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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Você Sabia? - A síndrome K

 

Surgimento da Síndrome K em plena Segunda Guerra Mundial vira um documentário

Por Itanira Heineberg


Hospital Fatebenefratelli, Roma, 1943, onde uma doença falsa foi criada em benefício dos perseguidos 


Você sabia que um hospital italiano salvou enfermos dos nazistas criando uma falsa doença?

E pensar que esta ação generosa - um ato arriscado para os dirigentes assim como para todos os participantes, salvando vidas humanas - ficou assim tão esquecida ou talvez, propositalmente, não comentada!


Hospital Fatebenefratelli, em uma ilha do Tibre: portas cerradas protegiam uma enfermaria com doentes  portadores da Síndrome K. 


“Essa doença nova e não familiar – cujo nome evocava a Síndrome de Koch (tuberculose) – era um forte impedimento para os soldados nazistas ocupantes que cumpriam buscas de rotina pelo hospital por judeus, partidários e antifascistas. Temendo infecção, os nazistas não se atreviam entrar na enfermaria, voltando sua atenção para outro lugar.”

 

Em 16 de outubro de 1943 os nazistas invasores passaram um pente fino nos judeus de Roma aprisionando 1.200 deles, dos quais só 15 sobreviveram.

E foi assim que os médicos e frades do hospital passaram a aceitar números cada vez maiores de pacientes, ou seja, refugiados. A Síndrome K era uma mentira criada por Giovanni Borromeo, o principal médico do hospital, com a ajuda de sua equipe médica, com o propósito de salvar tanto judeus como antifascistas em busca de proteção.


“O Justo que inventou a Síndrome K”, por Pietro Borromeo, filho do Dr. Giovanni Borromeo.


Borromeo (1898-1961) era um cristão piedoso e antifascista declarado.

E foi por esta razão que aceitou trabalhar no Fatebenefratelli, dirigido por frades católicos, um hospital privado, sem conexão com as leis fascistas do Estado - não exigindo de seus funcionários lealdade ao partido.

Borromeo se cercou de médicos discriminados pelo regime, como o judeu Vittorio Emanuele Sacerdoti, que acolheu e ocultou alguns dos sobreviventes dos eventos de 16 de outubro.

A partir de então o hospital se tornou um foco de resistência política.

 

“Mas a resistência antifascista no Fatebenefratelli não estava apenas confinada na Síndrome K. Em colaboração com os frades, Borromeo e seus aliados instalaram uma estação de rádio dentro do hospital, e a usaram para comunicar com partidários de modo a organizar sua luta. Quando Borromeo e os frades perceberam que os nazistas tinham identificado a posição da rádio, eles jogaram tudo no Tibre.”


Síndrome K, uma doença infecciosa, um código para pessoas escondidas no hospital localizado bem perto do gueto judeu em Roma.


Os médicos responsáveis eram Vittorio Sacerdoti, Giovani Borromeo e Adriano Ossicini.

Vittorio Sacerdoti era judeu e os outros dois eram católicos. Em 2004, ao contar a farsa da Síndrome K, Sacerdoti declarou à BBC:

 

 “Os nazistas pensaram que era câncer ou tuberculose e fugiram como coelhos”.

 

Borremeo que, entre outras coisas, protegeu a família de um de seus mentores judeus, é reconhecido como um Justo Entre as Nações em Yad Vashem, Memorial do Holocausto em Israel.


Borromeo, à esquerda, e Sacerdoti, à direita


O diretor e compositor Stephen Edwards ficou admirado ao descobrir a história quase inédita dos 3 médicos italianos e sua audácia em combater o regime e salvar vidas humanas. Em 2018, começou a trabalhar em seu documentário “Síndrome K”, um assunto tão pouco conhecido da humanidade e concluiu: “E acho que é por isso que ficou uma história tão secreta – os médicos não se gabam do que fizeram nem falam muito sobre isso”. É uma história tão obscura que nem o falecido historiador Robert Katz, “The Battle for Rome: The Germans, the Allies, the Partisans, and the Pope, September 1943-June 1944”, considerado um livro definitivo sobre a ocupação nazista da cidade, não menciona isso.”

Ainda em 2018, Edwards descobriu que o médico Adriano Ossicini estava vivo, aos 98 anos, e assim conseguiu uma entrevista com um dos heróis desta epopeia italiana.

Edwards com Ossicini na foto abaixo, durante a produção do documentário.



Foram encontrados diferentes relatos sobre as atividades do hospital e seus abençoados protetores dos refugiados.

Dezenas deles foram salvos e deram seus depoimentos, inclusive o médico Sacerdoti, que participou de uma entrevista completa nos escritórios da USC Shoah Foundation em Israel.

Apesar de tentar obter o vídeo com a entrevista, não o consegui.

O importante é saber que a inexistente Síndrome K manteve os nazistas bem longe dos judeus e antifascistas, bem acomodados nos leitos da enfermaria “infectada” do hospital acolhedor, até a chegada dos Aliados em Roma em junho de 1944.

É sempre bom contar uma história em que uma doença contagiosa, porém falsa, ajudou a salvar vidas de pessoas inocentes. E lembrar daqueles que em momentos de perigos e guerras arriscam suas próprias cabeças para ajudar seus semelhantes.

Enfim, um paradoxo, uma contradição, uma história com final feliz, sem vítimas e sem armas em tempos de muita dor, bombardeios, separações, injustiças e mortes, nos dias do Holocausto.

Algumas imagens sobre este fato pouco divulgado, a seguir:






FONTES:

https://www.timesofisrael.com/to-save-jews-and-keep-nazis-away-these-doctors-invented-a-fake-infectious-disease/?utm_source=The+Daily+Edition&utm_campaign=daily-edition-2022-08-20&utm_medium=email

https://radiopeaobrasil.com.br/como-um-hospital-italiano-salvou-pacientes-dos-nazistas-inventando-uma-doenca-falsa/

https://www.imdb.com/video/vi1845281305/?ref_=tt_vi_i_1

https://www.jewishvirtuallibrary.org/giovanni-borromeo

https://israelagora.com.br/holocausto/para-salvar-os-judeus-e-manter-os-nazistas-afastados-esses-medicos-inventaram-uma-doenca-infecciosa-falsa/

https://righteous.yadvashem.org/

Um comentário:

  1. Deus abençoe esses 3 médicos herois e quem mais colaborou com eles !

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