Surgimento da
Síndrome K em plena Segunda Guerra Mundial vira um documentário
Hospital
Fatebenefratelli, Roma, 1943, onde uma doença falsa foi criada em benefício dos
perseguidos |
Você sabia
que um hospital italiano salvou enfermos dos nazistas criando uma falsa doença?
E pensar que
esta ação generosa - um ato arriscado para os dirigentes assim como para todos
os participantes, salvando vidas humanas - ficou assim tão esquecida ou talvez,
propositalmente, não comentada!
Hospital
Fatebenefratelli, em uma ilha do Tibre: portas cerradas protegiam uma
enfermaria com doentes portadores da
Síndrome K. |
“Essa
doença nova e não familiar – cujo nome evocava a Síndrome de Koch (tuberculose)
– era um forte impedimento para os soldados nazistas ocupantes que cumpriam
buscas de rotina pelo hospital por judeus, partidários e antifascistas. Temendo
infecção, os nazistas não se atreviam entrar na enfermaria, voltando sua
atenção para outro lugar.”
Em 16 de outubro
de 1943 os nazistas invasores passaram um pente fino nos judeus de Roma aprisionando
1.200 deles, dos quais só 15 sobreviveram.
E foi assim
que os médicos e frades do hospital passaram a aceitar números cada vez maiores
de pacientes, ou seja, refugiados. A Síndrome K era uma mentira criada por
Giovanni Borromeo, o principal médico do hospital, com a ajuda de sua equipe
médica, com o propósito de salvar tanto judeus como antifascistas em busca de
proteção.
“O Justo que
inventou a Síndrome K”, por Pietro Borromeo, filho do Dr. Giovanni Borromeo. |
Borromeo
(1898-1961) era um cristão piedoso e antifascista declarado.
E foi por
esta razão que aceitou trabalhar no Fatebenefratelli, dirigido por frades
católicos, um hospital privado, sem conexão com as leis fascistas do Estado - não
exigindo de seus funcionários lealdade ao partido.
Borromeo se
cercou de médicos discriminados pelo regime, como o judeu Vittorio Emanuele
Sacerdoti, que acolheu e ocultou alguns dos sobreviventes dos eventos de 16 de
outubro.
A partir de
então o hospital se tornou um foco de resistência política.
“Mas a
resistência antifascista no Fatebenefratelli não estava apenas confinada na
Síndrome K. Em colaboração com os frades, Borromeo e seus aliados instalaram
uma estação de rádio dentro do hospital, e a usaram para comunicar com
partidários de modo a organizar sua luta. Quando Borromeo e os frades
perceberam que os nazistas tinham identificado a posição da rádio, eles jogaram
tudo no Tibre.”
Síndrome K,
uma doença infecciosa, um código para pessoas escondidas no hospital localizado
bem perto do gueto judeu em Roma. |
Os médicos responsáveis
eram Vittorio Sacerdoti, Giovani Borromeo e Adriano Ossicini.
Vittorio Sacerdoti
era judeu e os outros dois eram católicos. Em 2004, ao contar a farsa da
Síndrome K, Sacerdoti declarou à BBC:
“Os nazistas pensaram que era câncer ou
tuberculose e fugiram como coelhos”.
Borremeo que,
entre outras coisas, protegeu a família de um de seus mentores judeus, é
reconhecido como um Justo Entre as Nações em Yad Vashem, Memorial do
Holocausto em Israel.
Borromeo, à
esquerda, e Sacerdoti, à direita |
O diretor e
compositor Stephen Edwards ficou admirado ao descobrir a história quase inédita
dos 3 médicos italianos e sua audácia em combater o regime e salvar vidas
humanas. Em 2018, começou a trabalhar em seu documentário “Síndrome K”, um
assunto tão pouco conhecido da humanidade e concluiu: “E acho que é por isso
que ficou uma história tão secreta – os médicos não se gabam do que fizeram nem
falam muito sobre isso”. É uma história tão obscura que nem o falecido
historiador Robert Katz, “The Battle for Rome: The Germans, the Allies, the
Partisans, and the Pope, September 1943-June 1944”, considerado um livro
definitivo sobre a ocupação nazista da cidade, não menciona isso.”
Ainda em 2018, Edwards descobriu que o médico Adriano Ossicini estava vivo, aos 98 anos, e assim conseguiu uma entrevista com um dos heróis desta epopeia italiana.
Edwards com Ossicini na foto abaixo, durante a produção do documentário.
Foram
encontrados diferentes relatos sobre as atividades do hospital e seus
abençoados protetores dos refugiados.
Dezenas deles
foram salvos e deram seus depoimentos, inclusive o médico Sacerdoti, que
participou de uma entrevista completa nos escritórios da USC Shoah Foundation em
Israel.
Apesar de
tentar obter o vídeo com a entrevista, não o consegui.
O importante
é saber que a inexistente Síndrome K manteve os nazistas bem longe dos judeus e
antifascistas, bem acomodados nos leitos da enfermaria “infectada” do hospital
acolhedor, até a chegada dos Aliados em Roma em junho de 1944.
É sempre bom
contar uma história em que uma doença contagiosa, porém falsa, ajudou a salvar
vidas de pessoas inocentes. E lembrar daqueles que em momentos de perigos e
guerras arriscam suas próprias cabeças para ajudar seus semelhantes.
Enfim, um
paradoxo, uma contradição, uma história com final feliz, sem vítimas e sem
armas em tempos de muita dor, bombardeios, separações, injustiças e mortes, nos
dias do Holocausto.
Algumas
imagens sobre este fato pouco divulgado, a seguir:
FONTES:
https://www.imdb.com/video/vi1845281305/?ref_=tt_vi_i_1
https://www.jewishvirtuallibrary.org/giovanni-borromeo
https://righteous.yadvashem.org/
Deus abençoe esses 3 médicos herois e quem mais colaborou com eles !
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