Preconceito, por Tamara Leftel

O texto é de Tamara Leftel, jornalista carioca, e foi publicado há um ano - mas não poderia ser mais atual.

"O preconceito não é uma roupa q você tira do corpo e joga fora.
Ele fica guardado no fundo da gaveta do teu inconsciente.
Não veste a pele, vai mais fundo, veste a alma, tua atitude.
É aquele pijama gostoso q num dia frio você tira do fundo da gaveta e veste: o preconceito é aconchegante, dá conforto!
A vida vai mal? Tô infeliz, sem dinheiro?
A culpa não é minha! A culpa é deles...
E quem são os vilões queridinhos da História? Não morriam na Peste Negra, devem tê-la provocado! Criaram o capitalismo para dominar o mundo! Inventaram o comunismo para derrubar o capitalismo! Construíram um país, como ousam!
Assim foi na Inquisição há 500 anos, nos pogroms há 200 anos, no Holocausto há 70 anos, nos países árabes há 60 anos, qdo. sempre os judeus foram saqueados e expulsos dos países em q viviam.
Hoje, existe Israel e eu q não sou antissemita, sou bonzinho, sou antissionista, quero expulsá-los do seu próprio país!
Levaram porrada por séculos, agora têm um exército pra se defender?
Mudou o status quo!!!
É a lógica sutil do preconceito.
É traiçoeiro. Sem perceber, deixa escapar coisas q ouvi muito na vida:
" Você é judia Tamara? Não parece!"
" A Tamara é judia mas é boa gente!".
Ouvir isso agride, mas é útil: não deixa dúvidas sobre quem te cerca.
E você: qtos. atos falhos já cometeu?
Qtas. vezes pré-julgou ou comprou fácil acusações incertas?
Os judeus são apenas 0,2% da população mundial, fácil demonizar...
Antes de se assumir "políticamente correto", checa se o pijama não continua no fundo da gaveta."

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