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quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Acontece - E quando entrares na Terra (Ki Tavô)




ONTEM, HOJE e AMANHÃ

Por Regina P Markus

Este mês de Elul é o momento para refletir e preparar o futuro. A parashá desta semana Ki Tavô - Moshé discursa sobre a entrada na Terra do Leite e do Mel, na construção de uma CASA para o NOME e também sobre regras e maldições quando desvios forem feitos. A Terra será habitada pelo Povo de Israel, e também abrigará outros povos. Conflitos... chegamos aos dias de Hoje e sabemos dos conflitos por todos os meios de comunicação. Recentemente um representante da comunidade árabe-israelense que é membro da parlamento (Chaver Knesset) Ayman Odeh, líder do partido Hadash e líder da União de Partidos Árabes, deu declarações as quais o comentarista Marcos L. Susskind rebateu, escrevendo uma carta-resposta a seus posicionamentos. Este "Acontece" reproduz esta carta que esclarece pontos relevantes e faz um posicionamento claro sobre a soberania do único Estado Judeu na Terra. Lembrando que este estado é pluralista e que seus cidadãos não são necessariamente judeus, e que como cidadãos têm a prerrogativa de eleger representantes para o Parlamento.



CARTA ABERTA AO PARLAMENTAR Ayman Odeh
escrita por Marcos L. Susskind

























Debate e troca de idéias é a base para poder ter entendimento. Mas é preciso guardar os limites. Limites, regras e punições é o que a Torah continua colocando esta semana. Num momento de reflexão são colocadas punições, agora focando o povo. Muito difícil de ler e de transportar para os dias de hoje se quisermos seguir tudo ao pé da letra. Mas o Talmud, e depois os textos dos comentaristas e agora dos muitos doutos que escrevem sobre o tema, ensinam que a Torah pode ter vários níveis de leitura. Na semana anterior, comentei que o rompimento das regras e a sua relação com a Terra de Israel poderia ser encarado como prenúnico de exílio. Nesta semana, as formas de redenção não aparecem, vão ser explícitas apenas no 15o versículo da próxima parashá. Este é um preparo longo, pessoal que chegará nos Iamim Noraim e Iom Kipur. O indivíduo, de forma pessoal e coletiva, chega a seguir em Sucot quando todos juntos, sob cabanas que lembram o início, continuam mais um ano no traçado do tempo.

Assim, lembramos que esta newsletter tem como objetivo abrir uma ÁGORA, uma praça para o debate, como existiu na Esplanada dos Templos de Jerusalém, onde era possível escutar e debater.

Boa semana!
 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

VOCÊ SABIA? - Judeus do Marrocos

 

JUDEUS DO MARROCOS: Judeus residentes e suas tradições judaicas nas montanhas do Atlas

Por Itanira Heineberg



Você sabia que os primeiros judeus a se estabelecerem no Marrocos lá chegaram em 70 EC - quando se iniciou o exílio, ou diáspora judaica - e que dos 30 mil judeus lá estabelecidos até 1948, restam agora algo em torno de 3 mil?

 

Não se sabe desde quando os judeus habitaram o Marrocos, mas Marrakech, fundada em 1062, ficou conhecida como “a cidade da inteligência e dos debates talmúdicos”.

A cidade de Marrakech, capital do sul do Marrocos em tempos antigos, foi criada pelo sultão da Almorávida (império islâmico fundado por uma dinastia berbere do norte da África), Youssef Ibn Tachfine, que permitiu a instalação dos judeus em seus territórios.

A partir de então a presença judaica permaneceu no país, vivendo ao lado de vários regimes cristãos e muçulmanos, às vezes perseguidos e às vezes tolerados.

O legado judaico no país é imenso e várias empresas de turismo têm se especializado em organizar excursões que mostram a riqueza da história deste povo em terras marroquinas. Tenho conversado com turistas voltando do país, tenho lido relatos de visitantes e estudado  programas de viagem que levam as pessoas aos lugares mais significativos e antigos, com suas antigas construções e memórias de uma vida intensa e nem sempre pacífica, e decidi que para o próximo ano irei pessoalmente conhecer estes edifícios e ali aprender sobre os passos do povo judeu no país.

Apresentaremos a seguir algumas preciosidades do passado:


Pátio da sinagoga Salat Al-Azamat, a mais antiga de Marrakech  

(Foto: Thais Kuperman Lancman)


Os judeus expulsos da Espanha em 1492 pelos reis católicos Fernando e Isabel construíram uma linda sinagoga (foto acima) na cidade de Marrakech sob a liderança do rabino Yitzhak Daloya, conhecida como a Sinagoga dos Deportados.


Interior da sinagoga Salat Al-Azamat     


Marrakesh, um lugar cheio de exotismo, aos pés da cordilheira do Atlas e no meio de um enorme oásis é chamada de "Cidade Vermelha", um verdadeiro tesouro declarado patrimônio mundial, assim denominado devido à cor de suas muralhas. Ali encontramos as ruelas caóticas do seu enorme mercado, o shuk, com surpresas escondidas, a medina ou parte antiga da cidade, e muito charme a desvendar. Também de grande importância histórica é uma caminhada pelas ruas da melah, bairro murado onde moravam os judeus.



Os mercados no Marrocos são uma mostra completa da vida de seus habitantes, oferecendo o que há de melhor em temperos, frutas, artesanato, sapatos, túnicas, e sempre uma conversa gostosa com os comerciantes que apreciam uma boa negociação.

E as tâmaras? Ah, as famosas e deliciosas tâmaras?

O que dizer destas iguarias, um verdadeiro patrimônio do país!


Sinagoga Salat Al-Azamat    


Passemos agora à Casablanca, a capital econômica do Marrocos, a maior cidade do país, com a mesquita Hassan II, construída entre 1986 e 1933 e seu panorâmico teto retrátil que encanta a todos, turistas e muçulmanos em oração.

Nesta cidade encontra-se o único Museu Judaico existente em um país árabe, o Museum of Moroccan Judaism, criado em 1997 com um acervo incrível, expondo a todos a história do Povo Judeu com suas tradições, costumes, vivências e o famoso PIYYUT - canções dos judeus marroquinos em seus serviços religiosos, como exemplo temos “The Song of Friendship”. 


Museu Judaico - Casablanca


Fez, a segunda maior cidade do Marrocos, fundada no século IX, apresenta-se aos turistas como um labirinto devido à sua urbanização caótica: em tempos muito antigos, as casas foram construídas sem planejamento e depois surgiram as ruas nos espaços restantes,  assim, andar por suas ruas é como voltar à Idade Média! Nem Waze nem Google Maps ajudam os visitantes.

 

Cemitério Judaico de Fez, e as casas que simplesmente o ignoram, um símbolo de harmonia cultural.




Chegamos finalmente à Rabat, a capital do Marrocos, cidade moderna, arborizada e limpa; o contrário de Casablanca.

Ali encontra-se a Sinagoga Talmud Torá, perto da melah (antigo bairro dos judeus).

Infelizmente não obtive fotos desta sinagoga, mas sabe-se que no passado foi o Instituto Marroquino de Estudos Hebraicos, para jovens que almejavam ser rabinos vindos de cidades marroquinas e da zona espanhola.

 

Ainda há Judeus no Marrocos!



“Hoje, a maioria dos judeus do país, cerca de 3.000, está concentrada em Casablanca, uma movimentada metrópole de 3,4 milhões. Apesar de seu tamanho reduzido, a comunidade judaica marroquina permanece totalmente funcional, ativa e vibrante. Com a introdução de laços diplomáticos com Israel, o futuro dos judeus marroquinos parece mais brilhante do que em décadas.”

 

Esta é uma notícia alvissareira.

Falar do Marrocos e de seu legado judaico de muitas gerações deixa-me muito empolgada e ao mesmo tempo preocupada: o artigo está ficando longo e há ainda tanto a ser dito, como por exemplo, ir a Fez visitar a casa onde Maimônides, o Rambam, um dos maiores sábios do Judaísmo refugiou-se, após sair da Espanha em 1492. Hoje ali há o pequeno Museu Maimônides, uma loja–museu que oferece artigos de arte judaica e astrolábios.

Concluindo nosso passeio por terras antigas, recomendo a leitura do livro abaixo, de Abraham Pinto, vindo muito jovem de Tanger, Marrocos, onde conta suas aventuras junto ao irmão mais velho, Moisés, na selva amazônica, no final do século XIX.

Eles fazem parte do imenso grupo de judeus marroquinos que vieram para o Brasil durante o ciclo da borracha e aqui plantaram eternas tradições judaicas por onde viveram e se estabeleceram.

O texto está muito bem escrito, os relatos são muito interessantes e surpreendentes para dois jovens sem experiência de navegação, floresta, índios, comércio e negócios.

Junto com a vontade de viver e melhorar a situação financeira da família em Tanger, trouxeram com eles seus livros de Yom Kipur com os quais observavam 3 dias de jejum e rezas durante o feriado, atracando suas canoas à beira de rios tais como o Javari ou o Juruá, celebrando as Grandes Festas como o faziam em sua infância no Marrocos.

 


Coleta do látex das seringueiras no Amazonas.


FONTES:

https://medium.com/pasmas/a-mesquita-dos-judeus-70c0c16da9fa

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/5524037/jewish/19-Fatos-Sobre-Judeus-Marroquinos.htm

https://en.wikipedia.org/wiki/Amazonian_Jews

http://judios-marroquies-en-amazonia.com/TextoPintoEspanol.pdf

https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/la-medina-de-marraqueix-30-oct-2018-30271907

https://issuu.com/revistamorasha/docs/revista_morash_116_-_site/s/16801325


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Acontece - Mês de Elul - o último mês judaico - um tempo especial

Este é um mês em que as mentes e os corações olham o passado para construir o futuro. Elul, mês em que se escuta o Shofar, de forma a lembrar que há algo especial para chegar: O NOVO ANO. Um período que faz eco no judaísmo de todas as nominações e também nos judeus que não seguem religião. Um povo para o qual o tempo é algo importante. Este mês dançamos e escutamos o tempo passar e refletimos o que foi e o que virá. Como ilustração do texto, temos o Chazan da Comunidade Esh Tamid Daniel Markus tocando o Shofar em um pôr de sol especial em São Paulo. Um berrante que acorda e que embala, um som que faz lembrar e faz sonhar, um som que une o passado ao futuro, através das gerações.




Neste mês é lido o último livro da Torah - DEVARIM (Deuteronômio). O Livro é o Discurso que Moshé (Moisés) faz antes dos israelitas cruzarem o Rio Jordão e entrarem na Terra de Israel. Como sabemos, o líder que trouxe o povo do Egito até as margens do Jordão em uma viagem que durou 40 anos não cruza. Seu último discurso relembra a história e cria expõe regras de conduta que possam permitir a sobrevida até tempos que não se podia contar. 

Esta porção - Ki Tetsê (כִּי–תֵצֵא ) começa com a frase "Quando saíres à guerra contra teus inimigos" e então seguem 74 regras de conduta referentes a relacionamentos com "o outro", "a propriedade", "a natureza". Ao tratar dos relacionamentos entre pessoas, vai desde o inimigo que é capturado na guerra, passando pelas relações familiares com os bons e maus. Os comentários dos talmudistas e dos comentadores mais modernos trazem explicações muitas vezes conflitantes. Olhando com a perspectiva de nossos dias, vemos um mundo em que todas as interpretações chegam à tona. Um mundo difícil de se entender e coordenar, que mostra de forma aguda as várias arestas dos relacionamentos humanos e as dificuldades de encontro de linhas que mais parecem a definição pura e simples de linhas paralelas que aprendemos na escola "retas em um plano que estão sempre à mesma distância uma das outras". Retas que não se cruzam. Fazendo um jogo com as palavras "retas lembram correto; certo; direito", será que as duas retas estão certas? Seguem paralelas sem se encontrarem até o infinito? Usando o sistema das parábolas, midrashim, sabemos que não vivemos em um único "plano" e portanto a definição básica de "retas paralelas" deve ser amoldada a diferentes planos. É desta forma que todos os comentaristas, os sábios e os comuns, lançam luz a um texto que rompe os tempos. As retas se encontram... os planos se alternam... 

De todas as 74 regras vou comentar uma única conforme escutei e li em alguns posts esta semana; Rav Oury Cherki de um site conhecido como Shalom 39 (https://youtu.be/Px244R5-CPQ). É feita uma análise dos comentaristas Maimonides (Moshe ben Maimon - 1138-1204), Nachmanides (Moshe ben Nachman, 1194 - 1270) e Maaral de Praga (Judah Levy ben Bezalel, 1525-1609). 

Deuteronômio 22:6-7: "Quando encontrares algum ninho de ave diante de ti, pelo caminho, numa árvore ou no chão, com pintinhos ou ovos, e a mãe sobre os pintinhos ou sobre os ovos, não tomarás a mãe estando com os filhos. Mas deixarás ir livremente a mãe e os filhos poderá tomar para ti, a fim de que te seja bem e prolongues os teus dias".

A leitura deste texto pode ter uma visão humanitária e biológica levando em consideração o respeito à mãe e a necessidade de alimentos. Esta é a forma simples de avaliar o texto. Mas, olhando a simbologia da mãe que prepara o futuro, as mesmas palavras - "mãe sobre os filhos" é proferida por Jacob quando encontra Esaú. Mahahral de Praga, e a Mishná, trazem a interpretação misericordiosa, Nachmanides define a mãe como sendo a Scherriná (o próprio D'us na forma feminina), os filhotes, os filhos de Israel e o ninho a terra de Israel. E Rambam que acredita ser a Torah e Talmud não apenas registros históricos comentados, mas fonte de grandes princípios de pensamento, abre espaço para interpretações.

Rav Oury Cherki comenta que hoje podemos ampliar nossa forma de interpretar o que ocorre quando a Mãe se ausenta: o ovo representa a Torah escrita, os filhotes a Torah oral e os filhos a Cabala. Estes pontos podem também ser ligados aos tempos de distanciamento do ninho, aos tempos do exílio, que foram anunciados por Isaías quando a Scherriná não está presente. A Torah foi revelada após o Exílio no Egito, o Talmud Babilônico representa a Torá Oral e a Cabala foi escrita durante o Exílio de Edom, que inicia-se com a conquista dos romanos e termina com o estabelecimento do Estado de Israel no século XX.

E chegando ao século XXI, na semana em que lemos esta parashá, que necessita de tantas explicações para poder ser entendida ao longo dos anos, atrevo-me a dizer que estamos em outra encruzilhada. Em um momento no tempo em que as retas deixam de ser paralelas porque estamos mudando de plano. Isto acontece não apenas em relação ao Estado de Israel, mas em todo o mundo! 

Mas... e sempre tem um mas.... que pode trazer outros lados de um cubo, ou outros filtros para entender o que é a realidade, o ensinamento báscio da Torah, que baseia o futuro na capacidade de uma geração educar a próxima e permitir que valores verdadeiros possam ser transmitidos e adaptado aos tempos ainda é válido.

Que o som do Shofar seja um alerta para todos.

Regina P. Markus








terça-feira, 22 de agosto de 2023

VOCÊ SABIA? - COPA DO MUNDO 1938 - PAÍS SEDE: FRANÇA

 

Por Itanira Heineberg



Você sabia que na Copa do Mundo de 1938 o Mandato Britânico da Palestina participou com uma equipe completa cujos jogadores eram todos judeus?

 

Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 1938 – MANDATO BRITÂNICO DA PALESTINA

Treinador: Áustria Egon Pollak

Não.   Pdv.    Jogador                                            Equipe

1        GK      Júlio Klein                          Palestina - Hapoel Haifa

1        GK      Israel Elsner [ele]             Palestina - Maccabi Tel Aviv

2        DF      Avraham Beit haLevi        Palestina - Hapoel Tel Aviv

3        DF      Avraham Reznik (Capitão)  Palestina - Maccabi Tel Aviv

4        MF      Yosef Libermann         Palestina - Maccabi Tel Aviv

5        MF      Gdalyahu Fuchs                     Palestina - Hapoel Haifa

5        MF      Yohanan Sukenik          Palestina - Hapoel Tel Aviv

6        MF      Menahem Mirmovich             Palestina - Maccabi Tel Aviv

7        FW     Mila Ginzburg                         Palestina - Maccabi Tel Aviv

8        FW     Shuka Brashedski              Palestina - Hapoel Haifa

8        FW     Yona Stern                          Palestina - Hapoel Haifa

9        FW     Peri Neufeld                        Palestina - Maccabi Tel Aviv

10      FW     Jerry Beit haLevi          Palestina - Maccabi Tel Aviv

10      FW     Gália Machlis                          Palestina - Maccabi Tel Aviv

11      FW     Avraham Nudelman                Palestina - Hapoel Tel Aviv

11      FW     Natan Panz                   Palestina - Maccabi Tel Aviv

 

E que ao final da Copa, todos os países participantes receberam um troféu chamado Biscuit Nymphe Falconet?  (foto abaixo)



Para a disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 1938, 37 equipes se inscreveram competindo por um total de 16 vagas na fase final.


Egito e Palestina estavam nos grupos de 1 a 9; eram 11 vagas disputadas por 23 equipes.

Bandeira do Mandato Britânico   1927 – 1948



Seleção Palestina - 1930



Equipes Palestina e Grécia - Copa do Mundo 1938


Grupo 6

Primeira fase

22 de janeiro 1938       Palestina  X  Grécia

20 de fevereiro 1938    Grécia X  Grécia

 

A Grécia avança à fase final.

Este fato histórico e interessante vem reafirmar que Israel não é um país colonizador como vem sendo acusado por tantas nações e pela mídia mal informada e mal intencionada.

Israel não coloniza os territórios palestinos. Não existia uma Palestina.

Quando a França invadiu a atual Argélia em 1830 e a dominou, aí se instalando, a França virou um país colonizador.

Quando os Árabes invadiram a Espanha no século VIII e a conquistaram e dominaram, eles agiram como um país colonizador.

Colonizar é ocupar e, ou explorar um povo, invadindo uma terra estrangeira e aí se instalar como proprietário.

Israel é a terra do Povo Judeu desde os templos bíblicos e após um desterro de mais de dois mil anos, este povo volta à sua terra e a habita.

E aqui neste breve texto sobre a copa do mundo de 1938, vemos um time judeu completo de futebol pronto a enfrentar uma competição esportiva mundial, neste pedaço de terra conhecido como Mandato Britânico da Palestina, que se estendia do Iraque, Yemen, Gaza, até Israel atual.

A seguir apresentamos um vídeo esclarecedor sobre as guerras e invasões dos colonizadores e a história de Israel neste contexto:



 

 

FONTES:

https://www.wikiwand.com/pt/Eliminat%C3%B3rias_da_Copa_do_Mundo_FIFA_de_1938

https://en.wikipedia.org/wiki/Mandatory_Palestine_national_football_team

https://he.wikipedia.org/wiki/%D7%A0%D7%91%D7%97%D7%A8%D7%AA_%D7%90%D7%A8%D7%A5_%D7%99%D7%A9%D7%A8%D7%90%D7%9C_%D7%91%D7%9B%D7%93%D7%95%D7%A8%D7%92%D7%9C

https://museudofutebol.org.br/crfb/eventos/497465/


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ACONTECE - Arábia Saudita

 

Arábia Saudita está acontecendo







As manchetes se referem a esportes e a acordos políticos. O time Al Hilal saudita está sendo reforçado com técnico e jogadores de calibre "Dream team".

Na esteira da contratação de um bilhão de reais do Cristiano Ronaldo em dezembro último, foram contratados nesta semana Neymar, o técnico português Jorge Jesus que já fez milagres no Flamengo e vários outros do Lazio, do Zenit, do Chelsea e do Sevilha. O total do investimento chegou agora a 3 bilhões de reais em pouquíssimo tempo. E os clubes de futebol sauditas foram estatizados. Mesmo que esta montanha de dinheiro não seja tão significativa no contexto do império do petróleo, está evidente o empenho  em  ocupar as manchetes globais com notícias positivas desde o fortalecimento da seleção saudita na copa de 2022, a candidatura à sede da Copa da FIFA em 2030 - da qual acabaram desistindo, o pleito de que a Federação saudita tenha vaga na Liga dos Campeões da Europa e agora as bilionárias aquisições.

No cenário político, esta semana, na sequência de um encontro em março deste ano orquestrado pela China, os chanceleres da Arábia Saudita e do Irã, inimigos incontestáveis, sentaram para uma reunião classificada como muito positiva no caminho de superar a hostilidade e alavancar a cooperação tanto política como econômica. Reabriram a embaixada saudita em Teerā. Embora compitam para a operação de campos de extração de petróleo, as ações têm se abrandado de lado a lado. Além disso, eles vêm aproximando a Síria e o Iêmen, que apesar de terem importância e papel totalmente diferentes no tabuleiro árabe, são peças extremamente relevantes no sentido de reduzir a violência na região.

Mais diretamente pertinente a nós, Riad vem se envolvendo em negociações sobre um possível acordo, ainda visto como de longo desdobramento, que inclua seu formal reconhecimento de Israel em troca de garantias de segurança pelos EUA e concessões de Israel no conflito com os palestinos, ainda declarada a mais importante questão no mundo islâmico.

O príncipe saudita Muhammed bin Salman (MBS) desempenhou um papel chave nos Acórdãos de Abraão e "vem mostrando excepcional coragem e tenacidade na modernização do país, religiosa, culturalmente, economicamente e em termos de educação", afirma Yoram Ettinger, importante analista criador do Ettinger Report (Yoram@theettingerreport.com, recomendo). Mas "ele, MBS, atua num ambiente inter-árabe imprevisível e tênue, como evidenciado pelas ameaças internas e externas à Arábia Saudita dentro da própria família real como o puritano Wahhabismo, movimento islâmico sunita fundamentalista e rígido". 

MBS tem priorizado interesses sauditas sobre os palestinos mas não declara isso.  A caminho de sua visão 2030, ele vê Israel como um aliado vital em termos militares, tecnológicos e diplomáticos. A visão ambiciona alavancar a geografia e a riqueza sauditas, transformando o reino em uma potência financeira, militar e diplomática global. Ele não tem ilusões sobre a natureza vulcânica do Oriente Médio, inclusive da ameaça letal dos Ayatollás iranianos e considera Israel "como o parceiro mais confiável no enfrentamento das ameaças mútuas, sobretudo quanto à erodida postura americana de dissuasão e conciliação." 

Já a postura de dissuasão de Israel induziu MBSa buscar laços mais próximos com o Estado judaico.

Na geopolítica atual, preocupa este papel menor que os EUA têm ocupado. E a força do movimento saudita de "acontecer" deve ser percebido e usado. Pergunta Ettinger: "o departamento de Estado americano está ciente de que a frustração saudita com a opção diplomática dos EUA em direção ao Irã tem levado os sauditas a se aproximar da China e da Rússia?"  

E é legítimo e crítico nos perguntarmos se Israel, com tantas ameaças internas e externas, pode prescindir de um aliado potente e interessante como a futebolística Arábia Saudita?


Boa semana!

Juliana Rehfeld

terça-feira, 15 de agosto de 2023

VOCÊ SABIA? - KETUBAH, o Contrato de Casamento Judaico

 Por Itanira Heineberg



Você sabia que a Ketubah - contrato de casamento judaico - pode ter seu valor em dobro ao ser projetada também como uma Obra de Arte?



O verbo “ketubah”, em hebraico, significa escrever.

A ketubah, um documento criado para proteger a mulher, é assinada em uma cerimônia de casamento. Há leis e costumes que estabelecem o que deve conter o contrato, mas quanto ao design em si, não há normas.

 

Tradicionalmente, as Ketubot (plural de Ketubá) são escritas em aramaico - o idioma utilizado pelos judeus durante o período do exílio babilônico e mais tarde quando eles retornaram à terra de Israel - e definem as responsabilidades matrimoniais. Há também versões em hebraico, que podem ainda ser acompanhadas por texto em português ou outros idiomas, estipulando as responsabilidades mútuas entre marido e mulher. Nas sinagogas liberais, a noiva também assina esse contrato. A Ketubá torna-se propriedade pessoal da noiva.

 

No casamento, o marido possui três obrigações fundamentais em relação à sua esposa: prover alimentação, roupas e satisfação sexual. As duas primeiras são necessidades essenciais à vida, o que significa que o esposo deve suprir o bem-estar econômico de sua companheira.

Em caso de divórcio, a ketubah obriga o marido a pagar à sua esposa uma quantia em dinheiro.

Como podemos ver, a ketubah originou-se como uma proteção para as mulheres, evitando que fossem descartadas pelos maridos sem nenhum apoio para seu bem-estar financeiro. Era um documento libertador para as mulheres.

 

“A ketubah era considerada tão básica para um relacionamento conjugal justo, de fato, que o Talmude comentou que a distinção fundamental entre uma esposa e uma concubina era que uma esposa tinha que receber um ketubah, enquanto uma concubina não. Os rabinos estipularam ainda que um homem era proibido de viver com sua esposa, mesmo por uma hora, sem uma ketubah.”

 

Alguns casais procuram uma ketubah atraente e inspiradora para pendurarem em seus lares assim perpetuando o amor que os uniu.

Como tentarei demonstrar em alguns exemplos abaixo, criatividade e personalização enriquecem este valioso documento. Podemos encontrar flores, pássaros com as mais belas plumagens, romãs, árvores e em especial imagens de Jerusalém!

Encantada com este assunto, fui vasculhar meus álbuns e arquivos da família e com alegria encontrei a minha ketubah, do ano 1970, que nos foi dada pelo nosso querido e carismático rabino, Chaim Etrog Z’l. Vou colocá-la ao final do desfile das ketubot.


Museu de Arte e História Judaica - Paris



Artista israelense Michael Horton mostra uma ketubah única, escrita em inglês e hebraico, para os noivos Príncipe William e Kate Middleton, casados em 2021.




Contrato em azul



Abaixo, Ketubah com Chuppah, a tenda de casamento.




E assim, após mais de 5 décadas de existência, minha ketubah, abaixo, vem à tona, com arte delicada e romântica escolhida pelo rabino que nos casou, com as palavras protetoras e tranquilizantes, indicando as funções de cada cônjuge desta certidão que nos acompanha até hoje.



FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/36-gorgeous-ketubahs/

https://www.myjewishlearning.com/article/the-ketubah-or-marriage-contract/

https://www.myjewishlearning.com/article/liturgy-rituals-customs-of-jewish-weddings/

https://youtu.be/clM1SEJfixo?list=PLT3E92DW2Hbgi3ACjKCaVZfne8U19Uxr0

(vídeo curto sobre a ketubah)

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Acontece - Como estar no Lugar Certo, no Momento Correto?

Como estar no Lugar Certo, no Momento Correto?


Buscar respostas para uma pergunta específica é uma das principais funções do estudo. Conhecer para seguir ao pé da letra ou conhecer para abrir novos caminhos? 

Dicotomizar um problema acreditando que existem dois caminhos mutuamente exclusivos é uma atitude que gera conflitos, facções e, na maioria das vezes leva à perda de controle. Olhando novamente as questões acima a pergunta que segue é: temos suficiente informação para saber se o conhecimento deve ser considerado de alta relevância - e portanto temos que segui-lo ao pé da letra - ou há ainda necessidade de exploração?

Hoje vamos explorar o LIXO. Algo que se acumula inexoravelmente e que deve ter um destino adequado. Pode ser reciclagem ou tratamento, mas, como vemos em muitos "Tel" ("montes") em Israel, abaixo destas colinas há material arqueológico que foi se acumulando ao longo de milênios, ou em alguns casos, apenas décadas.

Na próxima semana recebemos em São Paulo o ganhador do Prêmio Nobel 2004, Prof. Aaron Ciechanover. Nascido em outubro de 1947 em Haifa, mestre em Biologia pelo Technion em 1971 e doutor em Medicina pelo Centro Médico Hadassa em Jerusalém em 1974, ele seguiu uma carreira que une desvendar conhecimentos básicos em biologia e a passagem para aplicação. O Prof. Ciechanover estará dando uma palestra no dia 15 de agosto comemorando 90 anos da Escola Paulista de Medicina. 

Para a biologia também é muito importante o descarte de substâncias que estão dentro das células. Das nossas e de todos os seres vivos. A enorme contribuição dada por Ciechanover foi descobrir como as proteínas seguram e usam uma chave que as leva a um local de descarte. Esta chave chama-se ubiquitina. Nome excelente para nós, que falamos idiomas latinos - afinal ubíquo, até em português, quer dizer o que pode ser encontrado em todos os lugares.

Sim, a ubiquitina é uma chave comum para abrir um compartimento que se repete, com pequenas variações ao longo das espécies. É um tubo - e a proteína entra no tubo e é quebrada. ACABOU? Certamente não. Como os que sobrevivem, os pedaços formados sinalizam outros mecanismos e mantém a roda da vida girando! Caso haja alguma alteração incoveniente, iniciam-se processos que podem levar a doenças.

Conhecer estes marcadores - estas moléculas alteradas - é, portanto, uma maneira de prever e acompanhar. Assim, dando uma volta rápida em uma história de vida que une muitas pontas podemos entender que conhecer o básico, o que parece para muitos detalhes técnicos, pode em mãos corretas permitir um grande salto e abrir perspectivas relevantes.

Os fenômenos destacados pelo importante prêmio são um trabalho de anos antes e de anos depois, com colaboradores, competidores e muitas pessoas que passam pela literatura, e assim vai-se formando o universo da ciência. Paralelo importante com o modo judaico de atuar.

Conhecer e difundir são duas atividades ligadas ao estudo do judaísmo. Mas isto deve ser seguido pelo dia a dia. Sonhar ciência é maravilhoso, ouvir os sons do judaísmo é reconfortante e estimulante.

Esta semana não podemos nos esquecer que estamos chegando perto de Rosh Hashaná. Mais um pouco entra o mês de Elul e começaremos a ouvir o som do Shofar! A parashá desta semana, Re'eh - VEJA, OBSERVE – Deuteronômio (Dvarim 11:26). 

רְאֵ֗ה אָֽנֹכִ֛י נֹתֵ֥ן לִפְנֵיכֶ֖ם הַיּ֑וֹם בְּרָכָ֖ה וּקְלָלָֽה      

VEJAM - Coloco hoje diante de vocês benção e maldição.

A seguir são citados os Montes de Guezerim e Ébal - um para guardar as bençãos e o outro as maldições. Um verde e o outro desprovido de vegetação. Conhecemos a localização destes montes - veja a foto.


Montes de Guerizim e Ébal e no centro a cidade de Shechem, também chamada de Nablus. Montes citados na Torah - Parashat Re'eh - para guardar o bem e o mal (separadamente). 


Aqui temos a dicotomia colocada em termos da Torah. Há regras específicas para atender uma ou outra. Há lugares específicos que são abençoados e amaldiçoados. E há a separação da alma e do corpo e o respeito pelos dois. É nesta parashá que podemos entender a importância de algumas leis da cashrut. Do ponto de vista teológico e do ponto de vista biológico. No sangue flui a alma, que atravessa todos os órgãos e que não fica restrita à cabeça ou a uma mente de difícil materialização. Mas, o que flui pode conter muitos organismos indesejados e também estragar muito rapidamente. É entre o santo e o prosaico que se santifica a VIDA. 


Regina P. Markus


Sobre Aaron Ciechanover: https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2004/ciechanover/facts/




quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Cinema - Por Bruno Szlak: Uma homenagem a Ronit Elkabetz

 



Ronit Elkabetz: uma homenagem

Por Bruno Szlak


Entre os dias 27 de julho e 2 de agosto ocorreu a II Mostra de Cinema Israelense IBI/SESC. O eixo curatorial da Mostra procurou mostrar filmes dirigidos por mulheres. É notório nos últimos anos a presença de mulheres em todos os estágios da produção de filmes e séries televisivas. Conforme Yael Munk, “Durante muitos anos, as mulheres desempenharam um papel secundário no cinema israelense, com pouca voz própria e limitadas principalmente ao olhar masculino. Mais recentemente, por meio do trabalho de cineastas mulheres, as representações das mulheres passaram da objetificação para uma representação humana complexa, e as personagens femininas foram libertadas das restrições patriarcais. Com o surgimento de cineastas mulheres, que muitas vezes enfatizam narrativas autobiográficas, a representação das mulheres israelenses finalmente atingiu um ponto de crítica autêntica à construção cinematográfica anterior que as marginalizava, e proporcionou novas maneiras de usar o cinema como uma ferramenta de empoderamento.”

Neste sentido, a Mostra também escolheu homenagear a atriz e diretora Ronit Elkabetz, precocemente falecida em 2016. Ronit nasceu em Beersheba em 1964 em uma família judia marroquina religiosa. Sua mãe falava francês e árabe marroquino, mas seu pai insistia em falar apenas hebraico. Ronit era a mais velha de quatro filhos, com três irmãos mais novos. Seu irmão mais novo Shlomi também se tornou diretor, e eles trabalharam juntos na trilogia Gett: The Trial of Viviane Amsalem. Ronit nunca estudou atuação e começou sua carreira como modelo. Ela dividia seu tempo entre suas casas em Paris e Tel Aviv. Durante seus últimos anos, ela foi presidente honorária do movimento feminista Mizrahi "Ahoti - para mulheres em Israel", e foi voluntária nas atividades da organização, como a loja de comércio justo e campanhas de roupas. Em 2015, ela foi selecionada para ser a Presidente do Júri da seção Semana da Crítica Internacional do Festival de Cinema de Cannes de 2015. A escolha da Mostra foi mostrar os filmes da trilogia com VeLakachta Lecha Isha – To take a wife (2004), onde Ronit Elkabetz escolheu interpretar o papel principal neste drama familiar, que foi seguido por Shiv'a – Os Sete Dias (2009) e Gett: The Trial of Viviane Amsalem (2014).

Ao longo desta trilogia, a heroína Viviane Amsalem percebe que é uma vítima da tradição ancestral mizrahi, na qual o divórcio nunca é uma opção. Ambientado no final dos anos 1970 em uma cidade remota de Israel, VeLakachta Lecha Isha conta a crescente decepção de Viviane, uma mãe de três filhos que sente que não realizou seus sonhos e agora está aprisionada em um casamento miserável com um homem sem ambições que encontra conforto apenas entre seus amigos homens na sinagoga local. O amargo sentimento de oportunidades perdidas acompanha a protagonista em sua infeliz vida familiar, e ela decide pedir um "get" (documento de divórcio), que seu marido se recusa a conceder.

A tragédia de Viviane Amsalem continua em Shiv'a, quando toda a família se reúne após a morte do irmão mais velho. O filme se passa durante a Guerra do Golfo, e o marido de Viviane, Eliyahu, ainda se recusa a conceder o divórcio a ela. A semana do shiva (sete dias de luto) revela que toda a família está sendo dilacerada pela lacuna intransponível entre a aderência às tradições judaicas e a adoção de novos costumes da vida israelense secular. Nesse sentido, Shiv'a oferece uma visão mais ampla das mudanças nos papéis de gênero nas famílias mizrahi patriarcais, especialmente em relação à perda da autoridade masculina na família após a imigração e à pressão para abandonar os velhos hábitos.

O terceiro filme da trilogia, Gett: The Trial of Viviane Amsalem, se passa inteiramente no tribunal rabínico. Quinze anos se passaram desde os eventos retratados em VeLakachta Lecha Isha, e Viviane finalmente decide recorrer ao tribunal com a ajuda de um advogado que defenderá sua causa. No entanto, o tribunal rabínico ainda não está pronto para reconhecer o caso de Viviane. Os juízes rabínicos argumentam que o fato de ela não amar seu marido não pode ser considerado um motivo suficiente para o divórcio, especialmente diante da insistência de seu marido em querer salvar o casamento deles. Todo o filme é filmado no espaço confinado do Tribunal Rabínico de Jerusalém, e as várias testemunhas que entram nesta sala lotada proporcionam o drama. Essa estratégia cinematográfica desperta uma sensação de aprisionamento, como se os personagens estivessem cativos pelo sistema rabínico, sem possibilidade de escapar. Após uma série de depoimentos de todos os membros da família, amigos e vizinhos de Viviane, os juízes finalmente renunciam à opção de reconciliação matrimonial (shalom ba'it em hebraico) e decidem a favor de Viviane: Eliyahu deve conceder o divórcio a sua esposa.

A trilogia de Ronit Elkabetz representa um passo adicional na construção filmica das mulheres israelenses: trabalhando contra o instinto voyeurístico do cinema, Ronit Elkabetz passa por uma transformação visual, de uma mulher com maquiagem pesada no primeiro filme para aparecer sem maquiagem no tribunal rabínico, como se permitisse aos espectadores notarem as marcas dos anos que se passaram, os anos que ela passou em suas tentativas de obter o divórcio.

Ronit Elkabetz faleceu pouco depois do lançamento deste filme, deixando um imenso vazio no cinema israelense. No ano passado, seu irmão Shlomi produziu e dirigiu uma série documental em 5 episódios para o canal Kan israelense chamada de Cadernos Negros em homenagem a Ronit. A série, posteriormente transformada em dois filmes, coloca a relação de Ronit e Shlomi com seus pais e o quanto o cinema de ambos, especialmente na trilogia reflete a relação destes pais. Juntando imagens dos próprios filmes (especialmente Gett) com imagens de making off e imagens caseiras (parece que Shlomi anda sua vida toda com uma câmera na mão), a montagem e edição faz estes diferentes meios dialogarem entre si e constroem uma narrativa emocionante e pungente. Parte de Cadernos Negros mostra os últimos meses de Ronit enfrentando a doença e as perdas ao longo do caminho.


terça-feira, 8 de agosto de 2023

VOCÊ SABIA? - Robert Gamzon

 

ROBERT GAMZON (1905 – 1961), o criador do EIF - Escoteiros de Israel

(“Éclaireurs Israélites de France”), escoteiro francês e judeu.

“Seja o que você é, e seja. Faça o que você faz, e faça-o bem.”

Por Itanira Heineberg



Você sabia que, aos 17 anos, Robert Gamzon criou um grupo juvenil nos moldes do escotismo francês para os judeus do país com o objetivo de reforçar a educação judaica e a modernidade?

Anos mais tarde, em plena Segunda Guerra, este grupo uniu-se ao Exército Judeu de resistência - o OJC, Organização Judaica de Combate - dedicando-se a salvar a vida dos judeus perseguidos pelo nazismo.



Gamzon, também conhecido como “Castor Cuidadoso”, uma das principais figuras da Resistência Judaica da França, encantou-se com o programa juvenil de escoteiros em seu país e criou um similar para os jovens judeus de sua época, o EIF, numa tentativa de reconstruir a identidade judaica dos jovens.

Em fevereiro de 1923 realizou-se o primeiro encontro oficial do grupo na Sinagoga de Versailles (foto abaixo) com a presença do Grão Rabino Maurice Liber. No evento os jovens batedores e batedoras fizeram sua primeira promessa na presença dos participantes.


Sinagoga de Versailles, uma das mais antigas sinagogas da Ilha de França, construída entre 1884 e 1886, ano da inauguração.


“A EEIF é um movimento de educação judaica através do escotismo, aberto a todos os jovens judeus, sem distinção.

O objetivo do movimento é contribuir para o desenvolvimento pessoal de seus membros, favorecer o questionamento da identidade e conscientizar as diversas facetas do judaísmo, sua riqueza e sua mensagem. Numa abordagem escotista, educativa e lúdica, a criança faz parte de um projeto onde recebe e transmite por sua vez. Sempre dispostos a desempenhar um papel construtivo na sociedade, os EEIF trabalham pela tolerância e respeito por todos.”

 

Robert Gamzon, engenheiro eletrônico de profissão, destacou-se durante a Segunda Guerra.

Em 1940, como oficial de comunicação do exército francês, participou da destruição da central telefônica de Reims para que não caísse nas mãos dos alemães e foi condecorado com a Cruz de Guerra.

Mas logo precisou se ocultar e passou a agir na clandestinidade protegendo e escondendo os judeus perseguidos e enviados para campos de extermínio, intensificando o resgate e também a luta armada.


Robert Gamzon



1943, Lautrec fabricando o pão ázimo


No verão de 1942, foi criado o Serviço Social Juvenil com muitas atividades proativas como fabricação de papéis falsos, colocação de crianças, passagens de fronteira (principalmente Suíça e Pirineus) para famílias e para os que desejavam chegar a Londres ou à Palestina. O grupo trabalhou em total colaboração com a rede MJS (Movimento Juvenil Sionista), rede OSE, rede Garel e rede Joseph Bass.

Muitas histórias de heroísmo e abnegação durante o Holocausto aconteceram, e muitos frutos do trabalho de Gamzon ajudaram a minimizar os sofrimentos dos injustiçados.

Porém Gamzon não parou por aí, a partir de 1945 trabalhou com afinco no imediato pós-guerra e na reconstrução da comunidade.

Em 1949, após a criação do Estado de Israel, fez sua allyah, imigrando para o novo país onde todos seriam iguais e livres.

Em 1961 faleceu ao nadar no mar numa atividade de lazer.

Seu legado continua até nossos dias: em 2009, a associação tinha mais de 3.500 membros, incluindo 800 líderes voluntários com idade entre 17 e 25 anos. O movimento tem 55 grupos locais em todo o país, que organizam 60 acampamentos de inverno e verão a cada ano na França e no exterior.

O movimento conta com 42 Grupos Locais (GL) em todo o mundo, incluindo Israel, Montreal (Canadá), Londres (Reino Unido) e Luxemburgo. Os outros 38 estão na França continental.

Um Grupo Local também apareceu em Nova York com uma primeira atividade em13 de dezembro de 2013.

E durante a pandemia de Covid 19, contrariando as normas de saúde dos órgãos públicos, os acampamentos EIF aconteceram com naturalidade e sucesso.


Gamzon, um idealista


Lema do movimento: “para o bem, sempre pronto!”

Seu slogan: "Construtores de identidades desde 1923, uma aventura para viver e passar ... ".

 

 

FONTES:

https://www.yadvashem.org/yv/en/exhibitions/museum_photos/gamson.asp

https://harissa.com/D_Souvenirs/uujj.htm  

https://www.cairn.info/revue-revue-d-histoire-de-la-shoah1-1997-3-page-26.htm  

  https://pt.frwiki.wiki/wiki/%C3%89claireuses_et_%C3%A9claireurs_isra%C3%A9lites_de_France

http://www.juifs-en-resistance.memorialdelashoah.org/la-resistance-juive/les-mouvements/les-eclaireurs-isra%C3%A9lites-de-france.htm

 

https://www.youtube.com/watch?v=TIx0V57Akmg  (Vídeo biográfico de Robert Gamzon)