anos desmanchamos acampamentos, retiramos nossas bases militares, não há nenhum soldado israelense em Gaza, até deixamos 3000 estufas agrícolas para que pudessem começar a construir uma economia própria, mas o que ocorreu foi que menos de um ano depois o grupo terrorista Hamas subiu ao poder e destruíram as estufas e as substituíram por campos de treinamento de terroristas e plataformas de lançamentos de foguetes. Desde que saímos de Gaza mais de 20 mil foguetes e mísseis foram lançados contra Israel, todos contra civis, todos contra nossas crianças ” Lapid revela que tem uma filha autista e conta como é difícil conduzi-la correndo para um abrigo ao sinal de ataque com mísseis…

Lapid apoia a criação de um estado Palestino ao lado de Israel . “A paz é uma decisão corajosa que podemos tomar. Paz não é sinal de fraqueza, ela incorpora todo o poder do espírito humano. Guerra é rendição a tudo de mal que existe em nós. A paz é a vitória de de tudo que é bom.”

Conclama propõe ajudar, lembra que apresentou um abrangente plano de reconstrução para Gaza mas conclama os palestinos a baixarem suas armas. “Parem de lançar mísseis contra nossas crianças, … e vamos construir sua economia juntos. Podemos construir seu futuro, tanto em Gaza como na Cisjordânia. Abaixem as armas e provém que o Hamas e a Jihad Islâmica não vão se apossar do Estado Palestino que vocês querem criar. Abaixem as armas, e então haverá paz.”

E continua: “O ônus da prova não é nosso. Já provamos o nosso desejo pela paz, o acordo com o Egito já tem 43 anos, e aquele com a Jordânia, 28 anos. Nós mantemos nossa palavra e assina acordos. Os Acordos de Abraão , a Cúpula do Neguev e acordos assinados com o mundo árabe.”

Todos os judeus conhecem estas palavras: 


ישא השם פניו אליך וישם לך שלום

Que Deus levante seu rosto para ti e te dê a paz


E adiciona: o Estado de Israel é o único país fundado por um livro. O Tanach. Esse livro é os princípios da liberal democracia nos requer estender a mão para a paz. É nossa história nos requer olhar claramente e sermos cuidadosos. Foi assim que fizemos paz no passado, e é assim que faremos paz no futuro.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Ano Novo: Ajudar, Amar, Repensar a própria Vida!

 

SHANAH TOVAH

FELIZ ANO NOVO

Por Itanira Heineberg



As Grandes Festas Judaicas estão chegando! Estamos nos 10 dias de Arrependimento, em meio aos dias terríveis de Iamim Noraim, da convocação até a absolvição - momento adequado para ouvir as palavras de Leonard Cohen em 1974: quem morrerá pelo fogo?

Você sabia que o famoso músico poeta inspirou-se na mais sagrada oração de Rosh Hashanah, Unetanah Tokef, o momento do sopro do shofar, para compor “Who by Fire”, “Quem pelo Fogo”?



Leonard Cohen, escritor, profeta, eterno otimista/pessimista, famoso por seus livros, poemas e composições musicais, nasceu no Canadá no seio de uma família judaica obediente aos mandamentos da Torá, observante do descanso semanal do Shabbat e dos Grandes Feriados Religiosos. Era uma família centrada na vida judaica e testemunha do monoteísmo.

Cohen sempre se preocupou com temas judaicos e em seu primeiro romance, “The Favorite Game” ou “O Jogo Favorito”, demonstra seu desagrado ao constatar uma mudança dentro do seu judaísmo - o judaísmo de sua infância, o verdadeiramente espiritual e religioso - despencando para o superficial e material.

Ao se tornar um monge budista, ele afirmou: "Não estou procurando uma nova religião. Estou muito feliz com a antiga, com o judaísmo".

Escrever os versos do poema “Who by Fire” foi um alerta a todos sobre o julgamento de cada ser humano após o arrependimento e os prognósticos para o novo ano.

 

 “O poema litúrgico “Unetaneh Tokef”, cuja tradução aproximada é ‘Expressemos a poderosa santidade deste dia’, é um dos mais solenes, recitado nas Grandes Festas, descrevendo uma longa lista das várias maneiras de que se pode morrer no ano vindouro. As suas palavras inspiram temor e esperança, como podemos observar na passagem seguinte:

 

Em Rosh Hashanah é inscrito/e em Yom Kippur é selado:

Quantos irão falecer e quantos nascerão;

Quem deve viver e quem morrerá;

Quem em seu tempo e quem antes do tempo;

Quem pelo fogo e quem pela água;

Quem pela espada e quem pela fera;

(…)

Mas o arrependimento, prece e caridade revogam este grave decreto.”

 

Podemos assistir abaixo uma gravação de Cohen cantando sua versão desta oração sagrada:



 

A seguir os versos originais e, logo após, sua tradução:

 

And who by fire, who by water,

who in the sunshine, who in the nighttime,

who by high ordeal, who by common trial,

who in your merry merry month of may,

who by very slow decay,

and who shall I say is calling?

 

And who in her lonely slip, who by barbiturate,

who in these realms of love, who by something blunt,

and who by avalanche, who by powder,

who for his greed, who for his hunger,

and who shall I say is calling?

 

And who by brave assent, who by accident,

who in solitude, who in this mirror,

who by his lady's command, who by his own hand,

who in mortal chains, who in power,

and who shall I say is calling?

 

Tradução:

Quem pelo fogo

E quem pelo fogo, quem pela água,

quem à luz do sol, quem à noite,

quem por alta provação, quem por sofrimento comum,

quem em seu feliz feliz mês de maio,

quem por decadência muito lenta,

e quem eu devo dizer que está chamando?

 

E quem no próprio solitário deslize, quem por barbitúricos,

quem naqueles campos do amor, quem por algo direto,

e quem pela avalanche, quem pela pólvora,

quem por sua ambição, quem por sua fome,

e quem eu devo dizer que está chamando?

 

E quem por bravo consentimento, quem por acidente,

quem em solidão, quem neste espelho,

quem por ordem da mulher, quem por sua própria conta,

quem em correntes mortais, quem no poder,

e quem eu devo dizer que está chamando?

 

E assim, neste espírito de introspecção, imbuídos da espiritualidade de Cohen, tomemos nosso tempo para refletir e desejar a todos que nos cercam um novo ano de paz, saúde e muitas felicidades. Escutar o shofar é uma mitzvah, um mandamento e a promessa de um ano novo abençoado.



O som deste instrumento milenar, feito de um chifre de carneiro casher, é uma prece sem palavras com uma mensagem de redenção e arrependimento para todo o Povo de Israel.

 

Segundo Maimônides, o som do shofar parece dizer: ‘Acordai de vosso sono e ponderai sobre os vossos feitos; lembrai-vos do Criador e voltai a Ele em penitência. Não sejais daqueles que perdem a realidade de vista ao perseguir sombras ou esbanjam anos buscando coisas vãs que não lhes trarão proveito. Olhai bem para dentro de vossas almas e considerai vossos atos; abandonai os caminhos errados e os maus pensamentos e voltai a D'us, para que Ele tenha misericórdia convosco!’"

 

Aqui fico desejando a todos os leitores um feliz 5783, que sejamos todos absolvidos e inscritos no Livro da Vida, Gmar Hatimah Tovah, uma boa assinatura.

Seguindo o mandamento ou mitzvah desta Festa, sugiro que escutem o vídeo abaixo com uma bela sinfonia de shofarot:


 

FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/rosh-hashanah-faq-all-about-the-jewish-new-year/#anchor7

https://www.myjewishlearning.com/article/leonard-cohen-poet-prophet-eternal-optimist/

https://www.letras.mus.br/leonard-cohen/8037/traducao.html

http://zivabdavid.blogspot.com/2013/08/who-by-fire.html

http://www.shofarot-israel.com/index.php/o-shofar/o-shofar-durante-a-epoca-biblica-e-ate-a-destruicao-do-segundo-templo/

http://www.morasha.com.br/rosh-hashana/o-toque-do-shofar-e-seus-simbolismos.html

 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Editorial - Ser uma Luz para as Nações: Benção ou Maldição?

 Ser uma Luz para as Nações: Benção ou Maldição?



Cisjordânia, Posto de Controle de Jalamah, 13 de setembro de 2022: dois primos palestinos, de 22 e 23 anos, atacam soldados israelenses. Matam um oficial israelense, e são mortos.

Cisjordânia, Kafr Dan, 15 de setembro de 2022: o Tzahal vai à vila onde moravam os primos palestinos para demolir a casa onde viviam. Outro adolescente palestino atira um coquetel molotov contra a tropa israelense e morre com um tiro na cabeça.

Chile, Santiago, 15 de setembro de 2022: o Presidente chileno Gabriel Boric adia o recebimento das credenciais do embaixador israelense depois de saber da morte do menor palestino.

Portal Deutsche Welle, espanhol, 16 de setembro de 2022: a atitude do Presidente Boric é noticiada, fazendo referência a Israel como “o Estado judeu” .

Uma sequência de fatos que pode ter uma análise fácil, quase óbvia: fomos atacados, nos defendemos, e as críticas têm origem antissemita.

Mas será tão simples assim?

Jovens negros desarmados são mortos no Brasil, todos os dias. Quando esses fatos são noticiados, nunca nosso País é citado como “o Estado cristão”. Por quê? Será que a resposta cômoda de antissemitismo é suficiente?

Fato é que o Mundo acompanha intimamente as ações dos judeus e exige que tenham elevadíssimos padrões éticos e de Justiça. O mesmo não é exigido com a mesma intensidade de outras pessoas, culturas e países.

Queiramos ou não, gostemos ou não, somos uma luz para as nações. O que se espera de nós é que cumpramos os comandos divinos. Cabe a nós escolher entre as mitzvot - e as bênçãos e a vida; ou rejeitá-las, e ter de lidar com as maldições e a morte.

A morte que Moisés cita na parashá Nitzavim, lida esta semana, não é a inevitável morte física, destino certo de todo ser vivo. É a ‘morte’ de uma vida digna e honrável, que é obtida quando a sociedade cuida, protege, educa, e investe em todos os vulneráveis, sem nenhuma exceção. Incluindo estrangeiros e inimigos.

Essa ‘morte’, nos ensina Moisés, pode se estender a nossos filhos, que se dedicarão às idolatrias, antigas e modernas. Serão pessoas que acreditarão que seu sustento, sua saúde, sua paz, sua fortuna... tudo que desejam será obtido apenas por suas próprias mãos – essa idolatria ancestral -, explorando gananciosamente outros seres humanos, outros seres vivos, o Planeta.

Pessoas que viverão acreditando que sua satisfação virá do dinheiro, do patrimônio, das ‘redes de contato’, das vestes de grifes. Será uma sociedade que seguirá líderes sem questionamento, sem limites, para a tirania, para a destruição. Se tentará obter a segurança com armamentos, muros, grades...

Quando vemos jovens israelenses e palestinos morrendo prematuramente, incessantemente, sendo louvados por todos como heróis, um sentimento de incômodo se instala em meu coração. Algo está errado, não estamos alcançando bênçãos e vida, mas maldições e morte; e talvez a responsabilidade não seja apenas do ‘inimigo’.

Sobre os fatos que ocorreram na semana passada em Jalamah e Kafr Dan, não consigo criticar, mas também não posso louvar. Afinal, todos morreram em meio à violência de cercas, armas de fogo, destruição de residências, bombas.

Talvez aqueles quatro rapazes tenham sido envolvidos por contextos sociais que levam à idolatria de um discurso de poder. Com certeza também não é tão simples assim, essa não é a única explicação.

E em meio a esse conturbado cenário, muito difícil de lidar, que a lembrança dos nomes desses seres humanos nos inspire a achar meios para outro caminho, no qual seja possível mostrar para a humanidade que é possível trocar as espadas por arados: Bar Falah (‘filho do progresso’), Ahmed (‘o mais elogiado’), Abdul Rahman (‘servo do misericordioso’) e Udai (aumentar): Progresso compartilhado, elogio das qualidades comuns, solidariedade, aumento das bênçãos.

Nesse domingo, 25 de setembro de 2022, inicia o período que nossos Sábios chamam de “Dias Temíveis”. São momentos em que o Judaísmo nos sugere que pensemos sobre nossas ações coletivas; que em comunidade estudemos textos de nossa liturgia. São dias em que, juntos, nos arrependemos de todos os desvios que nos afastaram como sociedade da vida e das bênçãos.

Quem sabe há esperança de retornarmos às bênçãos se for possível o contato com o outro com respeito, se for feita uma busca conjunta de soluções para o convívio, se as crianças de todas as etnias forem colocadas para brincar e estudar juntas, se as mães e os pais de todos os povos não precisem chorar suas perdas....


Shabat Shalom!


Angelina Mariz de Oliveira



quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Notícias de Israel

 

Israel & Grã-Bretanha – uma brasileira em Israel

Por Regina P. Markus

 

Bom dia a todos os leitores da EshTánaMídia. Muito bom estar de férias a 10.000 km de São Paulo e também em casa. Estou em uma pequena cidade de Israel (Ramat haSharon) que fica ao norte de Tel Aviv e “grudada” em Herzlia, que é mais ao norte. Esta cidade teve origem em um Moshav fundado antes de 1948 (ano da fundação do Estado de Israel). Desta época rural, guarda uma marca muito interessante: há um espaço grande, cercado por um rota para pedestres, onde muitos vão se exercitar. No centro há uma plantação de vegetais e algumas frutas que são vendidas para a população local. Assim, mesmo morando em uma cidade, algumas frutas e verduras podem vir direto da horta. Se há anos eu lastimava que não tínhamos nada parecido no Brasil, hoje apenas fecho os olhos e lembro de várias paredes verdes que se pode ver na zona da Av. Paulista/ 9 de Julho onde são plantadas verduras. A população que mora em uma zona muito central de São Paulo achou uma forma de ter hortas verticais.

 

O Império Britânico ocupou uma enorme área na Ásia e Oriente Médio. Ao final da 1ª Guerra Mundial as terras do Império Otomano foram divididas entre a França e a Grã-Bretanha. Na Conferência de San Remo (19 a 26 de abril de 1920) ficou acordado que os franceses assumiriam o controle do que é hoje Líbano e Síria e os Britânicos ficariam com o que hoje é Israel, Jordânia, Iraque e Kuait. Os israelenses têm uma memória vívida dos ingleses. Quando acompanhamos a problemática política, a memória sempre nos parece negativa.

 

Mas...

 

Nestes dias que seguem o falecimento da Rainha Elizabeth II z’l, observei que independente do ambiente, o nome da rainha é mencionado e honrado. O mesmo vejo acontecer com o Rei Charles III na casa de parentes e amigos, entre amigos pesquisadores no Instituto Weizmann de Rehovot e nas ruas. Conversando com colaboradores do Brasil, fica evidente que o tema é universal, mas o grande envolvimento é local.

 

Ao ler os textos do Editorial da EshTáNamída da semana passada e também seguir os noticiários, fica muito evidente que há uma relação direta da Casa Real Britânica atual e os judeus. Há um reconhecimento das ações da Rainha Elisabeth II z’l para a abertura das fronteiras inglesas para adultos e crianças que fugiam do nazismo e mais recentemente, uma importante amizade com o então Rabino Mór da Grã-Bretanha Jonathan Sacks. O atual Rei Charles III partilha das mesmas conexões e quando visitou Israel fez questão de ir a Yad Vashem, onde se relembra os mortos pelos nazistas e se homenageia e reverencia os que salvaram vidas. Rei Charles III homenageou a todos de forma geral, e em particular sua avó a Princesa Alice da Grécia, que dedicou sua vida aos menos necessitados e que é uma “Justa entre as Nações”.

 

Tudo o que escrevi já foi escrito milhares de vezes nestas semanas – qual a diferença então? Escutei parte da história do tintureiro, uma outra da moça do supermercado, que era mulçumana, e mais um pouco de um rapaz que estava esperando o trem. Pessoas da família contam e recontam a mesma história, e cada um, na dependência de quando emigraram para Israel ou se aqui nasceram, têm memórias diferentes. Os fatos relatados variam, mas o respeito pela Casa Real Britânica é quase unânime e isolado da política inglesa em relação a Israel e ao Oriente Médio.

 

Fico com a sensação que apesar de tudo de negativo que vemos e ouvimos, a Voz do Povo consegue filtrar décadas de informação e vivência e saber que a vida não é uma moeda de dois lados, mas um prisma magnífico que sabe filtrar uma quantidade infinita de ondas, e em algum momento destilar o lado positivo.

 

Saudades de todos e que este mês de Elul, além de permitir reconciliações, permita que filtremos o bom de todas as nossas vidas.

 

Regina P. Markus

 


segunda-feira, 19 de setembro de 2022

VOCÊ SABIA? - Sinagoga com chão de areia?

 

Shaar Shalom, na Jamaica: uma das poucas sinagogas caribenhas com um chão que abafa o som de passos.

Por Itanira Heineberg



Você sabia que, com a maldade e injustiça da Inquisição no final do século XV, todos os judeus que puderam fugir da península ibérica levaram consigo sua religião, seus livros, torás e objetos sagrados e construíram suas próprias sinagogas em vários recantos do mundo?

Os judeus jamaicanos hoje constituem uma pequena, mas vibrante comunidade religiosa estabelecida atualmente na capital de Kingston.

 

 “Enquanto o núcleo da comunidade traça sua ascendência à Península Ibérica e ao êxodo judaico que começou no final do século XV, os judeus jamaicanos hoje vêm da Polônia, França, Itália, África, Israel, Turquia e muitos outros lugares. Eles têm suas próprias receitas exclusivas para os pratos tradicionais jamaicanos mais amados - incluindo ackee e peixe salgado, bammy frito (um pão achatado de mandioca), fruta-pão, e outras guloseimas típicas - e sua principal sinagoga é uma de apenas um punhado no mundo com um piso de areia.

Enquanto cerca de 22.000 judeus viviam na ilha, a população judaica hoje é de apenas cerca de 450 pessoas.”

 

As origens destes judeus divergem: de Portugal, onde foram traídos pelo rei D. Manuel I da Espanha, já fugindo nas naus de Cristóvão Colombo; das colônias portuguesas de Hamburgo, Londres, Livorno; de Amsterdã para o nordeste do Brasil, especificamente Pernambuco, onde viveram em paz durante o governo de Maurício de Nassau, um nobre holandês que dirigiu a colônia lá estabelecida pela Companhia das índias Ocidentais até serem expulsos pelos portugueses em 1654.

Em 1655 os britânicos colonizaram a Jamaica e uma nova onda de imigrantes judeus para lá se dirigiu.

 

“Sob os britânicos, tornou-se legal praticar o judaísmo, o que por sua vez levou ao estabelecimento da primeira sinagoga da ilha em Port Royal, um movimentado centro comercial conhecido como base de piratas. Pouco se sabe sobre esta sinagoga, que foi destruída junto com grande parte da cidade em um terremoto e tsunami em 1692.”

Lápide de cemitério com letras judaicas e o símbolo dos piratas - caveira com dois ossos.


Muitos judeus foram expulsos de suas propriedades praticamente com a roupa do corpo, viajando fugitivos nos navios pelo Oceano Atlântico. Sem posses, sem documentos, bastardos e sem pátria, ficaram conhecidos como vagabundos, muitos unindo-se aos piratas europeus que os aceitavam e com eles partilhavam os lucros das conquistas. E assim, nas ilhas do Caribe, criaram uma vida nova e fortaleceram-se, tornando-se piratas orgulhosos de suas origens, encontrando uma liberdade que na Europa dominada pela Inquisição já não possuíam.

E com os resultados de suas conquistas marítimas, ajudavam os judeus mais pobres e a comunidade de um modo em geral, sempre obedecendo o preceito judaico primordial de praticar a caridade e seguindo ”kol Israel arezim ze baze” , outro preceito judaico que aprendi com nosso colega Guilherme Susteras, “cada um é responsável por aqueles ao seu redor”.



“Unindo-se às naus piratas de holandeses e ingleses, tomavam os produtos de saques espanhóis e portugueses roubados dos indígenas e povos pré-colombianos do México, das Antilhas e da América do Sul, principalmente ouro, prata e diamante, a fim de que estes tesouros não chegassem às mãos de governantes da península Ibérica e Itália, que eram comandados pela Igreja, com consequente enriquecimento desta. Era a vingança contra todos e tudo que passaram na Europa, constituindo um verdadeiro golpe contra as gloriosas armadas espanhola e portuguesa, ditas como invencíveis, espalhando terror entre todos.”


De mercadores, intelectuais e astrônomos a intrépidos aventureiros nos mares do Caribe... uma desforra inusitada...


Já no século XXI, Edward Kritzler pesquisava a história de Jamaica na Biblioteca Nacional da capital quando se deparou com uma interessante narrativa de 1642 no diário de William Jackson, um pirata britânico. Ali, ele relata o encontro na ilha com judeus portugueses que sub-repticiamente se ofereceram a desvendar o local onde os espanhóis guardavam suas riquezas.

Edward aprofundou seus estudos e em 2008 publicou o livro “Piratas Judeus do Caribe” onde relata todos os acontecimentos humilhantes e dolorosos pelos quais os judeus passaram com a Inquisição e os caminhos que estes judeus percorreram para se salvar, recomeçar uma nova mas santa vida e proteger seus descendentes. E na sequência da história, Edward apresenta a saga daqueles que se lançaram ao mar como uma opção de sobrevivência.

Ali aparecem os irmãos Abraão e Moisés Cohen Henriques, Yaakov Koriel e David Abravanel, judeus ‘Portugueses’ ao lado dos holandeses ou dos ingleses contra os espanhóis, a Inquisição e o Santo Ofício. É interessante lembrar que estes piratas observavam o Shabat, elevavam sinagogas com solos arenosos para os serviços e nomeavam seus veleiros de “A Rainha Ester”, “O Profeta Samuel” ou “Escudo de Abraão”.



Sob a areia do solo existe sempre um bom soalho de madeira como suporte e de anos em anos deve-se acrescentar mais areia para repor aquela consumida com o movimento das pessoas.

De onde surgiu esta prática?

Não há uma resposta definitiva, e as explicações variam: talvez a origem seja Amsterdã onde usava-se areia para secar o barro dos sapatos dos participantes, há quem diga que a areia lembra o terreno do deserto por onde os judeus vagaram por 40 anos, mas a mais aceita é simplesmente que a prática se originou no Brasil, no início de 1600, quando os convertidos que voltaram ao Judaísmo optaram por manter os costumes de seus familiares.

 


O que será que pensam estas pessoas ao pisar na areia de sua sinagoga?

Lembram a história das perseguições? Estranham este costume? Agrada-lhes esta sensação de liberdade que a areia da praia nos traz?

Nesta sinagoga abrangente encontramos mais uma vez a beleza do Judaísmo, a diversidade de pessoas, sítios geográficos, edificações... sempre sob a palavra da Torá, e a fidelidade a um só D’us!


Crianças da Sinagoga em 2015, um templo progressista que a todos acolhe sempre a lembrar da história de seu povo e de suas adversidades!


FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/the-jewish-community-of-jamaica/?utm_content=bufferd4423&utm_medium=social&utm_source=mjlfacebook&utm_campaign=buffer&fbclid=IwAR3hmCL0JLEU45hp7SlUg-Jw7BbYuQQbV-jBDaqpI8x-drJHGqsT8doo8UY

https://www.jewsofjamaica.com/articles/united-congregation-mission

https://www.facebook.com/ucijamaica/

https://www.lonelyplanet.com/jamaica/kingston/attractions/shaare-shalom-synagogue/a/poi-sig/1421629/358074

https://cityseeker.com/kingston/76823-shaare-shalom-synagogue

https://yellow.place/pt/shaare-shalom-synagogue-kingston-jamaica

https://anussim.org.br/piratas-ou-usurpadores-judeus-do-caribe/

https://www.shavei.org/pt-br/blog/2021/05/27/piratas-judeus-no-caribe/

https://journals.openedition.org/lerhistoria/5043

http://zivabdavid.blogspot.com/2012/02/piratas-judeus.html

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Editorial - Dia da Amazônia e o judaísmo - por Guilherme Susteras

 

EshTá Na Mídia no Dia da Amazônia

Por Guilherme Susteras


Semana passada, dia 05/09, foi comemorado o Dia da Amazônia e, quase como um simbolismo irônico, no dia 09/09 líamos a notícia de que a fumaça de queimadas da amazônia estava cruzando o Brasil e deixando 'cheiro' de queimado em São Paulo e céu fechado no Rio Grande do Sul.

E o que isso tem a ver com judaísmo? Tudo!

Há cerca de um mês tive a oportunidade de participar de um evento organizado pela Iniciativa Inter Religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI), uma iniciativa internacional ligada ao Programa de Meio Ambiente da ONU e que conta com o apoio financeiro do governo da Noruega.

O objetivo da IRI é contribuir para que as lideranças e as comunidades religiosas possam aprofundar seus conhecimentos e atuação voltados para o cuidado com a natureza, com foco na preservação do equilíbrio climático, na conservação e no uso sustentável das florestas e na proteção dos direitos dos povos indígenas e das demais comunidades tradicionais.

Juntamente com o rabino Guershon Kwasniewski, pude representar a comunidade judaica nesse grupo formado por representantes de outras denominações religiosas - entre eles o Catolicismo, o Islamismo, o Protestantistmo, Budismo, Umbandismo, Candomblé e Bahá’i.

Estivemos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde os pesquisadores nos apresentaram dados relacionados aos desafios já vividos por conta das mudanças climáticas e sobre a importância da preservação da floresta amazônica para evitarmos uma situação irreversível para o planeta.

O foco da conversa foi em dados científicos, o que por si só representa uma enorme mensagem de que ciência e religião podem (e devem) caminhar juntas, demonstrando o avanço das nossas sociedades em relação ao obscurantismo de séculos atrás.

Para além do clima extremamente amistoso entre todos os representantes religiosos, ficou absolutamente claro como todas as fés, cada uma do seu jeito, valorizam o mesmo princípio que o nosso tikun olam – cuidar do nosso planeta.

No dia seguinte, visitamos o Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (CEMADEN), onde nos foi apresentado como iniciativas educacionais comunitárias têm o efeito de proteger a população de danos causados por desastres como alagamentos e deslizamentos de terra.

Aqui, o foco foi no papel que líderes religiosos têm em cuidar de suas comunidades, princípio compartilhado por todas as fés, assim como o nosso “kol Israel arezim ze ba ze” – cada um é responsável por todos ao seu redor.

A primeira grande lição que ficou para mim é como a humanidade seria muito mais produtiva se nos uníssemos uns aos outros para defender e proteger os nossos valores comuns, ao invés de termos que gastar tanta energia nos protegendo de ações racistas e/ou antissemitas.

E a segunda grande lição é que, embora soe utópico, o evento organizado pelo IRI demonstrou que é, sim, possível !

 


Shabat Shalom e boa semana a todos!

Guilherme Susteras


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

VOCÊ SABIA? - A arte saqueada pelos nazistas

 

Nova York – Mostra de Arte Saqueada pelos Nazistas contou uma história judaica perdida e agora recuperada.

Por Itanira Heineberg


“Afterlives: Recovering the Lost Stories of Looted Art”

Exposição 20 de agosto de 2021 a janeiro de 2022


Detalhe de "Purim", de Marc Chagall, pintado por volta de 1916-1917. (Philadelphia Museum of Art, Filadélfia. © Artists Rights Society (ARS), Nova York / ADAGP, Paris/ Museu Judaico NYC)

Esta tela vibrante de Chagall foi retirada do museu alemão de Essen como uma obra degenerada, mas misteriosamente passou às mãos de um colecionador de arte em Berlim, membro do partido nazista.


Você sabia que durante a Segunda Guerra os nazistas, com determinação e disciplina, saquearam um número incontável de obras de arte e peças de domínio cultural para enriquecer o futuro Terceiro Reich e apagar os rastros da identidade e cultura judaica?

Ainda que um número exorbitante de peças esteja faltando, mais ou menos um milhão de obras de arte e dois milhões e meio de livros já foram recuperados até o momento.

O objetivo desta mostra em Nova York foi trazer à luz um assunto pouco conhecido da história: o saque das obras de arte e de objetos culturais dos judeus pelos nazistas, a desaparição dos mesmos e a consecutiva reaparição em locais de destaque, museus e galerias, encantando a todos - porém sem revelar suas verdadeiras e tristes narrativas.

Assim, 75 anos após o fim da guerra, tivemos 53 telas de arte e 80 objetos cerimoniais expostos no Museu Judaico de Nova York.


Materiais recuperados pela Jewish Cultural Reconstruction, Inc. em armazenamento no Museu Judaico por volta de 1949.

(Arquivos do Museu Judaico, Nova Iorque)


A mostra conta o trajeto das obras em meio à violência da guerra e relata em minúcias o resgate complicado, quando possível, de cada uma delas.


Henri Matisse – 1939 - “A garota de amarelo e azul com guitarra”


Duas telas de Matisse enriqueceram a exposição; a da foto acima com a garota e “As Margaridas”, tentando contar suas histórias e percalços até chegarem à mostra.

“A garota de amarelo e azul...” estava pendurada na sala da casa de Hermann Goering, no sudoeste da Alemanha, onde foi encontrada no final da guerra. Em 1942 o curador de arte Gustave Rochlitz a sequestrou do Museu Jeu de Paume, Paris, a mando de Goering.

A tela “As Margaridas” estava em Paris.

E não foram só estas! 600 mil obras foram roubadas dos judeus: além da tentativa de morte de um povo, a morte também de sua cultura e tradição.

A exposição tenta acordar o mundo, contar uma história quase incontável se levarmos em conta o pouco número de sobreviventes em condições e idade de lutar por seus direitos e pertences. Mas a Cultura Judaica sobreviveu, frutificou e resistiu à tragédia do Holocausto.

Paul Klee, Gustave Courbet, Camile Pissaro, sem esquecer da Dama Dourada de Paul Klimt.

Todas estas notícias e descobertas surpreenderam os visitantes. Algo devia ser feito para conscientizar as pessoas, trazendo luz ao Mal menos conhecido e difundido do Holocausto.

 

Placa de Seder Hierárquica (bandeja em camadas) – Polônia - séc.XVIII – XIX


Ciente de que os nazistas saqueariam a grande sinagoga de Danzig, a comunidade judaica encaixotou seus objetos rituais valiosos, ouro e prata, e enviou 10 arcas para o Seminário Teológico Judaico de Nova York. Em 1954 as peças foram devolvidas aos seus verdadeiros donos.


Bernando Strozzi, 'Um Ato de Misericórdia: Dando Bebida aos Sedentos' pintado na década de 1620. (John and Mable Ringling Museum of Art, o State Art Museum of Florida, Florida State University, Sarasota/ Jewish Museum NYC)


“Legisladores da cidade de Nova York descobriram: as pesquisas   mostraram que os nova-iorquinos mais jovens não sabiam dos fatos básicos sobre o genocídio. Uma pesquisa de 2020 da Conferência de Reivindicações, que representa os judeus que buscam compensação pelo Holocausto, constatou que 60% dos nova-iorquinos não sabiam que seis milhões de judeus foram assassinados; 58% não poderiam nomear um único campo de concentração; 19% acreditavam que os judeus causavam o Holocausto; e 43% não sabiam o que era Auschwitz.”


“Batalha na Ponte” – Claude Lorrain

Tela vendida sob coação e reservada para o futuro museu pessoal de Hitler, que nunca veio a existir.



Em agosto 2022 a governadora do estado de Nova York Kathy Hochul assinou um trio de projetos de lei do Holocausto, incluindo um que exige que museus rotulem obras de arte saqueadas sob o regime nazista.”


Tropas americanas encontram uma coleção inestimável de arte saqueada escondida no Castelo de Neuschwantstein em Fussen, perto da fronteira suíça na Áustria, maio de 1945.



A nova Lei Estadual de Nova York está exigindo de seus museus que rotulem as obras de arte saqueadas, contando aos visitantes sobre a dor e tristeza daqueles que as possuíam ao perdê-las assim como ao perder suas casas, suas vidas, suas identidades.

Desde 1994 a educação sobre o Holocausto tornou-se matéria obrigatória nas escolas do estado, mas pelo que se viu nas pesquisas realizadas esta demanda não está sendo muito eficiente.

Os principais museus de arte da cidade - Met, MAM, Guggenheim - têm em mente aplicar a lei no intuito de diminuir este fluxo ilegal.

O que faria um curador de arte ao receber telas sequestradas famosas dos mais famosos pintores em troca de benefícios fiscais?

Esta exposição representou um lembrança funesta da história da arte saqueada durante o Holocausto e contou ao mundo insensível, que não quer ver nem ouvir, mais uma página de atribulação e injustiças do Povo Judeu.


“As Margaridas” – Henri Matisse – 1939



FONTES:

https://www.timesofisrael.com/nyc-exhibit-of-nazi-looted-art-tells-a-tale-of-jewish-loss-and-recovery/

https://www.timesofisrael.com/new-york-law-on-nazi-looted-art-aims-to-shine-light-on-lesser-known-holocaust-evil/?utm_source=The+Daily+Edition&utm_campaign=daily-edition-2022-09-02&utm_medium=emailrecovery/