Por Juliana Rehfeld
Surreal o que acontece em nossos dias.
Alguns de nós somos cativos em Gaza e não sabemos se amanhã estaremos vivos, e nem sabemos como estão nossos conterrâneos que foram sequestrados conosco. E alguns de nós que já fomos resgatamos tentamos voltar a uma vida que se possa chamar de “normal”, mesmo dando depoimentos de que, no fundo, não acreditamos mais em uma paz de fato…
Outros de nós estamos nas ruas de Israel todos os dias, sobretudo aos sábados, protestando para que nossos queridos que foram levados em 7 de outubro sejam devolvidos, e para que isso aconteça que se faça um cessar fogo já! E continuamos executando tarefas extras, cobrindo para que nossos soldados possam estar no front, cumprindo a missão que juraram, arriscando suas vidas para tentar resgatar os reféns e eliminar o inimigo.
Outros de nós estamos diariamente cumprindo as mitzvot no formato como aprendemos desde pequenos que deveríamos e achamos que se assim não fizermos, Deus derrubará o céu sobre nós. E rezamos para que não sobreviva Hamas em Gaza, ou no mundo, e para que nosso governo continue a nos proteger. E, alguns poucos, invadimos centros de recrutamento do exército para protestar contra alistamento.
Mas especialmente esta semana, ou estas duas semanas, alguns poucos de nós estamos dando o máximo para superar nosso desempenho naquela modalidade para que vimos treinando exaustivamente em preparação para este exato momento: as Olimpíadas em Paris. E somos os que mais sucesso estamos tendo, trazendo mais orgulho e resultados ao país do que todos os outros acima.
E “somos” todos Israel!
E nós, que não moramos em Israel, não somos cidadãos mas torcemos pelo minúsculo país que nos dá referência, acompanhamos tudo isso por relatos, depoimentos, entrevistas, TV. E fazemos nossa parte! Fazemos?
Este é o melhor resultado em décadas de Israel nos Jogos Olímpicos e é maravilhoso ver o nome, a bandeira e o hino na tela que vai para o mundo inteiro, associados a boas notícias e bonitas imagens!
Surreal! Ou, “multi-real”, realidades simultâneas, paralelas, coincidentes no tempo, emoções contraditórias, coração lotado! Nossa mente tentando aprender todas as facetas desta “surrealidade”.
Nós, humanos, fomos feitos para isso! Nós, judeus, que escolhemos ser judeus e é por isso que “somos escolhidos”, temos papéis diferentes, particulares e respectivas formas de manter nossa aliança com Deus, individual e coletivamente.
Lemos nesta semana a Parashá Devarim, a primeira do quinto e último livro da Torá. "Devarim", entre vários significados, "Palavras". E assim se chama porque se inicia com as palavras que Moisés traz ao povo para lembrar e reexplicar muitas mitzvot , criticar muitas infrações, contar sobre impressões trazidas sobre a Terra Prometida e, por fim, homenagear Josué. Moisés sabe que não entrará lá, e fala para a próxima geração. Fala de passado, de aliança e leis, para o povo futuro. Povo presente que entrará no futuro. E fala da responsabilidade individual e coletiva.
É daí que vem nosso legado, que recebemos e que passamos para frente, de que cada geração deve viver à altura da aliança feita, do compromisso assumido, repetindo, individual e coletivamente. Cada um cuida do outro, cada um faz sua parte, porque é na soma, na combinação das partes que se forma a significativa imagem.
A surreal imagem. A imagem que está entre os fatos e os sonhos, os sonhos que a cada momento tentamos tornar reais, converter em fatos.
Esta semana há muitas bonitas imagens que nos ajudam enquanto convivemos com as muitas outras feias e difíceis, nos ajudam a continuar sonhando.
Shabat Shalom!
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