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terça-feira, 29 de agosto de 2023

VOCÊ SABIA? - Judeus do Marrocos

 

JUDEUS DO MARROCOS: Judeus residentes e suas tradições judaicas nas montanhas do Atlas

Por Itanira Heineberg



Você sabia que os primeiros judeus a se estabelecerem no Marrocos lá chegaram em 70 EC - quando se iniciou o exílio, ou diáspora judaica - e que dos 30 mil judeus lá estabelecidos até 1948, restam agora algo em torno de 3 mil?

 

Não se sabe desde quando os judeus habitaram o Marrocos, mas Marrakech, fundada em 1062, ficou conhecida como “a cidade da inteligência e dos debates talmúdicos”.

A cidade de Marrakech, capital do sul do Marrocos em tempos antigos, foi criada pelo sultão da Almorávida (império islâmico fundado por uma dinastia berbere do norte da África), Youssef Ibn Tachfine, que permitiu a instalação dos judeus em seus territórios.

A partir de então a presença judaica permaneceu no país, vivendo ao lado de vários regimes cristãos e muçulmanos, às vezes perseguidos e às vezes tolerados.

O legado judaico no país é imenso e várias empresas de turismo têm se especializado em organizar excursões que mostram a riqueza da história deste povo em terras marroquinas. Tenho conversado com turistas voltando do país, tenho lido relatos de visitantes e estudado  programas de viagem que levam as pessoas aos lugares mais significativos e antigos, com suas antigas construções e memórias de uma vida intensa e nem sempre pacífica, e decidi que para o próximo ano irei pessoalmente conhecer estes edifícios e ali aprender sobre os passos do povo judeu no país.

Apresentaremos a seguir algumas preciosidades do passado:


Pátio da sinagoga Salat Al-Azamat, a mais antiga de Marrakech  

(Foto: Thais Kuperman Lancman)


Os judeus expulsos da Espanha em 1492 pelos reis católicos Fernando e Isabel construíram uma linda sinagoga (foto acima) na cidade de Marrakech sob a liderança do rabino Yitzhak Daloya, conhecida como a Sinagoga dos Deportados.


Interior da sinagoga Salat Al-Azamat     


Marrakesh, um lugar cheio de exotismo, aos pés da cordilheira do Atlas e no meio de um enorme oásis é chamada de "Cidade Vermelha", um verdadeiro tesouro declarado patrimônio mundial, assim denominado devido à cor de suas muralhas. Ali encontramos as ruelas caóticas do seu enorme mercado, o shuk, com surpresas escondidas, a medina ou parte antiga da cidade, e muito charme a desvendar. Também de grande importância histórica é uma caminhada pelas ruas da melah, bairro murado onde moravam os judeus.



Os mercados no Marrocos são uma mostra completa da vida de seus habitantes, oferecendo o que há de melhor em temperos, frutas, artesanato, sapatos, túnicas, e sempre uma conversa gostosa com os comerciantes que apreciam uma boa negociação.

E as tâmaras? Ah, as famosas e deliciosas tâmaras?

O que dizer destas iguarias, um verdadeiro patrimônio do país!


Sinagoga Salat Al-Azamat    


Passemos agora à Casablanca, a capital econômica do Marrocos, a maior cidade do país, com a mesquita Hassan II, construída entre 1986 e 1933 e seu panorâmico teto retrátil que encanta a todos, turistas e muçulmanos em oração.

Nesta cidade encontra-se o único Museu Judaico existente em um país árabe, o Museum of Moroccan Judaism, criado em 1997 com um acervo incrível, expondo a todos a história do Povo Judeu com suas tradições, costumes, vivências e o famoso PIYYUT - canções dos judeus marroquinos em seus serviços religiosos, como exemplo temos “The Song of Friendship”. 


Museu Judaico - Casablanca


Fez, a segunda maior cidade do Marrocos, fundada no século IX, apresenta-se aos turistas como um labirinto devido à sua urbanização caótica: em tempos muito antigos, as casas foram construídas sem planejamento e depois surgiram as ruas nos espaços restantes,  assim, andar por suas ruas é como voltar à Idade Média! Nem Waze nem Google Maps ajudam os visitantes.

 

Cemitério Judaico de Fez, e as casas que simplesmente o ignoram, um símbolo de harmonia cultural.




Chegamos finalmente à Rabat, a capital do Marrocos, cidade moderna, arborizada e limpa; o contrário de Casablanca.

Ali encontra-se a Sinagoga Talmud Torá, perto da melah (antigo bairro dos judeus).

Infelizmente não obtive fotos desta sinagoga, mas sabe-se que no passado foi o Instituto Marroquino de Estudos Hebraicos, para jovens que almejavam ser rabinos vindos de cidades marroquinas e da zona espanhola.

 

Ainda há Judeus no Marrocos!



“Hoje, a maioria dos judeus do país, cerca de 3.000, está concentrada em Casablanca, uma movimentada metrópole de 3,4 milhões. Apesar de seu tamanho reduzido, a comunidade judaica marroquina permanece totalmente funcional, ativa e vibrante. Com a introdução de laços diplomáticos com Israel, o futuro dos judeus marroquinos parece mais brilhante do que em décadas.”

 

Esta é uma notícia alvissareira.

Falar do Marrocos e de seu legado judaico de muitas gerações deixa-me muito empolgada e ao mesmo tempo preocupada: o artigo está ficando longo e há ainda tanto a ser dito, como por exemplo, ir a Fez visitar a casa onde Maimônides, o Rambam, um dos maiores sábios do Judaísmo refugiou-se, após sair da Espanha em 1492. Hoje ali há o pequeno Museu Maimônides, uma loja–museu que oferece artigos de arte judaica e astrolábios.

Concluindo nosso passeio por terras antigas, recomendo a leitura do livro abaixo, de Abraham Pinto, vindo muito jovem de Tanger, Marrocos, onde conta suas aventuras junto ao irmão mais velho, Moisés, na selva amazônica, no final do século XIX.

Eles fazem parte do imenso grupo de judeus marroquinos que vieram para o Brasil durante o ciclo da borracha e aqui plantaram eternas tradições judaicas por onde viveram e se estabeleceram.

O texto está muito bem escrito, os relatos são muito interessantes e surpreendentes para dois jovens sem experiência de navegação, floresta, índios, comércio e negócios.

Junto com a vontade de viver e melhorar a situação financeira da família em Tanger, trouxeram com eles seus livros de Yom Kipur com os quais observavam 3 dias de jejum e rezas durante o feriado, atracando suas canoas à beira de rios tais como o Javari ou o Juruá, celebrando as Grandes Festas como o faziam em sua infância no Marrocos.

 


Coleta do látex das seringueiras no Amazonas.


FONTES:

https://medium.com/pasmas/a-mesquita-dos-judeus-70c0c16da9fa

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/5524037/jewish/19-Fatos-Sobre-Judeus-Marroquinos.htm

https://en.wikipedia.org/wiki/Amazonian_Jews

http://judios-marroquies-en-amazonia.com/TextoPintoEspanol.pdf

https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/la-medina-de-marraqueix-30-oct-2018-30271907

https://issuu.com/revistamorasha/docs/revista_morash_116_-_site/s/16801325


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