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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

VOCÊ SABIA? - Padre Antônio Vieira


Você sabia que foi inaugurada uma bela e bem merecida estátua do Padre Antônio Vieira no Largo Trindade Coelho, junto à igreja de São Roque em Lisboa, em homenagem ao grande orador da igreja católica, defensor dos fracos e oprimidos, defensor dos índios e escravos, o único defensor dos judeus durante a Inquisição no Brasil Colônia?


Estátua do Padre Antônio Vieira, junto à igreja de São Roque, Lisboa


De acordo com Anita Novinski, Padre Antônio Vieira, “o imperador da língua portuguesa” nas palavras de Fernando Pessoa, foi o único protetor e defensor dos judeus durante os terrores do Tribunal do Santo Ofício que durante três séculos ameaçou e perseguiu com atrocidade os judeus conversos ao catolicismo que viviam no Brasil.
Em seu livro, “Os Judeus que Construíram o Brasil”, ela relata os horrores pelos quais passaram os cristãos-novos que abandonaram a Europa em busca de um lugar mais seguro para tentar nova e mais tranquila vida. 

País algum parou para verificar o sofrimento destes judeus conversos, nenhuma voz, nenhum homem de bem ou de religião ou filósofo: ninguém, dentre tantos, se compadeceu, ou a eles se juntou para clamar contra tanta iniquidade. Os intelectuais da Renascença apoiaram os Reis Católicos quando da expulsão dos judeus da Espanha.

“A única voz que se ouviu em defesa dos judeus, igualando-os aos mais nobres e santos e louvando seu caráter, honestidade e nobreza de alma, foi um homem da Igreja, um jesuíta: o Padre Antônio Vieira, que, indignado com os horrores que eram infligidos aos cristãos-novos, dirigiu-se especialmente ao Papa, aos mais influentes homens do poder, ao rei. Mas de nada adiantou."
(A.Novinski, Capítulo 3 – Quem defendeu os judeus? Pg. 245)

               
Esta foi, pois, a primeira estátua erigida em Lisboa ao orador e filósofo cristão do século XVII, que durante dois anos foi escrivão da inquisição, contra ela rebelou-se, contestou, por ela foi acusado de heresia, encarcerado e posteriormente por ela foi absolvido.

Durante a cerimônia da inauguração da estátua, Pedro Santana Lopes falou em “homenagem justa” e, na minha opinião, um tanto tardia, mas que combina bem com as ideias do grande orador: “Para falar ao vento, bastam palavras, mas para falar ao coração são precisas obras."




Antonio Vieira nasceu em Portugal em 1608 e viajou para o Brasil acompanhando seus pais, aos 6 anos de idade. Sempre gostou de estudar, e aos 17 anos já era fluente em latim. Estudou matemática, lógica, metafísica e foi professor de retórica.

Estudou no Colégio dos Jesuítas em Salvador e aos 15 anos descobriu sua vocação religiosa, entrando assim para a Companhia de Jesus.
Em sua trajetória de religioso e de homem das letras, Vieira escreveu inúmeras cartas e mais de 200 sermões, todos famosos pelo vigor de sua eloquência, visão da história, clareza de idéias e talento de oratória.


“Antônio Vieira (1608-1697)

Lutou contra a escravidão dos índios, numa época em que era normal ter escravos.
Defendeu a liberdade religiosa, num tempo em que os suspeitos de heresia eram condenados pela inquisição.
Entrou para a Companhia de Jesus e ainda noviço foi indicado para redigir a carta com os relatos das atividades dos jesuítas, enviada anualmente a seus superiores em Lisboa.
Antônio Vieira  nasceu em Lisboa, na Rua do Cônego, próximo a Sé, no dia 6 de fevereiro de 1608. Filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Seu pai era escrivão da inquisição e foi nomeado para o cargo de escrivão em Salvador e só em 1614 sua família veio para o Brasil.
Antônio Vieira, de noviço passou a estudante de teologia. 
Em 1633 começou suas pregações, visitando as aldeias indígenas, próximas da cidade.
No ano seguinte se ordena sacerdote e em 1638, passou a dar aulas de teologia.
Como pregador em cima de um púlpito, sua fama se espalhou. Defende a colônia, se rebela contra a escravidão e clama pela expulsão dos holandeses em Pernambuco.
Em 1640, em Portugal, D João IV sobe ao trono, restaurando a monarquia, depois de sessenta anos de subordinação ao trono espanhol. Em fevereiro de 1641, Antônio Vieira parte para Lisboa. Em 1642 seus sermões já haviam conquistado o rei e a rainha D. Luísa.
Torna-se o guardião da Coroa.
Em seus sermões, procura apoio para o rei diante de uma reunião com os representantes do povo, a nobreza e o clero, onde se votariam os tributos para a continuação da guerra com a Espanha.
Inicia-se em Portugal nessa época uma disputa entre jesuítas e dominicanos. Os jesuítas propagavam a fé através da catequese, enquanto os dominicanos se propunham a defendê-la organizando os tribunais da Inquisição.
Antônio Vieira propõe anistia aos judeus e a volta deles para Portugal, uma vez que a maioria era comerciante e seria de grande valor para o reino. Sugere a criação de companhias mercantis, uma Oriental e outra Ocidental.
Antônio Vieira foi nomeado embaixador para negociar a paz com a Holanda, que recusava todas as propostas para retirar-se de Pernambuco.
Viaja para Paris e em seguida para Holanda.
De volta ao Brasil, segue para o Maranhão com o objetivo de libertar os índios injustamente cativos. Em 1661 foi expulso do Maranhão, pelos senhores de escravos que não aceitavam suas ideias.
Voltou para Lisboa onde foi preso pela inquisição, que o acusou de heresia. Anistiado em 1669, viajou para Roma, quando foi absolvido pelo Papa em 1675.
Padre Antônio Vieira abandonou definitivamente a Corte e voltou para Bahia, onde entre os anos de 1681 e 1694 dedicou-se a ordenar seus sermões para transformá-los em livros. Doente e quase cego, fez suas últimas pregações. Antônio Vieira deixou mais de 200 sermões e 700 cartas.
Padre Antônio Vieira morreu em Salvador, Bahia, no dia 17 de junho de 1697.”




Obras de Antônio Vieira

Sermão da Sexagenária
Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Sermão do Mandato
Sermão de São Pedro
Sermão de São Roque
Sermão de Santa Teresa
Sermão de Todos os Santos
Sermão do Espírito Santo
Sermão de Nossa Senhora do Rosário
Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra a Holanda
Cartas
Arte de Furtar
Quinto Império
História do Futuro
Esperanças de Portugal
Veja também


“A qualidade lógica e a força dos princípios que as nove frases abaixo apresentam dão uma pequena ideia do poder que Padre Antonio Vieira deve ter exercido em sua época, influenciando políticos e até o Papa. Além disso, foi grande defensor de índios e judeus, e também se envolveu com escritos proféticos, no inconcluso Clavis prophetarum, que viria a ser publicado em parte no livro “História do Futuro” (1718).”

CITAÇÕES E PENSAMENTOS DE PADRE ANTONIO VIEIRA [TRECHOS]
“Pelo que fizeram se hão de condenar muitos. Pelo que não fizeram, todos”. (Sermões, “Julgamento”)
“De um erro nascem muitos, e sobre fundamento tão errado nunca houve edifício certo”. (Documentos, “Erro”)
“Tudo aquilo que se faz para os olhos dos homens, ainda que se faça, não se faz”. (Sermões, “Exibicionismo”).
“Mal é dizer mal, mas depois de o haverdes dito, dizerdes ainda que dizeis bem, é um mal maior sobre outro mal, porque é estar obstinado nele.” (Sermões, “Mal”)
“A razão por que não achamos o descanso é porque procuramos onde ele não está” (Sermões, “Descanso”).
“Bons exteriores com mau interior são hipocrisias”. (Sermões, “Hipocrisia”)
“Humildade essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria”. (Sermões, “Homem”).
“O avarento chama pródigo ao liberal; o covarde temerário ao valente; o distraído hipócrita ao modesto; e cada um condena o que não tem, por não confessar o que lhe falta.” (História do Futuro, “Julgamento”).
“A maior parte do que sabemos, é a menor do que ignoramos.” (“As Sete Propriedades da Alma”)
Com o compartilhamento de Dauro Veras.

Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os Canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
Anita Novinsky – Os Judeus que Construíram o Brasil – Fontes inéditas para uma nova visão da história - 2015
Revista barroco 20 by Sergio Luz-issuu

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