Deserto sem Respostas
Chega a ser engraçado se não fosse
trágico... As minhas ideias que floresciam como lírios do campo ressecaram em
um profundo e silencioso deserto: um deserto sem respostas... Acho que a vida é
assim mesmo... Atravessamos a aridez inóspita em busca de respostas que de tão
evidentes acabam se tornando invisíveis...
O Otto Lara Resende contava uma
história bem interessante de um senhor que morava há mais de 32 anos num mesmo
apartamento. Lugar bonito, na frente do mar de Copacabana. Sempre fiquei
imaginando a biblioteca desse homem. Será que tinha tapetes? O que ele gostava
de ler? Ele fazia as cruzadinhas? Lia o obituário?
Vamos voltar para o leito do
enredo... Aquele senhor morava lá há mais de 32 anos. 32... Passava pelo
porteiro todo santo dia. Cumprimentava. Até caçoava do futebol... Mas nunca
parou para ver mesmo. Acho que nem o nome sabia. De tanto ver, ele não via. Que
coisa, né?
Um dia entrou no elevador. 32 anos,
veja bem. Não estou falando de 32 horas... Tinha um cartaz pregado lá. Foto do
porteiro bem grande. Morreu. Foi nesse instante que nosso protagonista
descobriu seu nome, seu rosto... Descobriu que ele tinha família. Foi a
primeira vez que aquele senhor enxergou o porteiro.
Na morte, enxergou. Puxa vida!
A história termina aí. Mas a gente
entende quando vai desertificando tudo. De tanto ver, não vê... Sabe o caminho
que a gente passa todo dia? Deserto. Sabe o que a gente só ouve? Grande
silêncio que ecoa a falta de respostas...
Hoje eu tô meio que escrevendo só
umas ideias sem nexo. Talvez seja pela minha gripe. Gripe passa. Não é
desculpa... Pra quem já voltou do coma, o que é um estadozinho gripal? Quem
sabe seja o cansaço? Escrever é meu prazer e a fadiga passa lá longe, onde o
vento assobia e faz curva.
Deve ser pela tensão do momento. De
ver tanta gente hipnotizada, repetindo a ilusão desértica de um silêncio sem
respostas nem ideias. Parece até uma zumbilândia... De tão óbvias, as respostas
nunca são ditas. Pior, mentiras ganham a ribalta! Prefiro o silêncio
ensurdecedor que a sedução de um canto das sereias que leva à ruína e à morte!
MENTIRAS!
Mas no deserto em que se tornou
minha mente, parece até que estou vendo alguma coisa brotar. Um pingo de
esperança no meio daquela secura da morte. Aquela que nunca resseca, nunca
morre, a última no deserto.
ESPERANÇA!
UMA ROSA VERMELHA!
P.S.:
Amigos do Esh tá na Mídia, eu queria muito indicar um livro para vocês.
“Submissão”, do Michel Houellebecq. Eu li há uns dez anos, logo que foi
lançado, e o reli esses dias. É impressionante como dá a triste impressão de
que as nuvens cinzas previstas nele estão se tornando realidade agora... É a
ficção antecipando a realidade... Infelizmente, arrepiante.
André
Naves
que linda e inspiradora tua entrega de hoje!
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado, Marcela!
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