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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Editorial - Desfechos



Estamos nos aproximando do fim de mais um ciclo anual judaico, do período em que faremos um balanço do que acertamos e do que erramos e buscaremos por um bom desfecho e por nossa inscrição no livro da vida do ano que vem… 

Desfechos são necessários para que começos possam acontecer. Esta semana houve alguns desfechos relacionados a Israel e me inspiraram a olhá-los em conjunto. 

Um que demorou 50 anos para ocorrer foi o desfecho da negociação da indenização às famílias dos atletas israelenses que perderam suas vidas no atentado à Vila Olímpica em Munique em 1972. Isso aconteceu na véspera da cerimônia de lembrança do massacre - 5 de setembro -  sem o que as famílias não pretendiam comparecer ao evento. Pelo acordo finalmente firmado, aceito pelas famílias, a Alemanha pagará um total de 28 milhões dólares como compensação - sendo que isso inclui pagamentos já feitos ao longo dos anos. A gravidade da tragédia foi causada por uma sequência de erros na segurança, pelo fato das autoridades alemãs não terem atribuído a devida importância a sinais recebidos e descuidos. O COI - Comitê Olímpico Internacional- sempre ignorou sua responsabilidade de relembrar este massacre nas competições seguintes, mas finalmente em 2016, no Rio de Janeiro, isto aconteceu - e foi construído um monumento para lembrar que o terror não poupa nem o esporte! Mesmo assim, nem o monumento no Rio e nem o de Munique este ano têm o porte que a tragédia merecia para ser devidamente marcada. E, neste 5 de setembro, finalmente o presidente alemão pediu desculpas pelo que ocorreu na Baviera! 

Incluímos um vídeo em que Marcos Susskind relembra como acompanhou as notícias do daquele dia. 




Outro desfecho destes dias foi relativo à decisão de retorno a Israel de um objeto muito especial - trata-se de um documento extremamente raro escrito sobre um papiro de 2600 anos, da época do primeiro Templo. O documento havia sido encontrado há décadas em uma das cavernas do deserto da Judeia, e estava em poder de um americano que o recebeu em 1965 de sua mãe e de um colecionador. Ele aceitou devolvê-lo ao entender que a Autoridade Israelense para Antiguidades (IAA), que o procurava com a ajuda de serviço de inteligência, desde 2018, tem o melhor local e técnicas para preservá-lo junto a outros dois documentos do mesmo período encontrados em 1948 e 1956 nas cavernas. No precioso papiro lê-se em hebraico antigo as palavras “ …enviar a Ismael…”, sugerindo tratar-se de uma carta com instruções ao destinatário, segundo o IAA. Ismael apareceu como o nome de oficiais em achados paleográficos tais como bulas e selos em argila usados para selar documentos Reais.

Finalmente esses dias também ocorreu o desfecho da última investigação sobre a morte da jornalista Shireen Abu Akleh, da Al Jazeera - a conclusão apresentada é a de que “não foi possível determinar inequivocamente a origem da bala que a matou mas há uma alta probabilidade de ter vindo de arma de soldado de Israel, disparada acidentalmente". Ela foi atingida em meio a um tiroteio em Jenin no âmbito da operação “Quebrar a Onda” em maio deste ano. A operação ainda está em vigor e a referida onda é uma série de atentados contra civis israelenses que matou 19 pessoas.

Não foi um desfecho agradável, pleno, mas foi transparente. Foi uma resposta, a mais precisa encontrada para o mundo. O mundo acompanhou este horrível acontecimento basicamente porque jornalistas de todos os lugares têm acesso a todos os cantos do país e têm total liberdade para fotografar, filmar e escrever o que quiserem. Isso é uma notória exceção na região onde há restrições e censuras de todo tipo, quando não, risco à vida do profissional de imprensa!

De qualquer forma Israel vem perseguindo os fatos e buscando explicações, não se satisfazendo com ilações, desculpas, omissões. E em inúmeros desfechos de investigações, desde a criação do Estado, soldados ou outros cidadãos têm sido cobrados, julgados, condenados ou presos. Será esse desfecho o final, haverá mais investigações? 

Precisamos sempre perseguir desfechos com coragem. Muitas vezes nos sentimos aliviados, recompensados, mas nem sempre os desfechos serão satisfatórios, nem sempre fáceis de conviver quando formos em frente. A transparência e a justiça são valores fundamentais ao judaísmo. E são sem dúvida pilares da nossa civilização. Vimos repetindo Tzedek, Tsedek, Tirdof - Justiça, Justiça você deve perseguir.


Shabat Shalom!


Juliana Rehfeld

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