Arábia Saudita está acontecendo
As manchetes se referem a esportes e a acordos políticos. O time Al Hilal saudita está sendo reforçado com técnico e jogadores de calibre "Dream team".
Na esteira da contratação de um bilhão de reais do Cristiano Ronaldo em dezembro último, foram contratados nesta semana Neymar, o técnico português Jorge Jesus que já fez milagres no Flamengo e vários outros do Lazio, do Zenit, do Chelsea e do Sevilha. O total do investimento chegou agora a 3 bilhões de reais em pouquíssimo tempo. E os clubes de futebol sauditas foram estatizados. Mesmo que esta montanha de dinheiro não seja tão significativa no contexto do império do petróleo, está evidente o empenho em ocupar as manchetes globais com notícias positivas desde o fortalecimento da seleção saudita na copa de 2022, a candidatura à sede da Copa da FIFA em 2030 - da qual acabaram desistindo, o pleito de que a Federação saudita tenha vaga na Liga dos Campeões da Europa e agora as bilionárias aquisições.
No cenário político, esta semana, na sequência de um encontro em março deste ano orquestrado pela China, os chanceleres da Arábia Saudita e do Irã, inimigos incontestáveis, sentaram para uma reunião classificada como muito positiva no caminho de superar a hostilidade e alavancar a cooperação tanto política como econômica. Reabriram a embaixada saudita em Teerā. Embora compitam para a operação de campos de extração de petróleo, as ações têm se abrandado de lado a lado. Além disso, eles vêm aproximando a Síria e o Iêmen, que apesar de terem importância e papel totalmente diferentes no tabuleiro árabe, são peças extremamente relevantes no sentido de reduzir a violência na região.
Mais diretamente pertinente a nós, Riad vem se envolvendo em negociações sobre um possível acordo, ainda visto como de longo desdobramento, que inclua seu formal reconhecimento de Israel em troca de garantias de segurança pelos EUA e concessões de Israel no conflito com os palestinos, ainda declarada a mais importante questão no mundo islâmico.
O príncipe saudita Muhammed bin Salman (MBS) desempenhou um papel chave nos Acórdãos de Abraão e "vem mostrando excepcional coragem e tenacidade na modernização do país, religiosa, culturalmente, economicamente e em termos de educação", afirma Yoram Ettinger, importante analista criador do Ettinger Report (Yoram@theettingerreport.com, recomendo). Mas "ele, MBS, atua num ambiente inter-árabe imprevisível e tênue, como evidenciado pelas ameaças internas e externas à Arábia Saudita dentro da própria família real como o puritano Wahhabismo, movimento islâmico sunita fundamentalista e rígido".
MBS tem priorizado interesses sauditas sobre os palestinos mas não declara isso. A caminho de sua visão 2030, ele vê Israel como um aliado vital em termos militares, tecnológicos e diplomáticos. A visão ambiciona alavancar a geografia e a riqueza sauditas, transformando o reino em uma potência financeira, militar e diplomática global. Ele não tem ilusões sobre a natureza vulcânica do Oriente Médio, inclusive da ameaça letal dos Ayatollás iranianos e considera Israel "como o parceiro mais confiável no enfrentamento das ameaças mútuas, sobretudo quanto à erodida postura americana de dissuasão e conciliação."
Já a postura de dissuasão de Israel induziu MBSa buscar laços mais próximos com o Estado judaico.
Na geopolítica atual, preocupa este papel menor que os EUA têm ocupado. E a força do movimento saudita de "acontecer" deve ser percebido e usado. Pergunta Ettinger: "o departamento de Estado americano está ciente de que a frustração saudita com a opção diplomática dos EUA em direção ao Irã tem levado os sauditas a se aproximar da China e da Rússia?"
E é legítimo e crítico nos perguntarmos se Israel, com tantas ameaças internas e externas, pode prescindir de um aliado potente e interessante como a futebolística Arábia Saudita?
Boa semana!
Juliana Rehfeld
Parabéns, Juliana, pelo excelente artigo. Há diversas ações que nos surpreendem e espero que o melhor aconteça!
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