A Orquestra Sinfônica de Israel. Crédito: David Vinoker |
No domingo passado,
na noite de 28 de Agosto, a Sala São Paulo recebeu uma das orquestras mais
famosas do mundo: a Orquestra
Sinfônica de Jerusalém, dirigida pelo maestro Yeruhan Scharovsky e pela solista
israelense Daniella Akta, considerada como uma das principais jovens
violoncelistas prodígios.
O maestro
Sharovsky, um argentino, é conhecido no Brasil pois dirigiu de 1998 a 2004 a
Orquestra Sinfônica Brasileira do Rio de Janeiro e criou em 1999 a Orquestra
Sinfônica Jovem Brasileira, recebendo o título de “Cidadão Honorário do Rio de
Janeiro” por sua contribuição artística, social e cultural, além de ter
dirigido mais de 50 orquestras de destaque em mais de 20 países.
Como sempre, o
programa se iniciou com o hino Nacional Brasileiro seguido da Hatikwah, o hino
de Israel.
A primeira música
do programa foi a Abertura do “O Guarani”, de Carlos Gomes. Seguiu-se o
Concerto para violoncelo N 4 de Elgar, interpretado por Danielle e a orquestra e
claro que foram vivamente aplaudidos.
Com o pedido
insistente de “bis” pelo público, Danielle tocou um solo no violoncelo – o famoso
“Tico Tico no Fubá” - que levantou a plateia em longos aplausos.
E porque trago este
tema?
No dia seguinte,
segunda-feira, o maestro, Danielle e mais alguns músicos foram visitar a Favela
de Heliópolis onde está a sede a famosa Orquestra Bacarelli... e esta visita me
leva a recordar um dos momentos mais marcantes de minha vida.
Em agosto de 2005
eu dirigia o Centro da Cultura Judaica, e com o apoio de diversos
patrocinadores trouxemos a orquestra Filarmônica de Israel, com o famoso
maestro Zubin Mehta, para duas apresentações na Sala São Paulo.
No dia seguinte à
primeira apresentação, fomos também visitar a Orquestra Bacarelli que, aliás, é
formada só por crianças e jovens da favela de Heliópolis num programa de
formação artística.
Lá chegando
encontramos os jovens estudando a 5a sinfonia de Beethoven dirigidos pelo
maestro Tibiriçá, que foi colega de Zubin Mehta na Juilliard School. Tibiriçá
ofereceu a batuta a Zubin, que naquele momento recusou e ficou observando as
crianças tocando - mas uns 10 minutos se passaram e Zubin tirou seu paletó,
aproximou-se a Tibiriçá, que entendeu seu gesto e passou a batuta a Zubin que
em lágrimas dirigiu os jovens...
No término da obra,
vivamente ovacionado por todos os presentes, Tibiriçá apresentou a Zubin Mehta
Adriano Costa Chaves, um jovem que na época tinha apenas 17 anos, morador da
favela e que tocava contrabaixo.
Zubin, também
contrabaixista, pediu para ao jovem tocar e vivamente impressionado, convidou Adriano
para se apresentar naquela noite ao naipe de Contrabaixos.....a história
continua com Zubin Mehta convidando Adriano para ir a Israel estudar na sua
Academia Buchmann-Mehta Institut, que é a academia formadora dos músicos para a
Filarmônica de Israel.
Adriano nunca tinha
saído de Heliópolis! Agora ia viajar para Israel... outro lado do mundo! Um país
com outra língua, outra cultura... um grande desafio para todos envolvidos no
projeto.
A coordenadora dos
cursos do Centro de Cultura Judaica Cecilia ben David e eu criamos um curso de
um ano para que Adriano estivesse preparado para poder enfrentar o seu novo e
fantástico destino. Ensinamos Hebraico, ensinamos sobre a cultura judaica, e o
que o “novo mundo” mostraria para Adriano.
A despedida foi em
Congonhas, já que ele tomou um voo que o levaria ao Rio e de lá a Israel via
Madrid, para estudar em Israel e tocar no naipe dos contrabaixos em diversos
concertos da famosa Orquestra Filarmônica de Israel.
A Orquestra
Bacarelli em peso veio se despedir de seu contrabaixista numa noite
inesquecível, já que no salão de Congonhas os jovens tocaram para Adriano
diversas músicas, o que emocionou a todos os presentes e levou muitos às
lagrimas, inclusive eu.
Israel é um dos
países onde diversas orquestras são hoje ícones em todo o mundo - eu diria que
Israel é um dos templos do mundo na música.
Falando em templo,
me veio à memória uma história de Napoleão e a comunidade judaica: certo dia,
Napoleão teve conhecimento de que a comunidade judaica estava de luto e que nas
sinagogas os judeus lamentavam, em prantos, um acontecimento do passado.
Napoleão se
interessou pelo assunto e lhe foi dito que aquele dia era 9 de Av pelo
calendário judaico – o dia no qual, de acordo com a tradição judaica, se
lembrava da destruição dos dois Templos de Jerusalém, o primeiro pelos
Babilônios em 586 AC e o segundo pelos Romanos em 70 DC.
Napoleão, ao tomar
conhecimento da razão do luto, comentou: “ Um povo que chora por seu Templo há
tanto tempo merecerá vê-lo reconstruído”.
Há um linha
religiosa judaica que pretende reconstruir o Templo em Jerusalém, inclusive com
a tradição de oferendas... mas será uma boa reconstruir o Templo em Jerusalém,
em nossos dias ou no futuro?
Eu tenho duas
colocações (aliás, como um bom judeu!) para esta pergunta:
Um NÃO e um SIM....
NÃO... se você
incialmente quiser criar um grupo de judeus que represente todas as linhas
religiosas judaicas para estudar esta eventualidade... só isto já criará um
pandemônio que dificilmente chegará a um consenso.
Imaginemos, por um
instante apenas, que isto tenha sido possível - recriar o grupo de planejamento
para desenhar as plantas do terceiro Templo de Jerusalém – para que seja um
lugar onde todas as diferentes linhas religiosas judaicas tenham sua
representação e tradições... outra hipótese totalmente improvável...
Continuemos a dar
asas à nossa imaginação... há um grupo que representa todas as linhas
religiosas. Este grupo, imaginemos, chega a um consenso que cada linha tenha a
sua representatividade neste Templo... o edifício, ou melhor este complexo de
edificações deverá cobrir uma imensa área horizontal, e ao mesmo tempo com
incontáveis níveis, ou andares...pois a história da religião de nosso povo foi
criada, recriada, reestudada, rediscutida e continua e continuará assim pelo
futuro... assim, o NÃO para a criação do terceiro Templo será a
melhor solução.
SIM... para mim, a
reconstrução do Templo de Jerusalém já pode ser entendida através da criação do
Estado de Israel. Israel é para mim um Templo, não do ponto de vista físico,
mas do ponto de vista institucional judaico.
Os dois antigos
Templos de Jerusalém eram a emanação apenas da religião judaica.
Lá os Cohanim, os
Sumo-sacerdotes, é que mantinham a relação com a Divindade através de sacrifícios
de animais e oferendas de vegetais que todo o povo oferecia.
Hoje, Israel é a
aglutinação de todas as linhas religiosas judaicas, e da cultura daqueles para
quem a religião não é a prioridade, os assim chamados seculares.
SIM, para mim Israel é
um Templo, mas um templo onde a Shechiná, a Glória de Deus, continua repousando
através da liberdade religiosa para todas as religiões.
Para mim, o Estado
de Israel incorporou a explicação do início da Torah, onde Deus criou o ser
humano no sentido de ser o Pai de toda a humanidade, e em Israel todas as
religiões são livres para serem vivenciadas...
Os judeus mereceram
recriar o Templo, recriar Sion, e criaram Israel depois de 2.000 anos de
diáspora....
Mas Israel, para
mim, é mais do que um Templo religioso; é o Templo da tecnologia agrícola, da
medicina, da informática, da música, e muito mais, fonte para toda a humanidade.
SIM, Napoleão estava
certo... merecemos recriar o terceiro Templo, e Israel é todo Um Templo, e
cabe a cada judeu ou judia estar ligado ou ligada e este lugar extraordinário
em suas incontáveis fontes de conhecimento para toda a humanidade.
Seja benvinda a
Orquestra Sinfônica de Jerusalém, Maestro Sharovski, Daniella Akta e todos os
seus músicos!
Shabat shalom!
Le leshana Abá ve
Ierushalaim! O ano que vem em Jerusalém!
RAUL MEYER
Regina P. Markus, do nosso Comitê Editorial, com a família para a apresentação da Orquestra Sinfônica de Jerusalém |
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