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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

VOCÊ SABIA? - Amato Lusitano

Você sabia que Amato Lusitano, um médico judeu português do século XVI, realizou uma ousada e inovadora façanha para sua época dissecando 12 cadáveres humanos e animais na presença de professores e de Giambattista Canano, chefe da cátedra, na Universidade de Ferrara, Itália?

“A Lição de Anatomia do Dr. Tulp” (1632, Haia, Mauritshuis)

Amato Lusitano, cujo verdadeiro nome era João Rodrigues de Castelo Branco, nasceu em 1511 descendente da família de marranos Chabib (Amatus = Beloved em latim) e foi educado na fé de seus ancestrais.

Formou-se com distinção como M.D. na Universidade de Salamanca em 1532, mas com receio da Inquisição galopante em Portugal e movido por sua curiosidade científica viajou para Bélgica, Holanda e França - e com sua bagagem médica enriquecida após tantas experiências, instalou-se na Itália onde trabalhou como médico assistente de Giambattista Canano ensinando anatomia humana.

Estudou latim e procurou entender línguas como castelhano, grego, hebraico, árabe, francês, italiano, inglês, alemão e assim interpretou obras de Avicena, Rasis, apontamentos de Galeno, entre outros textos médicos.

Amato ficou conhecido por manipular medicamentos químicos, escreveu dois compêndios sobre este assunto e um manuscrito de receitas químicas.
Também redigiu sobre a púrpura e as plantas medicinais das ilhas de São Tomé e da Madeira.
Ao longo de seu trabalho de médico produziu uma coleção sobre medicina conhecida como Centúrias, num total de 7 livros.

Sua fama levou-o a tratar da sobrinha do papa Julius III em Veneza.

Voltando ao assunto inicial desta coluna - o estudo de cadáveres, esta é uma prática muito antiga, datando já do século V A.C. no sul da Itália. Alcméon de Crotona iniciou a dissecação de animais para, por extensão, estudar o interior do ser humano.
Os primeiros registros de dissecação em seres humanos datam do século II AC, em Alexandria.

Também neste século, Galeno, médico das arenas de gladiadores em
Roma, estudou os animais para, por associação, descobrir o funcionamento dos órgãos do corpo humano.
Por três séculos a escola de Galeno perdurou por toda a Europa.
Com a queda do Império Romano e a ascensão da Igreja Cristã aquelas atividades foram reprimidas, proibidas e consideradas hediondas.
Após uma estagnação de 700 anos, em Salerno foi fundada a primeira Universidade de Medicina, que presenteou o mundo com os antigos estudos e descobertas de Galeno.
Muitos se interessaram pelo assunto e se dedicaram às pesquisas com gosto e entusiasmo, porém havia um problema: os cadáveres duravam, em média, 48 horas.
Um dos grandes entusiastas pelo assunto foi Leonardo da Vinci que produziu trabalhos sobre a arte de dissecar cadáveres humanos.

Segundo alguns biógrafos, foi em 1551 que João Rodrigues de Castelo Branco, ou Amato Lusitano, na presença do catedrático Canano e com sua ajuda, efetuou a famosa dissecação de 12 cadáveres perante uma platéia de médicos, encontrando na abertura da veia ázigo, na veia cava, válvulas que impediam o regresso do sangue.

“Desenvolveu o seguinte procedimento clínico: cortou a veia cava na parte superior e soprou para a inferior usando uma cânula. Notou que toda esta parte se entumecia, assim como a ázigo, não sucedendo o mesmo quando esta última era cortada e se soprava antes por ela. Durante algum tempo esta descoberta foi atribuída a Canano, provavelmente devido a uma interpretação errada do texto latino de Amato, onde se lê que Canano, ‘o anatómico distinto, achando-se presente na assembleia de sábios, viu também as válvulas’. Mais tarde e, por alguns autores ainda hoje, ela é atribuída ao italiano Fabrício d’Acquapendente (1537-1619), uma vez que vários médicos famosos não confirmaram, nas suas observações, a existência, reclamada por Amato e Canano, dessas válvulas.”

Se observarmos as datas, e se elas forem precisas, é pouco provável que Acquapendente, nascido em 1537, estivesse presente na aula de anatomia de Amato e Canano.


Hospital Amato Lusitano, Castelo Branco, Portugal


“Estátua de João Rodrigues, Amato Lusitano, no centro de Castelo Branco, no jardim baptizado com o seu nome. Algumas das plantas referidas nas suas  terapêuticas foram plantadas nesse jardim.”



Com a Inquisição no seu encalço, Amato viveu e exerceu sua profissão em Pesaro, em Ragusa, hoje Dubrovnik, e finalmente em Tessalônica, hoje Salônica, onde finalmente sentiu-se a salvo em terras do sultão da Turquia.

Além de sua paixão pela anatomia humana e pelas plantas terapêuticas, Amato foi sempre um médico dedicado aos seus pacientes, ouvindo-os com paciência, e acreditava que cada ser era diferente, que os males que os afligiam tinham origens e causas variadas e como exemplo, certa vez estudou as doenças dos trabalhadores de seda ao atender a Família Vizinho.

Em Salônica veio a falecer aos 57 anos de idade, vítima de uma peste avassaladora que ele, com seus conhecimentos, sua dedicação a cada paciente e sua companheira de vida, a fé científica, combatia arduamente.


FONTES

en.m.wikipedia.org




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