Nova York – Mostra
de Arte Saqueada pelos Nazistas contou uma história judaica perdida e agora recuperada.
Por Itanira Heineberg
“Afterlives: Recovering the Lost Stories of Looted Art”
Exposição 20
de agosto de 2021 a janeiro de 2022
Detalhe de "Purim", de Marc Chagall, pintado por volta de 1916-1917. (Philadelphia Museum of Art, Filadélfia. © Artists Rights Society (ARS), Nova York / ADAGP, Paris/ Museu Judaico NYC)
Esta tela vibrante de Chagall foi retirada do museu alemão de Essen como uma obra degenerada, mas misteriosamente passou às mãos de um colecionador de arte em Berlim, membro do partido nazista.
Você sabia
que durante a Segunda Guerra os nazistas, com determinação e disciplina, saquearam
um número incontável de obras de arte e peças de domínio cultural para
enriquecer o futuro Terceiro Reich e apagar os rastros da identidade e cultura
judaica?
Ainda que um
número exorbitante de peças esteja faltando, mais ou menos um milhão de obras
de arte e dois milhões e meio de livros já foram recuperados até o momento.
O objetivo
desta mostra em Nova York foi trazer à luz um assunto pouco conhecido da
história: o saque das obras de arte e de objetos culturais dos judeus pelos
nazistas, a desaparição dos mesmos e a consecutiva reaparição em locais de
destaque, museus e galerias, encantando a todos - porém sem revelar suas
verdadeiras e tristes narrativas.
Assim, 75
anos após o fim da guerra, tivemos 53 telas de arte e 80 objetos cerimoniais
expostos no Museu Judaico de Nova York.
Materiais recuperados pela Jewish Cultural Reconstruction, Inc. em armazenamento no Museu Judaico por volta de 1949.
(Arquivos do Museu Judaico, Nova Iorque) |
A mostra
conta o trajeto das obras em meio à violência da guerra e relata em minúcias o
resgate complicado, quando possível, de cada uma delas.
Henri Matisse
– 1939 -
Duas telas de
Matisse enriqueceram a exposição; a da foto acima com a garota e “As
Margaridas”, tentando contar suas histórias e percalços até chegarem à mostra.
“A garota
de amarelo e azul...”
estava pendurada na sala da casa de Hermann Goering, no sudoeste da Alemanha,
onde foi encontrada no final da guerra. Em 1942 o curador de arte Gustave
Rochlitz a sequestrou do Museu Jeu de Paume, Paris, a mando de Goering.
A tela “As
Margaridas” estava em Paris.
E não foram
só estas! 600 mil obras foram roubadas dos judeus: além da tentativa de morte
de um povo, a morte também de sua cultura e tradição.
A exposição
tenta acordar o mundo, contar uma história quase incontável se levarmos em
conta o pouco número de sobreviventes em condições e idade de lutar por seus
direitos e pertences. Mas a Cultura Judaica sobreviveu, frutificou e resistiu à
tragédia do Holocausto.
Paul Klee,
Gustave Courbet, Camile Pissaro, sem esquecer da Dama Dourada de Paul Klimt.
Todas estas notícias e descobertas surpreenderam os visitantes. Algo devia ser feito para conscientizar as pessoas, trazendo luz ao Mal menos conhecido e difundido do Holocausto.
Placa de
Seder Hierárquica (bandeja em camadas) – Polônia - séc.XVIII – XIX |
Ciente de que
os nazistas saqueariam a grande sinagoga de Danzig, a comunidade judaica
encaixotou seus objetos rituais valiosos, ouro e prata, e enviou 10 arcas para
o Seminário Teológico Judaico de Nova York. Em 1954 as peças foram devolvidas
aos seus verdadeiros donos.
Bernando
Strozzi, 'Um Ato de Misericórdia: Dando Bebida aos Sedentos' pintado na década
de 1620. (John and Mable Ringling Museum of Art, o State Art
Museum of Florida, Florida State University, Sarasota/ Jewish Museum NYC)
“Legisladores
da cidade de Nova York descobriram: as pesquisas mostraram que os nova-iorquinos mais jovens
não sabiam dos fatos básicos sobre o genocídio. Uma pesquisa de 2020 da
Conferência de Reivindicações, que representa os judeus que buscam compensação
pelo Holocausto, constatou que 60% dos nova-iorquinos não sabiam que seis
milhões de judeus foram assassinados; 58% não poderiam nomear um único campo de
concentração; 19% acreditavam que os judeus causavam o Holocausto; e 43% não
sabiam o que era Auschwitz.”
“Batalha na
Ponte” – Claude Lorrain Tela vendida
sob coação e reservada para o futuro museu pessoal de Hitler, que nunca veio a
existir. |
“Em agosto
2022 a governadora do estado de Nova York Kathy Hochul assinou um trio de
projetos de lei do Holocausto, incluindo um que exige que museus rotulem obras
de arte saqueadas sob o regime nazista.”
Tropas
americanas encontram uma coleção inestimável de arte saqueada escondida no
Castelo de Neuschwantstein em Fussen, perto da fronteira suíça na Áustria, maio
de 1945. |
A nova Lei
Estadual de Nova York está exigindo de seus museus que rotulem as obras de arte
saqueadas, contando aos visitantes sobre a dor e tristeza daqueles que as
possuíam ao perdê-las assim como ao perder suas casas, suas vidas, suas
identidades.
Desde 1994 a
educação sobre o Holocausto tornou-se matéria obrigatória nas escolas do estado,
mas pelo que se viu nas pesquisas realizadas esta demanda não está sendo muito
eficiente.
Os principais
museus de arte da cidade - Met, MAM, Guggenheim - têm em mente aplicar a lei no
intuito de diminuir este fluxo ilegal.
O que faria
um curador de arte ao receber telas sequestradas famosas dos mais famosos
pintores em troca de benefícios fiscais?
Esta
exposição representou um lembrança funesta da história da arte saqueada durante
o Holocausto e contou ao mundo insensível, que não quer ver nem ouvir, mais uma
página de atribulação e injustiças do Povo Judeu.
“As
Margaridas” – Henri Matisse – 1939 |
FONTES:
Nenhum comentário:
Postar um comentário