Você sabia
que foi inaugurada uma bela e bem merecida estátua do Padre Antônio Vieira no
Largo Trindade Coelho, junto à igreja de São Roque em Lisboa, em homenagem ao
grande orador da igreja católica, defensor dos fracos e oprimidos, defensor dos
índios e escravos, o único defensor dos
judeus durante a Inquisição no Brasil Colônia?
Estátua do Padre Antônio Vieira, junto à igreja de São Roque, Lisboa |
De acordo com
Anita Novinski, Padre Antônio Vieira, “o imperador da língua portuguesa” nas
palavras de Fernando Pessoa, foi o único protetor e defensor dos judeus durante
os terrores do Tribunal do Santo Ofício que durante três séculos ameaçou e
perseguiu com atrocidade os judeus conversos ao catolicismo que viviam no
Brasil.
Em seu livro,
“Os Judeus que Construíram o Brasil”, ela relata os horrores pelos quais
passaram os cristãos-novos que abandonaram a Europa em busca de um lugar mais seguro
para tentar nova e mais tranquila vida.
País algum
parou para verificar o sofrimento destes judeus conversos, nenhuma voz, nenhum homem de bem ou de religião ou filósofo: ninguém, dentre tantos, se compadeceu, ou a eles se juntou para clamar contra tanta iniquidade. Os intelectuais
da Renascença apoiaram os Reis Católicos quando da expulsão dos judeus da
Espanha.
“A única voz que se ouviu em defesa dos
judeus, igualando-os aos mais nobres e santos e louvando seu caráter,
honestidade e nobreza de alma, foi um homem da Igreja, um jesuíta: o Padre
Antônio Vieira, que, indignado com os horrores que eram infligidos aos
cristãos-novos, dirigiu-se especialmente ao Papa, aos mais influentes homens do
poder, ao rei. Mas de nada adiantou."
(A.Novinski, Capítulo 3 – Quem
defendeu os judeus? Pg. 245)
Esta foi, pois,
a primeira estátua erigida em Lisboa ao orador e filósofo cristão do século
XVII, que durante dois anos foi escrivão da inquisição, contra ela rebelou-se,
contestou, por ela foi acusado de heresia, encarcerado e posteriormente por ela
foi absolvido.
Durante a cerimônia
da inauguração da estátua, Pedro
Santana Lopes falou em “homenagem justa” e, na minha opinião, um
tanto tardia, mas que combina bem com as ideias do grande orador: “Para falar
ao vento, bastam palavras, mas para falar ao coração são precisas obras."
Antonio
Vieira nasceu em Portugal em 1608 e viajou para o Brasil acompanhando seus pais, aos 6 anos de idade. Sempre gostou
de estudar, e aos 17 anos já era fluente em latim. Estudou matemática, lógica,
metafísica e foi professor de retórica.
Estudou no
Colégio dos Jesuítas em Salvador e aos
15 anos descobriu sua vocação religiosa, entrando assim para a Companhia de
Jesus.
Em sua
trajetória de religioso e de homem das letras, Vieira escreveu inúmeras cartas
e mais de 200 sermões, todos famosos pelo vigor de sua eloquência, visão da história, clareza de idéias e talento
de oratória.
“Antônio Vieira
(1608-1697)
Lutou contra a escravidão dos índios, numa época em que era
normal ter escravos.
Defendeu a liberdade religiosa, num tempo em que os suspeitos de
heresia eram condenados pela inquisição.
Entrou para a Companhia de Jesus e ainda noviço foi indicado
para redigir a carta com os relatos das atividades dos jesuítas, enviada anualmente
a seus superiores em Lisboa.
Antônio Vieira nasceu em
Lisboa, na Rua do Cônego, próximo a Sé, no dia 6 de fevereiro de 1608.
Filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Seu
pai era escrivão da inquisição e foi nomeado para o cargo de escrivão em
Salvador e só em 1614 sua família veio para o Brasil.
Antônio Vieira, de noviço passou a estudante de teologia.
Em 1633 começou suas pregações, visitando as aldeias indígenas,
próximas da cidade.
No ano seguinte se ordena sacerdote e em 1638, passou a dar
aulas de teologia.
Como pregador em cima de
um púlpito, sua fama se espalhou. Defende a colônia, se rebela contra a
escravidão e clama pela expulsão dos holandeses em Pernambuco.
Em 1640, em
Portugal, D João IV sobe ao trono, restaurando a monarquia,
depois de sessenta anos de subordinação ao trono espanhol. Em fevereiro de
1641, Antônio Vieira parte para Lisboa. Em 1642 seus sermões já haviam
conquistado o rei e a rainha D. Luísa.
Torna-se o guardião da Coroa.
Em seus sermões, procura apoio para o rei diante de uma reunião
com os representantes do povo, a nobreza e o clero, onde se votariam os
tributos para a continuação da guerra com a Espanha.
Inicia-se em Portugal nessa época uma disputa entre jesuítas e
dominicanos. Os jesuítas propagavam a fé através da catequese, enquanto os
dominicanos se propunham a defendê-la organizando os tribunais da Inquisição.
Antônio Vieira propõe
anistia aos judeus e a volta deles para Portugal, uma vez que a maioria era
comerciante e seria de grande valor para o reino. Sugere a criação de
companhias mercantis, uma Oriental e outra Ocidental.
Antônio Vieira foi nomeado embaixador para negociar a paz com a
Holanda, que recusava todas as propostas para retirar-se de Pernambuco.
Viaja para Paris e em seguida para Holanda.
De volta ao Brasil, segue para o Maranhão com o objetivo de
libertar os índios injustamente cativos. Em 1661 foi expulso do Maranhão, pelos
senhores de escravos que não aceitavam suas ideias.
Voltou para Lisboa onde foi preso pela inquisição, que o acusou
de heresia. Anistiado em 1669, viajou para Roma, quando foi absolvido pelo Papa
em 1675.
Padre Antônio Vieira abandonou definitivamente a Corte e voltou
para Bahia, onde entre os anos de 1681 e 1694 dedicou-se a ordenar seus sermões
para transformá-los em livros. Doente e quase cego, fez suas últimas pregações.
Antônio Vieira deixou mais de 200 sermões e 700 cartas.
Padre Antônio Vieira morreu em Salvador, Bahia ,
no dia 17 de junho de 1697.”
Obras de Antônio Vieira
Sermão da Sexagenária
Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Sermão do Mandato
Sermão de São Pedro
Sermão de São Roque
Sermão de Santa Teresa
Sermão de Todos os Santos
Sermão do Espírito Santo
Sermão de Nossa Senhora do Rosário
Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra a Holanda
Cartas
Arte de Furtar
Quinto Império
História do Futuro
Esperanças de Portugal
Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Sermão do Mandato
Sermão de São Pedro
Sermão de São Roque
Sermão de Santa Teresa
Sermão de Todos os Santos
Sermão do Espírito Santo
Sermão de Nossa Senhora do Rosário
Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra a Holanda
Cartas
Arte de Furtar
Quinto Império
História do Futuro
Esperanças de Portugal
Veja também
“A qualidade lógica e
a força dos
princípios que as nove frases abaixo apresentam dão uma
pequena ideia do poder que Padre Antonio Vieira deve ter exercido em sua época,
influenciando políticos e até o Papa. Além disso, foi grande defensor de índios
e judeus, e também se envolveu com escritos proféticos, no inconcluso Clavis
prophetarum, que viria a ser publicado em parte no livro “História do Futuro”
(1718).”
CITAÇÕES E PENSAMENTOS DE PADRE
ANTONIO VIEIRA [TRECHOS]
“Pelo que
fizeram se hão de condenar muitos. Pelo que não fizeram, todos”. (Sermões, “Julgamento”)
“De um erro
nascem muitos, e sobre fundamento tão errado nunca houve edifício certo”. (Documentos, “Erro”)
“Tudo aquilo
que se faz para os olhos dos homens, ainda que se faça, não se faz”. (Sermões, “Exibicionismo”).
“Mal é dizer
mal, mas depois de o haverdes dito, dizerdes ainda que dizeis bem, é um mal
maior sobre outro mal, porque é estar obstinado nele.” (Sermões, “Mal”)
“A razão por
que não achamos o descanso é porque procuramos onde ele não está” (Sermões, “Descanso”).
“Bons
exteriores com mau interior são hipocrisias”. (Sermões, “Hipocrisia”)
“Humildade
essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição
e da própria miséria”. (Sermões, “Homem”).
“O avarento
chama pródigo ao liberal; o covarde temerário ao valente; o distraído hipócrita
ao modesto; e cada um condena o que não tem, por não confessar o que lhe
falta.” (História do Futuro, “Julgamento”).
“A maior
parte do que sabemos, é a menor do que ignoramos.” (“As Sete Propriedades da
Alma”)
Com o
compartilhamento de Dauro
Veras.
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os Canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
Anita
Novinsky – Os Judeus que Construíram o Brasil – Fontes inéditas para uma nova
visão da história - 2015
Revista
barroco 20 by Sergio Luz-issuu
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