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quinta-feira, 6 de junho de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: O nome

 

O Nome: Moisés




         Moisés era O Nome! É!

         Era no tempo das calças curtas, quando as lembranças ganham o manto amarelado da névoa de ouro. Eu mal tinha saído da casca do ovo... Acho que fraldas ainda me acompanhavam.

         Trapacinha era o nome da escolinha pré-primária. Tudo tão gostoso. Lembro bem da hora da merenda, com musiquinhas, filas e bisnaguinhas... O símbolo da escola era um mico fazendo traquinagens e segurando um diplomazinho. Será que ele usava chapeuzinho de doutor?

         Às vezes o esquecimento esconde tesouros da gente que acabam se perdendo nos ventos do tempo. Depois, topamos com ele de repente, do nada mesmo, e a gente percebe que aquele ouro imaginário não era nem tão reluzente... Devia ser só latão...

         O valioso é lembrado. Sempre.

         Mas... E o mico do Trapacinha? Usava quepe de formatura? Melhor preservar minhas memórias: esse chapéu era tipo um gato de Schrödinger – existia e não existia!

         É por isso que gosto das lembranças. Elas são os mosaicos da alma, e sempre que falta uma pedrinha, a gente completa na base do instinto, sem perceber, sem maldade... Na raça! No fim todos nós somos os poetas de passado.

         Escrevemos a Beleza a partir dos fragmentos lembrados... E essa poesia vira a nossa realidade! Tão genuína quanto individual.

         E quem abria as portas “praquele” mar de crianças entrar? Tio Moisés. Sempre usando um cabo de vassoura para destravar os ferrolhos de cima... E conhecia todos pelo nome! Como pode?

         Perguntava da nossa mãe, do nosso pai, da “avozada”, dos irmãos... Nome por nome, tintim por tintim. Naquele tempo, aula era só pintar o sete. Com molejo dá até pra ouvir as brincadeiras de criança... Como é bom! Como é bom!

         Tio Moisés ensinava a lavar as mãos, agradecer ao Papai do Céu, ficar de bem com os amiguinhos. E no meio de tanta zoeira saborosa, ia saindo a arte da vida. Criançada apronta! Vai ter energia assim na casa do chapéu! Mas a nossa arte ia sendo guiada por ele. Como viver? Acho que foi ele que ensinou...

         Sexta-feira. Ia ele com aquele cabo de vassoura, parecendo um cajado velho. O portão era o obstáculo que impedia nossa passagem. E ele levantava o cabo e destravava as trancas de cima.

         Ainda murmurava umas coisas que ninguém nunca ouviu... Acho que essas palavras se perderam...

         E, finalmente, abria as comportas. A criançada, “liberta”, corria para o colo das mães. Toda vez uns riam, uns cantavam e outros choravam! Parecia que tinha gente com medo do novo, do ar, do vento...

         E a gente ia saindo. Aos poucos. Mas antes da gente sair e cair na vida, ele sempre falava:

         “Pessoal, ninguém se esqueça de descansar amanhã!”

 

André Naves

Defensor Público Federal com mais de 15 anos de atuação Previdenciária. Membro do Fórum Interinstitucional Previdenciário do TRF3. Diretor Adjunto dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário. Membro do Fórum Paulista para a Acessibilidade e a Inclusão da Pessoa com Deficiência. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Professor. Comendador Cultural. Ganhador do Prêmio Best Seller, pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP. Colunista do “Esh tá na Mídia”, além de diversas outras mídias de comunicação. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def


6 comentários:

  1. Linda crônica. Mais, please!

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  2. Texto que remexeu as minhas lembranças do "Ipê Amarelo" :)))

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  3. Muito obrigado, Pessoal!

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  4. Vocês não têm ideia do tamanho da minha honra em escrever para o "Esh tá na Mídia" e felicidade em receber esses tão gostosos comentários.

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  5. Andre vc sempre surpreendendo com a tua criatividade com ricos conteúdos

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