Você sabia que Amato Lusitano, um médico judeu português do século XVI,
realizou uma ousada e inovadora façanha para sua época dissecando 12 cadáveres humanos
e animais na presença de professores e de Giambattista Canano, chefe da cátedra,
na Universidade de Ferrara, Itália?
“A Lição de Anatomia do Dr. Tulp” (1632, Haia, Mauritshuis) |
Amato Lusitano, cujo verdadeiro nome era João Rodrigues de
Castelo Branco, nasceu em 1511 descendente da família de marranos Chabib (Amatus
= Beloved em latim) e foi educado na fé de seus ancestrais.
Formou-se com distinção como M.D. na Universidade de Salamanca em 1532,
mas com receio da Inquisição galopante em Portugal e movido por sua curiosidade
científica viajou para Bélgica, Holanda e França - e com sua bagagem médica
enriquecida após tantas experiências, instalou-se na Itália onde trabalhou como
médico assistente de Giambattista Canano ensinando anatomia humana.
Estudou latim e procurou entender línguas como castelhano, grego,
hebraico, árabe, francês, italiano, inglês, alemão e assim interpretou obras de
Avicena, Rasis, apontamentos de Galeno, entre outros textos médicos.
Amato ficou conhecido por manipular medicamentos químicos, escreveu dois
compêndios sobre este assunto e um manuscrito de receitas químicas.
Também redigiu sobre a púrpura e as plantas medicinais das ilhas de São
Tomé e da Madeira.
Ao longo de seu
trabalho de médico produziu uma coleção sobre medicina conhecida como
Centúrias, num total de 7 livros.
Sua fama levou-o a tratar da sobrinha do papa Julius III em Veneza.
Voltando ao assunto inicial desta coluna - o estudo de cadáveres, esta é
uma prática muito antiga, datando já do século V A.C. no sul da Itália. Alcméon
de Crotona iniciou a dissecação de animais para, por extensão, estudar o
interior do ser humano.
Os primeiros registros de dissecação em seres humanos datam do século II
AC, em Alexandria.
Também neste século, Galeno, médico das arenas de gladiadores em
Roma, estudou os animais para, por associação, descobrir o funcionamento
dos órgãos do corpo humano.
Por três séculos a escola de Galeno perdurou por toda a Europa.
Com a queda do Império Romano e a ascensão da Igreja Cristã aquelas
atividades foram reprimidas, proibidas e consideradas hediondas.
Após uma estagnação de 700 anos, em Salerno foi fundada a primeira
Universidade de Medicina, que presenteou o mundo com os antigos estudos e
descobertas de Galeno.
Muitos se interessaram pelo assunto e se dedicaram às pesquisas com
gosto e entusiasmo, porém havia um problema: os cadáveres duravam, em média, 48
horas.
Um dos grandes entusiastas pelo assunto foi Leonardo da Vinci que
produziu trabalhos sobre a arte de dissecar cadáveres humanos.
Segundo alguns biógrafos, foi em 1551 que João Rodrigues de
Castelo Branco, ou Amato Lusitano, na presença do catedrático Canano e com sua
ajuda, efetuou a famosa dissecação de 12 cadáveres perante uma platéia de
médicos, encontrando na abertura da veia ázigo, na veia cava, válvulas que
impediam o regresso do sangue.
“Desenvolveu o seguinte procedimento clínico: cortou a veia cava na
parte superior e soprou para a inferior usando uma cânula. Notou que toda esta
parte se entumecia, assim como a ázigo, não sucedendo o mesmo quando esta
última era cortada e se soprava antes por ela. Durante algum tempo esta
descoberta foi atribuída a Canano, provavelmente devido a uma interpretação
errada do texto latino de Amato, onde se lê que Canano, ‘o anatómico distinto,
achando-se presente na assembleia de sábios, viu também as válvulas’. Mais
tarde e, por alguns autores ainda hoje, ela é atribuída ao italiano Fabrício
d’Acquapendente (1537-1619), uma vez que vários médicos famosos não
confirmaram, nas suas observações, a existência, reclamada por Amato e Canano,
dessas válvulas.”
Se observarmos as datas, e se elas forem precisas, é pouco provável que
Acquapendente, nascido em 1537, estivesse presente na aula de anatomia de Amato
e Canano.
Hospital Amato Lusitano, Castelo Branco, Portugal
|
“Estátua de
|
Com a Inquisição no seu encalço, Amato viveu e exerceu sua profissão em
Pesaro, em Ragusa, hoje Dubrovnik, e finalmente em Tessalônica, hoje Salônica,
onde finalmente sentiu-se a salvo em terras do sultão da Turquia.
Além de sua paixão pela anatomia humana e pelas plantas terapêuticas,
Amato foi sempre um médico dedicado aos seus pacientes, ouvindo-os com paciência,
e acreditava que cada ser era diferente, que os males que os afligiam tinham
origens e causas variadas e como exemplo, certa vez estudou as doenças dos
trabalhadores de seda ao atender a Família Vizinho.
Em Salônica veio a falecer aos 57 anos de idade, vítima de uma peste avassaladora
que ele, com seus conhecimentos, sua dedicação a cada paciente e sua
companheira de vida, a fé científica, combatia arduamente.
FONTES
en.m.wikipedia.org
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