O
Nome: Moisés
Moisés era O Nome! É!
Era no tempo das calças curtas, quando
as lembranças ganham o manto amarelado da névoa de ouro. Eu mal tinha saído da
casca do ovo... Acho que fraldas ainda me acompanhavam.
Trapacinha era o nome da escolinha
pré-primária. Tudo tão gostoso. Lembro bem da hora da merenda, com musiquinhas,
filas e bisnaguinhas... O símbolo da escola era um mico fazendo traquinagens e segurando
um diplomazinho. Será que ele usava chapeuzinho de doutor?
Às vezes o esquecimento esconde
tesouros da gente que acabam se perdendo nos ventos do tempo. Depois, topamos
com ele de repente, do nada mesmo, e a gente percebe que aquele ouro imaginário
não era nem tão reluzente... Devia ser só latão...
O valioso é lembrado. Sempre.
Mas... E o mico do Trapacinha? Usava
quepe de formatura? Melhor preservar minhas memórias: esse chapéu era tipo um
gato de Schrödinger – existia e não existia!
É por isso que gosto das lembranças. Elas
são os mosaicos da alma, e sempre que falta uma pedrinha, a gente completa na
base do instinto, sem perceber, sem maldade... Na raça! No fim todos nós somos
os poetas de passado.
Escrevemos a Beleza a partir dos
fragmentos lembrados... E essa poesia vira a nossa realidade! Tão genuína quanto
individual.
E quem abria as portas “praquele” mar
de crianças entrar? Tio Moisés. Sempre usando um cabo de vassoura para
destravar os ferrolhos de cima... E conhecia todos pelo nome! Como pode?
Perguntava da nossa mãe, do nosso pai,
da “avozada”, dos irmãos... Nome por nome, tintim por tintim. Naquele tempo,
aula era só pintar o sete. Com molejo dá até pra ouvir as brincadeiras de
criança... Como é bom! Como é bom!
Tio Moisés ensinava a lavar as mãos,
agradecer ao Papai do Céu, ficar de bem com os amiguinhos. E no meio de tanta
zoeira saborosa, ia saindo a arte da vida. Criançada apronta! Vai ter energia
assim na casa do chapéu! Mas a nossa arte ia sendo guiada por ele. Como viver?
Acho que foi ele que ensinou...
Sexta-feira. Ia ele com aquele cabo de
vassoura, parecendo um cajado velho. O portão era o obstáculo que impedia nossa
passagem. E ele levantava o cabo e destravava as trancas de cima.
Ainda murmurava umas coisas que ninguém
nunca ouviu... Acho que essas palavras se perderam...
E, finalmente, abria as comportas. A
criançada, “liberta”, corria para o colo das mães. Toda vez uns riam, uns
cantavam e outros choravam! Parecia que tinha gente com medo do novo, do ar, do
vento...
E a gente ia saindo. Aos poucos. Mas
antes da gente sair e cair na vida, ele sempre falava:
“Pessoal, ninguém se esqueça de
descansar amanhã!”
André Naves
Defensor Público
Federal com mais de 15 anos de atuação Previdenciária. Membro do Fórum
Interinstitucional Previdenciário do TRF3. Diretor Adjunto dos Direitos da
Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário.
Membro do Fórum Paulista para a Acessibilidade e a Inclusão da Pessoa com
Deficiência. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia
Política. Escritor. Professor. Comendador Cultural. Ganhador do Prêmio Best
Seller, pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora
UICLAP. Colunista do “Esh tá na Mídia”, além de diversas outras mídias de
comunicação. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG.
Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.
www.andrenaves.com
Instagram:
@andrenaves.def
Linda crônica. Mais, please!
ResponderExcluirMuito legal, lindo
ResponderExcluirTexto que remexeu as minhas lembranças do "Ipê Amarelo" :)))
ResponderExcluirMuito obrigado, Pessoal!
ResponderExcluirVocês não têm ideia do tamanho da minha honra em escrever para o "Esh tá na Mídia" e felicidade em receber esses tão gostosos comentários.
ResponderExcluirAndre vc sempre surpreendendo com a tua criatividade com ricos conteúdos
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