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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

ACONTECE: A VIDA, NOSSO BEM MAIOR - Paris, Olimpo, Majdal Shams, Israel

por Regina P. Markus 


TODAS AS ROTINAS SÃO ROMPIDAS - e esta semana ia dedicar-me às Olimpíadas mas os fatos do dia a dia, fatos completamente fora da rotina, transformaram a última semana de julho em uma síntese do passado e uma incógnita do futuro. Atentado em Campo de Futebol em Aldeia Druza. Atentado originado pelo H4m4s direcionado à aldeia localizada em Israel! E a eliminação de dois proeminentes dirigentes das entidades que atendem ao Irã em ações de alta precisão em Beirute e Teerã. Acompanhem o texto e muitos dos links para informação no nosso Blogger. Boa Leitura!

Os acontecimentos tornaram cada dia um ponto especial, um momento de tensão e reflexão. Israel vem sendo atacado diariamente, no norte, no sul e até em Tel Aviv. Nesta semana uma aldeia druza foi brutalmente atacada. De forma pontual, com um foguete dirigido de forma precisa. 12 mini-futebolistas de 12 a 16 anos que estavam sentados à beira do campo de futebol foram mortos e muitos outros feridos. O projétil partiu do Líbano, de área dominada pelo Hezbollah. E na sequência foram mortos dois importantes líderes árabes. Em Beirute foi morto o chefe do Hezbollah, Fuad Shukr, e horas depois o dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã.

Olimpíadas de Paris

Na sexta-feira, dia 26 de julho, o mundo apreciou a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris. Abertura especial, fora de um Estadio Olímpico. Abertura em um desfile de barcos no Rio Sena. É tradicional que as aberturas sejam acompanhadas de um show pictórico. Imagens geradas pelas tecnologias mais modernas encantam espectadores do mundo inteiro. 

Este ano ao invés de entrada em um Estádio Olímpico, a abertura foi feita no Rio Sena. As imagens estonteantes que costumam iluminar a abertura olímpica foram substituídas pela cidade de Paris. A CIDADE LUZ. Cenários iconográficos que trazem mil memórias e desejos. Mas muitas das emissoras brasileiras e principalmente a de mais audiência focou em um barco com a bandeira de Israel sem participantes! Segundo os locutores, foram escondidos por medo de repetir o que ocorreu em 1972 (o massacre dos atletas israelenses que participavam das Olimpíadas). Olhando fotos encaminhadas por pessoas que estavam em Paris a imagem era outra... elas colocavam ON LINE e mostravam como a pequena delegação era aplaudida por um grupo que portava a bandeira israelense nas arquibancadas - e como era vaiada por pessoas que se identificavam com os grupos xyz H4mm4s, H3zb0l4h, H09t1s, etc. E a abertura seguia muito linda! O primeiro barco era o grego - afinal foi lá que nasceram as Olimpíadas - e o último era a seleção anfitriã. O final do desfile foi no Jardim do Trocadero que fica na margem direita do Rio Sena, do lado oposto da Torre Eiffel. Olhando a partir do Jardim, a célebre torre domina a paisagem! Sonhar é preciso! 

Bandeira azul e branca ao vento, na terra em que o judaísmo apresentado pela Torá e Talmud e vivido por milênios foi formalmente transformado em um religião. Por que? Napoleão em 1799 publicou um decreto proclamando a igualdade dos judeus na França. O decreto conhecido como "Decreto da Cidadania Judaica" estabeleceu a igualdade dos judeus franceses perante a lei e marcou um avanço importante no reconhecimento dos direitos civis. E, durante a semana, muitos episódios aconteceram.

Mas de repente a minha atenção foi tragada para o outro lado da VIDA - um objeto mortífero caiu em um campo de futebol na cidade de Majdal Shams nas Colinas de Golã, em Israel. Crianças que estavam realizando atividades na beira do campo foram atingidas. Começa o já conhecido ataque a Israel, os argumentos para culpar Israel por atacar seu próprio território são bizarros, mas muito aceitos por boa parte da população brasileira, que traz em seu legado histórico uma repulsa aos judeus. Esta repulsa recentemente se torna tão visível, que muitas vezes perguntam a judeus brasileiros imigrados da Europa, Países Árabes e África porque deixaram Israel. Ultimamente respondo: porque os romanos destruíram o país e o Templo de Jerusalém, levaram todos como escravos e criaram a Palestina. 

Majdal Shams é uma pequena cidade drusa estabelecida em 1595 pelo comandante Fakr-al-Din II, que foi incorporada a Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967. Segundo a Wikipédia há uma segunda versão, segundo a qual famílias drusas chegaram ao sopé do Monte Hermon no início do século 18. Esta versão foi publicada no Journal of the Institute of Muslim Minority Affairs 13.1 (1992):126 e não é de livre acesso. 

Para entendermos os dias de hoje, parei um pouco com meus olhares imediatos e fui atrás dos drusos. Sei que já publicamos algumas coisas, e até tenho um conhecido profissional que é de origem drusa, mas nada como refrescar a memória usando textos embasados em fatos: um artigo publicado no Scientific Research por Scarlett Marshal e colaboradores (2016). O trabalho compara biomarcadores genéticos presentes na atual população drusa com os resgatados de populações muito mais antigas. Os resultados apontam para uma ascêndencia armênia-turca. Os drusos formam um povo pequeno, que se caracteriza por manter sua identidade gênica através de casamentos dentro das comunidades. A religião drusa também é única e preservada pelos anciãos que conhecem as escrituras. Neste trabalho é citado que teve influências marcantes e reconhecíveis do islã ismaílico, judaísmo, zoroastrismo, hiduísmo, neo-platonismo e persa. 

No contexto do judaísmo é sempre preciso lembrar que o maior PROFETA DRUSO, ITRÓ, é o sogro de Moisés e sua história é contada na Torá. Para aumentar ainda mais o entrosamento, na parashá que leva o seu nome é citado que HaShem se dirige diretamente a Itró e que é ele que aconselha Moisés a criar a Assembléia do Anciãos, também chamada de Assembléia dos Sábios - a Knesset. Interessante que o mesmo tipo de Assembléia existe na organização drusa.

Há muito mais a citar sobre este povo que hoje integra o tecido da população israelense. Os drusos atualmente servem o exército de Israel e têm seus direitos históricos e religiosos respeitados, assim como todas as minorias israelenses. Têm representantes no parlamento (Knesset) e juízes, médicos, engenheiros e cientistas drusos atuam por todo o país como cidadãos israelenses. Em tempos de paz, os drusos tinham uma forma facilitada de cruzar a fronteira com o Líbano e a Síria para manter relações de parentesco e integridade do povo. 

Após o habitual disse que disse e ataques a Israel, a verdade começa a aflorar. No domingo, dia 28 de julho, foi realizado o enterro de 11 crianças. Até o momento o total de mortes relatadas são 14. Há feridos em estado grave e feridos em estado leve.

A foto abaixo ilustra o antes e o depois .... E o texto a seguir foi divulgado pelas autoridades drusas.


IN MEMORIAN ☪️Em nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso

(E dê boas novas ao paciente que, quando o desastre os atinge, diz: "De fato, pertencemos a Alá, e de fato a Ele retornaremos)

Com grande tristeza e pesar, e com total aceitação e submissão à Sua vontade, Majdal Shams lamenta um grupo de suas melhores crianças e jovens.

Mártires e vítimas do bombardeio que teve como alvo Majdal Shams (o campo de futebol da cidade) no sábado, 27/07/24.

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E A SEMANA CONTINUA...

Nesta semana foram mortos dois líderes dos movimentos que negam o direito do Povo Judeu de existir e que apregoam que o objetivo final é a eliminação do Estado de Israel. Fuad Shukr (H3zb0l4h) em Dahieh, Beirute e Ismail Haniyeh (H4m4s) em Teerã. As reações ao redor do mundo estão em plena evolução. 

Ações foram pontuais, visando específicamente os dois responsáveis por mais diversos ataques a Israel e a judeus ao redor do mundo. Em Beirute um projétil atingiu exatamente o local de moradia em que estava Fuad Shukr e em Teerã um objeto explosivo foi emparedado no local onde estaria hospedado Isamil Haniyeh e foi detonado de longa distância quando se constatou que estava no local.
    Paro e olho para a parashá da semana, Matot. A última parashá do livro Bamidbar, Números. Aí está o último relato sobre os hebreus que saíram do Egito, guiados por Moshé e que vagaram durante 40 anos no deserto. Chegaram à margem oriental do Rio Jordão. Quem se aventurar no texto original verá grande semelhança com os dias de hoje. As diferenças entre as tribos de Israel afloram, regras de conduta são colocadas e a apreciação dos diferentes níveis de relacionamento, com o próprio eu, com a família, com o povo e com a humanidade são distinguidos. Muitos comentários de sábios ao longo da história esmiuçam estas incongruências, e chamam a atenção que a vida no aqui e agora tem que ser temperada com a vida ao longo do tempo. A dança com sujeitos de muitas gerações aponta atalhos e caminhos. "Le Dór vá Dór" - de geração em geração. No final deste post você pode ler a opinião da jornalista portuguesa Helena Ferro Gouveia publicado no X.  

Fincando o pé no HOJE - dia 1 de Agosto de 2024 - 26 de Tamuz de 5784

300 dias

 

Hoje completam 300 dias que os reféns levados para Gaza no dia 7 de outubro estão em cativeiro. Não sabemos quantos estão vivos, mas sabemos que a volta de todos para Israel é uma questão essencial para o mundo! Acredita-se que 111 dos 251 reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 permanecem em Gaza, muitos deles presumilvemente estariam mortos (AFP).

Hoje a AFP divulgou mensagem do Presidente da França, Emanuel Macron. “Nossos pensamentos estão com os reféns mantidos por 300 dias pelo Hamas. A França continua trabalhando para sua libertação”, escreve Macron no X, em inglês e francês.

Mundo Judaico ON LINE
O presidente Isaac Herzog convoca os líderes mundiais a trabalharem para libertar os reféns enquanto Israel marca 300 dias desde o devastador ataque de 7 de outubro.

“Por 300 dias, nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, mães e pais, avós, têm definhado nas masmorras do Hamas em Gaza”, ele escreve.

“Cada segundo de cada minuto de cada hora desses 300 dias é um crime contra a humanidade. E a cada segundo que passa, a necessidade de trazê-los para casa se torna mais e mais urgente”, ele escreve. “A todos os líderes do mundo que desejam a paz em nossa região, eu digo claramente: ajudem-nos a trazer nossos reféns para casa — todos eles, jovens e velhos, homens e mulheres, judeus, muçulmanos e mais. Ajudem-nos a trazê-los para casa agora.” (Presidente Herzog).


Esperança, esperançar - HATIKVA 

Que as próximas semanas possam acontecer com mais leveza!

Regina P. Markus




Helena Ferro de Gouveia é uma analista protuguesa focada em Assuntos Internacionais e é  Consultora e Auditora de Defesa Nacional. Nasceu em Bissau e cresceu em Lisboa, tendo trabalhado por duas décadas como correspondente na Alemanha ( CNN Portugal).

Texto escrito em português de Portugal

E agora? 

Helena Ferro Gouveia

1. Os assassinatos selectivos em Beirute e Teerão podem ser lidos como dissuasão. Porquê? Em primeiro lugar porque mostram que Israel continua a ter um dos dos senão o melhor serviço de intelligence do mundo, em segundo porque tem a capacidade de efectuar este tipo de ataques com precisão. 

2. O Irão sabe agora que não há lugar seguro. Demore o que demorar, seja onde for.

3. Haverá uma resposta iraniana até porque Teerão foi humilhado em casa logo após a tomada de posse do presidente “moderado” ( não o é de todo, mas isso é assunto para outro post). Todavia Teerão sabe que Israel tem aliados externos e sobretudo sabe que Israel tem aliados internos no Irão: aqueles que querem acabar com a teocracia ( os iranianos seculares são amigos de Israel, conheço imensos ). Tenho dúvidas que uma grande “escalada” aconteça, importa lembrar os distraídos que  quem escalou foi o Irão e os seus proxys a 7.10. Nunca o esquecer. 

4. É um asneira sobejamente repetida que o “negociador” tenha sido morto. Quem conhece a biografia de Hanyieh sabe que ele é tudo menos um moderado ou um negociador. Quisesse o Hamas negociar ou estivesse preocupado com Gaza e o sofrimento dos palestinianos há muito que o teria feito. O lema do Hamas é “quanto pior para Israel ( com a ajuda dos idiotas úteis ocidentais ) melhor para o Hamas”.  A prazo veremos  a neutralização de Sinwar, que não haja dúvidas. 

5. Os ataques eram do conhecimento de Washington. Reitero o que aqui tenho dito: até se pode sentar o rato Mickey na Casa Branca que Israel será sempre um dos principais aliados dos EUA. 

6. Internamente esta dupla neutralização coloca Israel numa posição mais confortável para aceitar algumas das posições negociais do Hamas ( nomeadamente no que toca à troca de prisioneiros) o que poderá incrementar as hipóteses de se chegar a um acordo de cessar fogo ( apesar das palavras, para fora , do PM do Qatar). 

7. A Realpolitik e a força é a linguagem que o terrorismo entende. Só quando se demonstra que não se tem medo dele, se pode vence-lo. 

(esta é a minha leitura não teórico-académica, mas político-pragmática , admito que posso estar errada).


 

Um comentário:

  1. VIVIAN HAMERMESZ SCHLESINGER2 de agosto de 2024 às 12:44

    Excelente texto de Helena Ferro Gouveia. Factual, conciso e coerente. Obrigada!

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