Caminhos Longos – 7 meses após 7 de outubro
Desde 7 de outubro de 2023 temos visto como nosso mundo ocidental age desprezando estes conceitos básicos. Chegamos no dia em que a Vida dos que doaram o seu bem maior para a existência e segurança do moderno Estado de Israel é honrada e lembrada (Yom ha Zikaron). E... no dia seguinte, dia 5 de Yar, são comemorados os 76 anos da Declaração da Independência de Israel. Ao longo dos anos a tristeza das lembranças era em poucos minutos convertida na alegria da conquista. Este ano, estando em um processo tão difícil, quero aqui recordar a nossa história que justifica os momentos de alegria, por mostrar que seguimos adiante, existindo, inspirando, criando e contribuindo para a humanidade!
Não menos importante é lembrar que ISRAEL enviou esta semana ajuda tecnológica e equipes treinadas para auxiliar o Estado do Rio Grande do Sul. Escutando o rádio, pude seguir o depoimento de um israelense que acabou de servir seu país na Guerra... e que estava salvando vidas em Canoas, RS. HOJE vou apresentar o que temos! O que vemos e ouvimos! Sem receita para escapar desta fase, mas com a certeza que vamos superar e VIVER – Le Chaim!
Hoje vou descrever a semana, e tentar reconhecer que dentro de toda a incongruência que encontramos há um fio de esperança presente e um enorme novelo de esperança ao longo de nossa história! Acendo os faróis de minha memória e lembro de fazer rolos com linha ou lã para que adultos tricotassem ou fizessem tapetes. Era para ser o mais longo possível, e em alguns casos tirávamos os pedaços esgarçados e dávamos um nó para emendar as duas pontas. Em outros, fazíamos uns rolinhos pequenos, de forma a nunca ter nós. Uma tia, que era grande artesã, preferia os rolos maiores. Assim somos nós, sabemos que o rolo maior, a continuidade da existência do povo tem a vantagem até de contar os nós dos pontos fracos. Hoje busco alento nos séculos de antissemitismo e de superação.
Até cinco minutos atrás ia começar mostrando fatos históricos! Eles chegam... Mas neste instante abro um e-mail da USP despachado no dia 13 de maio às 14:45 horas informando sobre aulas públicas que serão ministradas pelo jurista Luis Moreno Ocampo, primeiro titular da Cátedra Ernney Plessmann de Camargo e do Instituto de Relações Internacionais da USP. Ocampo foi promotor adjunto no Julgamento das Juntas Militares, responsável por processar comandantes do exército da ditadura militar argentina de 1976 (Jornal da USP). A cátedra foi instalada em 16 de outubro de 2023, em homenagem em homenagem ao Prof. Erney P. Camargo. Tive uma longa vivência com o Prof. Erney, com quem aprendi microbiologia nos tempos de graduação e depois participei de várias empreitadas conjuntas. Erney foi Presidente do CNPq, criador do Curso de Ciências Moleculares, USP e muitíssimo mais. Por que quero dividir com vcs a minha reação? Por que quero registrar na nossa NL as vielas por onde passa o antissemitismo e a criação de falsas verdades sobre Israel.
Programa
16/5, quinta-feira, 14h, Guerra con Ucrania
23/5, quinta-feira, 14h, Genocidio Armenio en 2023
06/6, quinta-feira, 14h, Octubre 7 y la Guerra de Israel en Gaza
Estas são as três aulas programadas! O título da terceira aula é insultante. Não tenho ideia do conteúdo da aula que acontecerá no dia 6 de junho. Mas, o título já revela o mal uso das palavras.
O Estado de Israel está sendo atacado em todas as suas fronteiras. A bem da verdade, não por todos os seus vizinhos. Até há uma semana contava com o Egito e a Jordânia de forma explícita, e hoje apenas a Jordânia. Não existe uma Guerra de Israel em Gaza, e sim um ataque brutal de Gaza a Israel, 22 unidades populacionais (cidades, kibutzim e moshavim) foram atacadas em um dia. Mortos, feridos e raptados! E Israel revidou. A imprensa israelense, que é uma imprensa independente e inclui jornais em diferentes idiomas e linhas políticas tem apresentado críticas positivas e negativas. Mas, certamente a Guerra não é de Israel em Gaza!!
Pensando em voz alta.
O texto acima não é necessariamente uma DENÚNCIA, mas sim uma OBSERVAÇÃO e um ALERTA para que possamos deixar de pensar que a SHOA ficou no passado.
A SHOA ainda está próxima!
Mas vamos à história. Muitos fatos rodam minha memória, e para evitar divagações fui buscar na INTERNET datas em cada um dos períodos da história judaica. Um computador bem ensinado acaba apresentando milhares de opções e sugerindo textos que consolidam a informação. Minha surpresa foi encontrar um texto excelente na WIKEPÉDIA portuguesa que divido com vocês.
Abaixo faço um resumo pessoal de um passado remoto e deixo de incluir os séculos XIX, XX e XXI.
Antiguidade
1. 410 aEC Elefantina (Ilha no Nilo) – revolta egipcia contra os persas incendiou Beit ha Knesset da comunidade judaica.
2. Século III aEC – Alexandria (Egito) – Sacerdote historiador egípcio (Maneton) ridiculariza as leis judaicas em muitos textos – aqui é um teaser para que quiser olhar muitos textos. Ridiculariza a observância do Shabat e atribui a esta observância a queda de Jerusalém
3. 170-167 aEC – Editos anti-judaicos promulgados por Antíoco IV Epifânio na Palestina (lembrar que Palestina foi o nome dado pelos romanos ao Reino de Judá – após a sua conquista!
4. 38 EC – Alexandria – massacre dos judeus. De acordo com Fílon de Alexandria este massacre foi inspirado nos escritos de Maneton.
Idade Média
1. Final século VI – Reino Visigótico, católico na Espanha emite decretos antijudaicos. Proíbe casamento de judeus com cristãos, circunsisão e prática dos feriados judaicos.
2. Século VII – Foi criada as “Punições Cívicas e Eclesiásticas”, conversão forçada, exílio e morte.
3. Século VIII – invasão mulçumana na península ibérica – judeus alinham-se aos conquistadores. – Idade dourada dos Judeus na Espanha (até o século XI).
4. Século XI - 1011 – Córdoba, 1066 Granada – acaba a convivência – e ocorrem os pogroms, destruição de sinagogas, tanto na Espanha quanto no Egito, Síria, Iraque e Iémen. Conversão forçada ao Islã. Nesse período está Maimonides, uma dos grandes sábios judeus. Assim, como Maimonides e seus discipulos fugiram para o Egito, Haza e Safed, outros foram para o Norte, Reino Unido, Portugal. Os sefaradim (judeus da Espanha) espalham-se pelo mundo.
5. As perseguições na Idade Média foram muitas! Cruzados que queriam declarar ao que chamavam de Terra Santa como orginalmente cristã, criaram falsas verdades que até hoje podem ser escutadas em sermões de igrejas. E também são combatidas por alguns ramos da igreja do século XXI. Em Norwich, leste da Inglaterra, ocorreu acusações do uso de sangue cristão para rituais, e que os judeus eram os “assassinos de Jesus Cristo” – ocorre a expulsão desta região, que ao longo dos anos se extende para toda a Inglaterra, Escócia e Irlanda
RENASCENÇA
1. Neste período são pregadores cristãos franciscanos e dominicados que pregavam o antissemitismo. Mas o fato que me impressiona é o antissemitismo gerado pela Peste Negra (Século XIV). Chama atenção que neste período o papa Clemente VI emitiu duas bulas papais visando a proteção dos judeus (1348). Na cidade de Estrasburgo foram queimados vivos 900 judeus, mesmo antes da peste chegar a cidade. E a razão desta perseguição é muito interessante. Os hábitos de higiene prescritos na Torah e elaborados ao longo dos anos no Talmud e também por Maimonides continham várias regras que faziam com que a bactéria Yersínia pestis não fosse transmitida ou encontrasse barreira pré-imunes que impediam a sua entrada! O irônico é que os hábitos de vida judaica impediam o disseminar da doença. Os demais achavam que eles traziam as doenças.
2. E chegamos a 1478 – a Inquisição Espanhola! Segundo o artigo da Wikipédia que é a base para esta descrição, 150 000 pessoas foram condenadas ao longo de 3 séculos (1478-1834) por tribunais da inquisição. Mas segundo vivemos aqui no Brasil e agora temos relatos dos mais diferentes recantos de cristãos novos, o número é muito maior se levarmos em conta as colônias!
3. “Da Espanha não vem bons ventos nem bons casamentos”- um ditado que eu escutava de um feirante português que não gostava quando eu pegava frutas de um vizinho espanhol. Tinha uns 10 anos e achava aquilo divertido, porque os dois eram amigos, mas brincavam com os filhos das clientes que iam pegando frutas ou agrados”. A inquisição portuguesa e sua repercussão na formação do Brasil merece mais atenção do que apenas um parágrafo, mas foi herdada da Espanho pelo casamento de Don Manuel I com uma infante espanhola. A concessão papal para instalar a Santa Inquisição em Portugal só chegou no reinado de Dom João III e trouxe grandes consequências em Portugal e no Brasil.
Idade Moderna
1. Século XVII – a Comunidade Polaco-Lituana (República das Duas Nações) sofre várias revoltas, perde parte importante da comunidade judaica (centenas de milhares) e há uma imigração de retorno para o Oeste Europeu, inclusive Inglaterra e a formação das comunidades na Bessarábia (Moldávia) e Ucrânia). Quantos judeus foram mortos neste período será difícil de contabilizar, mas implicou em uma migração forçada.
2. Estados Unidos – há muitas controvérsias sobre a posição dos judeus nos Estados Unidos da América. Houve várias perseguições no Oeste que levaram a migrações para o Leste. Há muitos relatos de antissemitismo desde a criação dos Estados Unidos, a começar pelo que acontecia em Nova Amsterdã, atual Nova York. Hoje, sabemos que este caldo estava submergido e que bastou um estopim cheio de falsas verdades para que o antissemitismo aflorasse em todos os níveis, inclusive o acadêmico.
3. 1679 - Iémen – judeus habitavam o Iémen desde a saída do Egito. Lembramos que o Har Sinai, onde foram entregues as Tábuas da Lei e a Torah ficam no Iémen. Nesta época foram destruídas as comunidades e as pequenas sinagogas. As grandes foram transformadas em Mesquitas!! Prática centenária que depois foi adotada também na Esplanada do Templo em Jerusalém.
· século XVIII é premiado por ações na Prússia (Frederico II), Austria (Imperatriz Maria Teresa), Russia (Imperatriz Catarina II) promovem ações de segregação e prejuízo. Algumas com mais intolerância outras com menos. No caso da Russia, foram criadas as zonas de assentamento localizada na atual Polônia, Moldávia, Ucrânia e Bielorrússia. Eram os shtetls. Além dos judeus a Imperatriz Catarina II criou vilas para vários outras nacionalidades apátridas. Estas forças de trabalho foram importantes para desenvolver economias locais.
4. Nesta época o preconceito aos judeus também pode ser avaliada por escritos de Voltaire que no Dicionário Filosófico (Dictionnaire philosophique), classificava o povo judeu como “ignorante", “bárbaro" e "cheio de superstições". Ao mesmo tempo, também criticou os que os perseguiam, dizendo: mesmo assim, não devemos queimá-los na fogueira. A Wikipédia portuguesa acrescenta que o Isaac de Pinto, um escritor judeu, escreveu uma carta aberta a Voltaire lamentando o preconceito. Este desculpou-se por ter estereotipado os judeus, mas não alterou a sua opinião geral… Qualquer semelhança com o que acontece hoje não é mera coincidência.
5. Ainda são relatadas as ações contra os judeus no Império Otomano com o extermínio das comunidade de Tetuã, de Larache, Arzila, Alcácer Quibir, Taza, Fez e Mequinez . Há vários relatos do antissemitismo em paísed mulçumanos. A documentação apresentada é volumosa e deixo registrado que Benny Morris, historiador israelense nascido em 1949 que tinha posições pró-palestinos cita o relato de um viajante do século XIX –
"Eu vi um rapazinho de seis anos de idade, com uma tropa de crianças gordas de apenas três e quatro anos, ensinando-as a atirar pedras contra um judeu, e um pequeno menino, com a maior frieza, ir até ao homem e, literalmente, cuspir na sua gabardine. A tudo isso, o judeu é obrigado a submeter-se, seria mais do que sua vida valia atacar um maometano."[78]
Vamos nos aproximando aos nossos tempos. As descrições pormenorizadas continuam. Convido a todos para lerem os relatos. Um dos mais completos que encotrei e que de forma isenta segue relatando as discriminações a músicos e cientistas brilhantes.
Há muito mais a relatar – século XIX e XX foram cobertos de ações contra o Povo Judeu. Deixo uma figura que todos conhecemos e que vem sendo negada de forma vergonhosa!
Vala comum no Campo de Concentração de Bergen-Belsen - 1 de abril de 1945 |
Quase concluindo,
Um sabor do que os judeus faziam pelos judeus.
Retomando os dias de hoje. As sirenes tocam no Norte de Israel, mas a vida do dia a dia, apesar da inflação galopante e de sérios problemas na política interna, continua, continua e continua!
Se não há esperança em calar os que nos caluniam, certamente temos um histórico longo de superação, criatividade e de sabedoria para continuar a VIDA! Vamos chorar em 7 de outubro, como choramos em 9 de Av, Iom ha Shoa e 4 de Iar (Yom haZikaron). E vamos continuar a nos alegrar em PURIM e em 5 de Iar (Iom ha Atsmaut).
A Vida que esta semana foi celebrada de forma tão alegre na coluna Iachad pelo nosso colaborador André Naves.
AM ISRAEL CHAI
Regina P Markus
muito bom Re !!! Fantastico realmente!!! quanto para aprender de você!!!
ResponderExcluirVai chegando o tempo que viraremos esta página!
ExcluirExcelente, Regina! Muita história e muito a aprender. Obrigada por esta coluna informativa e bem situada nos tempos que estamos vivendo. Ita
ResponderExcluirIta, obrigada pelo comentário- é sempre desafiador escrever sobre o aqui e agora. Neste momento olhamos para o horizonte e pedimos uma nova fase!
ResponderExcluirOi Regina!
ResponderExcluirFantástico texto.
Extremamente interessante e informativo.
O trecho "Acendo os faróis de minha memória e lembro de fazer rolos com linha ou lã para que adultos tricotassem ou fizessem tapetes. Era para ser o mais longo possível, e em alguns casos tirávamos os pedaços esgarçados e dávamos um nó para emendar as duas pontas. Em outros, fazíamos uns rolinhos pequenos, de forma a nunca ter nós. Uma tia, que era grande artesã, preferia os rolos maiores. Assim somos nós, sabemos que o rolo maior, a continuidade da existência do povo tem a vantagem até de contar os nós dos pontos fracos." foi maravilhoso!
Agradeço demais pela menção elogiosa à minha coluna!
Fraternais Abraços.
Esteja com D´us.